quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Opinião: Cartas de Profecia (Os Outros #5)

Título Original: Etched in Bone (2017)
Autor:  Anne Bishop
Tradução: Luís Santos
ISBN: 9789897730863
Editora: Edições Saída de Emergência (2017)

Sinopse:

Depois de uma insurreição humana ter sido brutalmente abortada pelos Anciãos – uma forma primitiva e letal de Os Outros –, as poucas cidades que os humanos controlam estão dispersas. Os seus habitantes conhecem apenas o medo e a escuridão da terra de ninguém.
À medida que algumas dessas comunidades lutam para se reconstruir, Simon Wolfgard, o líder lobo metamorfo, e Meg Corbyn, a profetisa de sangue, trabalham com os humanos para manter a frágil paz. Mas todos os seus esforços são ameaçados quando uma misteriosa figura humana aparece.
Com os humanos desconfiados em relação a um dos seus, a tensão aumenta, atraindo a atenção dos Anciãos, curiosos sobre o efeito que este predador terá na matilha. Mas Meg já conhece o perigo, pois viu nas cartas de profecia como tudo terminará: com ela ao lado de uma campa.

Opinião:

É sempre com um misto de alegria e tristeza que chego ao fim de uma saga que tanto me cativou. Cartas de Profecia é a despedida de Meg, Simon e todas as outras personagens com quem criei ligações ao longo de cinco livros. Por um lado é bom finalmente saber que destino estava reservado a cada uma destas figuras, por outro tenho pena de não viver novas aventuras ao lado delas. Foi então com algumas expectativas que iniciei esta leitura, curiosa para saber o que Anne Bishop tinha guardado para o grande final.

O Pátio está em fase de adaptação, a pensar num futuro em que Outros e Humanos tenham um contacto mais próximo. Como tal, assistimos a várias discussões sobre o que pode ser alterado de forma a haver harmonia, o que não é cansativo graças aos elementos cómicos que são sempre inseridos e acabam por aliviar assuntos mais pesados ou potencialmente maçadores. E afinal, há muito mais a acontecer, o que prende o interesse e proporciona uma leitura rápida.

Meg está a lidar cada vez melhor com o seu dom de cassandra de sangue, mas a suspeita de um perigo iminente não a deixa alcançar a tão desejada estabilidade. Nota-se um sério crescimento desta personagem desde o primeiro volume, que passou de uma jovem fraca e amedrontada para uma mulher forte, doce e que vê bondade nos seres que podem causar maiores suspeitas. Mas ela não é a única a apresentar mudanças. Também Simon conseguiu refrear-se, explorando um lado que acreditava não ter e aceitando desafios inesperados. Juntos, eles alteram quem os rodeia e isso provoca alterações na comunidade.

Ao longo dos livros foi ainda possível assistir ao desenvolvimento da relação de Meg e Simon, e também esta questão é resolvida. Recordo que, quando esteve em Portugal em Outubro por ocasião do Festival Bang!, a autora disse que esta relação nunca seria simples, pois tratam-se de duas pessoas de natureza diferente. Estava então ainda mais curiosa para saber que solução tinha sido encontrada e fiquei muito satisfeita com este desfecho. Tratam-se de duas personagens que conseguiram criar uma ligação genuína e pura, o que é sempre inspirador.

Achei curioso que, enquanto em livros anteriores vimos crescer a ameaça de uma organização de humanos que queria sobrepor-se ao Outros, desta vez a grande ameaça estava centrada numa pessoa. Esta parece ter sido a forma de a autora nos dar a entender que o ódio e a maldade de apenas um individuo é capaz de causar grandes desastres no seio de uma comunidade. Sim, o grande perigo já foi desmantelado, mas é preciso ter em atenção as pessoas que não conseguem respeitar a diferença, mesmo que não pareçam capazes de grande mal.

O envolvimento dos Anciãos faz sentir um grande respeito, temor e curiosidade. Estas criaturas conseguem marcar presença, mesmo quando parecem não estar a agir, e isso sente-se no ambiente que fica instalado entre as outras personagens. Os Anciãos estão ligados à natureza, ao que há de mais primordial. Já Jimmy faz temer e sentir ódio por representar o que de pior há na humanidade. Oportunista, interesseiro, egocêntrico, insensível e frio, ele é o grande perigo, mostrando que o mal muitas vezes pode ser encontrado no lado menos esperado. Apesar de detestar a personagem devido ao que ela representa, gostei dos seus capítulos por fazerem mexer o resto da trama.

Adorei a conclusão que Anne Bishop deu a esta saga. São muitos os assuntos que são resolvidos, mas também muitos os que ainda precisam de resolução. A autora prova que a mudança é lenta, mas acontece quando há vontade para tal. Por isso, Humanos e Outros ainda terão de descobrir novos métodos para  conviverem em harmonia, mas tudo indica que serão capazes. Além disso, já se sabe que a autora se despede do Pátio e personagens inerentes mas não deste universo. Em Março de 2018 vai sair nos EUA Lake Silence, o primeiro livro de uma nova série passada no mesmo mundo, mas noutro local e com novas personagens. Quer isto dizer que ainda há muito para explorar e que podemos ainda ler referências a Meg, Simon e companhia.

Cartas da Profecia é uma despedida agridoce. Custa dizer adeus a estas personagens, mas sabe bem saber qual foi o destino que Anne Bishop lhes deu. Uma boa conclusão para uma saga que proporcionou grandes momentos de leitura e que fez sonhar com um mundo semelhante ao nosso, onde metamorfos, vampiros e muitos outros seres coexistem com a humanidade e a fazem recordar da importância do respeito para com o mundo e para com formas de vida diferentes.

Outras opiniões a livros de Anne Bishop:
A Voz
Os Pilares do Mundo (Trilogia dos Pilares do Mundo #1)
Luz e Sombras (Trilogia dos Pilares do Mundo #2)
A Casa de Gaian (Trilogia dos Pilares do Mundo #3)
Ponte de Sonhos (Efémera #3) 
Letras Escarlates (Os Outros #1)
Bando de Corvos (Os Outros #2)
Visão de Prata (Os Outros #3)
Marcado na Pele (Os Outros #4)

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