domingo, 25 de março de 2018

Opinião: Caraval (#1)

Título Original: Caraval (2017)
Autor: Stephanie Garber
Tradução: Maria José Figueiredo
ISBN: 9789722361675
Editora: Editorial Presença (2018)

Sinopse:

Scarlett Dragna nunca saiu da pequena ilha onde ela e a irmã, Tella, vivem sob a vigilância do seu poderoso e cruel pai. Scarlett sempre teve o desejo de assistir aos jogos anuais de Caraval. Caraval é magia, mistério, aventura. E, tanto para Scarlett como para Tella, representa uma forma de fugirem de casa do pai. Quando surge o convite para assistir aos jogos, parece que o desejo de Scarlett se torna realidade. No entanto, assim que chegam a Caraval, nada acontece como esperavam. Legend, o Mestre de Caraval, sequestra Tella, e Scarlett vê-se obrigada a entrar num perigoso jogo de amor, sonhos, meias-verdades e magia, em que nada é o que parece. Realidade ou não, ela dispõe apenas de cinco noites para decifrar todas as pistas que conduzem até à irmã, ou Tella desaparecerá para sempre...

Opinião:

Entre os sonhos mais belos e os pesadelos mais terríveis acontece Caraval. Este é um jogo que desafia a imaginação de quem se propõe jogar e de quem se atreve a pegar neste livro. Também os leitores são levados para uma aventura impressionante, onde é difícil distinguir o que é verdade do que é manipulado, onde se desconfia de todas as figuras que aparecem, onde o belo depressa se transforma em horrendo. O resultado é esta aventura de autoria de Stephanie Garber.

Quando comecei a ler Caraval, senti-me interessada na história, mas também com receio de que se revela-se um drama adolescente focado na descoberta das relações e não na aventura em si. Felizmente a autora conseguiu surpreender-me ao apresentar uma história que agarra e se vai tornando cada vez mais viciante. Scarlett e a irmã têm personalidades opostas, mas são unidas pelo amor que sentem uma pela outra e pela vontade de se protegerem mutuamente, mesmo quando tal não parece evidente. E é esta união que vai despoletar os acontecimentos emocionantes destas páginas.

Scarlett. a protagonista, é a filha mais velha, aquela que se sente responsável pela irmã a partir do momento em que deixa de haver uma figura materna em casa. Tella é a rebelde que tenta ultrapassar os limites de modo a encontrar o lugar onde se sentirá realmente feliz. As opiniões e as escolhas de ambas chocam, mas é curioso perceber que o objectivo de ambas é o mesmo. O ambiente familiar em que vivem é aterrorizante, fazendo pensar que o poder e dinheiro de uma família não significa segurança e liberdade. Perante esta opressão, Scarlett sonha apenas com segurança para ela e para a irmã... e com Caraval.

Caraval pode parecer representar a magia e inocência da infância, mas a verdade é que tal é apenas uma ideia superficial. Este jogo comandado pela figura misteriosa de Legend encerra grandes segredos e acaba por deixar vir ao de cima o melhor e pior de cada jogador. Esta competição é a prova de que cada desejo tem um preço e que existem valores superiores aos que podem ser pagos com dinheiro. Realizado à noite, altura em que as inibições caem por terra, Caraval é segredo e sedução. Mistério, encantamento, terror e desespero.

Quando chega ao jogo, Scarlett recebe uma folha com pistas, tal como qualquer outro jogador. Gostei que estas dicas não fossem evidentes, sendo que praticamente todas apenas são compreendidas no momento em que são desvendadas. O facto de haver uma dúvida constante acerca dos passos a dar e sobre as verdadeiras intenções de todas as personagens que vão aparecendo tornam a leitura mais aliciante. A nossa ideia sobre determinada situação ou ideia está sempre a ser alterada, sendo que apenas no final surgem respostas e todo o jogo é compreendido.

Tal como seria de esperar tendo em conta o género do livro, existe um romance que envolve a protagonista. Felizmente este tópico não predomina na história, pois alguns dos momentos menos envolventes da obra estão ligados a ele. Não é que não exista química entre as personagens, pois existe, mas preferia que o centro fosse mesmo a relação das irmãs e o desafio de Caraval em si. Só compreendemos quem é Julian mesmo no final, e custa aceitar que uma jovem tão reservada se tenha deixado cair de amores tão rapidamente por alguém que sabe não poder confiar devido às circunstâncias do desafio.

As descrições não são exageradas e deixam perceber bem a beleza desta ilha e de todo o que a envolve. O espaço do jogo, a fazer lembrar uma Veneza fantástica, misteriosa e mágica faz-nos desejar deambular por aquele espaço e conhecer os actores contratados para embelezar e dar vida a Caraval. A mística que envolve a competição e Legend está muito bem construída, fazendo-nos duvidar constantemente do que é real e o que é lenda.

As derradeiras páginas de Caraval são as mais fortes e fazem desejar ler o volume que se segue. É verdade que este livro pode ser lido sem ser necessário esperar a continuação para se compreender a história principal, mas existem ideias no ar que prometem que ainda há muito por onde explorar. Uma leitura que me agradou e proporcionou bons momentos. Se gostam de mistérios e de magia, também não podem perder.

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