sexta-feira, 30 de junho de 2017

Opinião: The Call

Título Original: The Call (2016)
Autor: Peadar O'Guilin
Tradução: Renato Carreira
ISBN: 9789898869081
Editora: TopSeller (2017)

Sinopse:

Três minutos
Uma trombeta soa à distância. Foste Chamado. Agora, à tua volta, só vês cinzento. Este novo mundo não tem cor e sabes que vais começar uma corrida contra o tempo. Tens apenas três minutos para te agarrares à vida.

Dois minutos
Os Sídhe estão cada vez mais perto. Consegues ouvir as vozes deles, as gargalhadas sedentas de sangue e o som dos seus passos. Achas que estás preparado. Sabes tudo sobre eles. Sabes exatamente o que fazem aos jovens como tu, quando os conseguem apanhar. São tão belos como terríveis, tão simpáticos como cruéis. Já te viram. Resta-te fugir.

Um minuto
Se não correres, se não te esconderes, podes desaparecer a qualquer minuto e ficar, para sempre, nesta terra de horrores. A caçada já começou e tu és a presa.

Conseguirás sobreviver?

Opinião:

Nada fazia esperar a intensidade e brutalidade da história de The Call. Este livro de Peadar O'Guilin agarra o leitor desde a primeira página e depois surpreende-o com descrições que parecem saídas de sonhos distorcidos, uma vez que tanto conseguem criar fascínio como horror. Inspirado na mitologia irlandesa, o autor apresenta uma obra original e que aborda temas que conseguem, facilmente, ser transportados para a nossa realidade.

É curioso pensar que o autor fala em sobreviência e, ao mesmo tempo, escolhe como protagonista uma personagem que tem uma incapacidade física. Nessa está determinada a provar que nada a limita e isso é admirável. Ela mostra-nos que o esforço e trabalho árduo traz recompensas e que há mais em ganhar quando se luta pelo que se deseja do que quando se lamenta as circunstâncias. Ela é uma jovem que transparece frieza, apesar de ter fogo dentro dela.

Na construção de personagens secundárias, o autor teve o cuidado de representar vários espectros da humanidade. Apreciei um contraste entre a bondade e o altruísmo com a crueldade e desejo pela dor do outro. É que, se por um lado existem figuras que desprezam esta realidade competitiva em que é preciso estar sempre em disputa com o outro para treinar as competências de sobrevivência, há outras que adoram subjugar os mais fracos de forma a garantir poder e prazer pessoal. Mais para a frente na leitura, a decisão de algumas personagens consegue chocar e fazer pensar sobre os limites da humanidade.

Este mundo, que parece encontrar-se num futuro não muito distante, faz pensar sobre o respeito pelo passado e o facto de as nossas acções terem sempre consequências, isto tanto a nível individual como colectivo. A forma como os Sidhe se interligam com a humanidade gera uma grande curiosidade inicial. Depois, quando encontramos estes seres fantásticos, ficamos arrepiados com o que são e com o que fazem para se vingarem. As imagens apresentadas dificilmente saem da cabeça e chocam, de tão tétricas que conseguem ser. Confesso que muitas vezes tive dificuldade de manter algumas descrições na minha mente, de tão terríveis que eram.

É ainda curioso pensar que as motivações dos Sidhe, quando explicadas, não são assim tão descabidas. Eles têm um motivo forte para odiar a humanidade, mas a forma como se vingam de ações passadas acaba por lhes retirar qualquer razão que poderia existir. Os Sidhe podem ser uma analogia para a natureza. Como tal, o autor pode estar a dar-nos um aviso sobre as consequências que podem existir se continuarmos a prejudicar e a desprezar a Terra. Eles também podem ser representação de todo o que é primitivo no Homem e em como a falha da Razão pode levar ao caos.

Esta é uma obra destina a um público jovem adulto, por isso algumas das questões que atormentam as personagens com maior relevância são típicas da adolescência. Existe a problemática amorosa, que felizmente consegue ter alguma suavidade, assim como as dúvidas relativamente aos pares e ao lugar no mundo. Mais perto do final, tudo isto consegue ficar um pouco de parte, havendo maior espaço para explicações necessárias e para reviravoltas inesperadas.

The Call foi uma boa surpresa. Trata-se de um livro que choca e que precisa de algum tempo após a leitura para que se compreenda todas as subtilezas da narrativa. É agradável perceber que esta parte da história de Nessa ficou encerrada com este volume, havendo, no entanto, espaço e oportunidade para uma sequela, algo que o autor já confirmou. Uma obra original e muito bem conseguida.

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