segunda-feira, 18 de junho de 2018

Opinião: The Call - A Invasão (#2)

Título Original: The Invasion (2017)
Autor: Peadar O'Guilin
Tradução: Renato Carreira
ISBN: 9789898869845
Editora: TopSeller (2018)

Sinopse:

Nessa e Anto foram dos poucos jovens que conseguiram sair vivos da Terra Cinzenta. Agora, longe da crueldade dos Sídhe, sonham com um futuro feliz a dois.
Mas um inesperado ataque à escola dá início a uma caça às bruxas. As autoridades não acreditam ser possível sobreviver ao Chamamento e, alegando que os sobreviventes fizeram um pacto com o inimigo, rotulam-nos de traidores. Como punição, Nessa é
reenviada para a Terra Cinzenta naquela que parece ser uma viagem sem retorno.
Entretanto, os bárbaros Sídhe dão início a um ataque mortal, com um exército de horror nunca antes visto. Numa autêntica luta contra o tempo, Anto e os últimos alunos da sua escola enfrentam um inimigo sedento de sangue, procurando uma forma de defender o país e de salvar a vida de todos.

Opinião:

Depois de ter lido The Call, acreditei estar preparada para uma continuação igualmente brutal e repleta de adrenalidade nesta sequela. Ainda assim, The Call - A Invasão conseguiu surpreender e deixar-me arrepiada. Peadar O'Guilin prova que o mundo que criou tem um grande potencial e merece continuar a ser explorado. Ao mesmo tempo, trabalha a evolução das personagens que já conhecemos e faz o leitor pensar em como nem tudo é "preto e branco", apesar de muitas vezes assim parecer.

Com o encerrar do primeiro volume, acreditámos que o pior tinha passado para Nessa e Anto. Contudo, o autor decidiu não largar estas personagens e mostrou-nos que não é simples ultrapassar eventos traumáticos nem retomar uma vida normal depois disso. Ao início sentimos as esperanças comedidas destas personagens e desejamos que conquistem rapidamente a paz que tanto desejam. Contudo, cedo surgem novos desafios que colocam tudo em causa: o futuro, a confiança, as relações, a humanidade.

A história é feita em capítulos intercalados, sendo possível desta forma perceber o que está a acontecer a Nessa e a Anto. Através dos pontos de vista destas duas personagens temos acesso a diferentes pontos desta guerra contra os Sídhe. De um lado o sofrimento humano, os campos devastados, a destruição de cidades, as perdas e os soldados sem esperança de saírem deste conflito com vida. Do outro temos os traidores, a desconfiança, o maior conhecimento dos Sídhe, o desejo crescente de vingança, a tortura. É normal que um destes pontos de vista seja mais atrativo, sendo que, no meu caso, Nessa foi a personagem que mais gostei de acompanhar.

Nessa mantém aquele determinação e coragem silenciosa que impressiona. Sabemos quais são as suas limitações físicas, mas é impressionante perceber como isso não quebra o seu espírito forte nem a faz desistir em momento algo. Um figura feminina pouco exuberante mas que marca. Por seu lado, Anto não conseguiu agradar-me tanto. Percebo que ele está a lidar com o que lhe aconteceu na Terra Cinzenta, com a deformidade e com a perda e falta de confiança, mas o seu espírito pareceu-me mais fraco, influenciável e pouco cativante. Gostaria que ele tivesse surgido com maior força e impacto.

Achei curioso que, apesar de estarmos a falar de uma força invasora e impiedosa, o autor consegue levar-nos a entender os motivos dos Sídhe. Não que seja possível desculpar os atos deste povo, mas é interessante que tudo tem como base a vingança destes seres aos humanos por os terem expulsado das suas terras. Assim, percebe-se que o que os Sídhe estão agora a fazer já lhes foi feito. Cabe à consciência de cada um refletir se isso é justificação plausível. Além disso, faz-nos pensar sobre quão perigosa é a vingança.

Os momentos que mais gostei de ler estavam sempre relacionados diretamente com os Sídhe e a Terra Cinzenta. As descrições eram impressionantes e provavam a capacidade imaginativa incrível do autor. Consegui sentir o terror provocado nestes ambientes hostis e o desespero da fuga e da perseguição. Estas passagens contrastavam com vividas no mundo humano, uma vez que por vezes pareciam carecer de algo mais atrativo ou forte para se tornarem igualmente marcantes.

The Call - A Invasão é uma conclusão bem conseguida. Peadar O'Guilin volta a reunir os ingredientes apresentados no primeiro volume, e ainda assim consegue mostrar que ainda tem alguns truques na manga. O desfecho escolhido é o mais adequado a esta obra: agridoce, brutal e com toques de esperança e compaixão. Não consigo dizer qual dos dois livros desta saga prefiro, mas garanto que se completam muito bem.

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