quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Opinião: O Castelo de Vidro

Título Original: The Glass Castle (2005)
Autor: Jeannette Walls
ISBN: 9789896652456
Editora: Suma de Letras (2017)

Sinopse:

"O Castelo de Vidro" é a história extraordinária de uma família profundamente disfuncional e tremendamente vibrante.
São uma família nómada. Vivem aqui e ali e sobrevivem como podem.
É uma história cheia de amor de uma família que se ama, mas que também se abandona, que é leal e dececionante ao mesmo tempo.
É uma daquelas leituras que nos mudam para sempre.

Opinião:

Quando este livro me chegou às mãos, não sabia bem o que esperar dele. É curioso pensar que nunca tinha ouvido falar desta obra que já venceu prémios e tem até uma adaptação cinematográfica recente com atores de renome. Abri então a primeira página só para ter uma ideia do que vinha aí. Depois, não consegui mais parar e devorei a história até ao final. Senti-me maravilhada, incomodada, chocada, intrigada, rendida.

O Castelo de Vidro apresenta uma história real. A autora faz a biografia da sua infância e dos primeiros anos de juventude, mas a sua escrita não é emocional mas sim direta e até um pouco crua, apesar de romanceada. Em certos momentos cheguei a encarar tudo como se se tratasse de ficção, mas era então que se dava um acontecimento mais marcante e eu tinha de ir à primeira página, onde está a fotografia dos pais da autora, ou à aba para olhar para o rosto da autora. Depois, ficava a imaginar como era possível aquilo ter acontecido àquelas pessoas. Como foi possível a Jeannette Walls e aos seus irmãos conseguirem sair daquela vida degradante. Como é possível que existam pessoas a passar pelo mesmo. Como tudo foi e é possível.

Jeannette Walls e os irmãos tiveram um vida nómada, acompanhando os pais nas suas "aventuras". Como tal, tiveram dificuldade em dar signficado à palavra lar, nunca frequentaram a escola de uma forma regular, não conseguiam estabelecer grandes amizades, não tinham posses. Mas tinham sim uma união forte e zelavam pela proteção e segurança uns dos outros. Ainda assim, tal não os impediu de passarem por experiências que nenhuma criança deveria ter. Jeannette denuncia negligência parental, abusos, miséria, fome, falta de higiene, entre outras tantas falhas que ela e os irmãos encontraram no seu crescimento.

Foi duro ler certas passagens. Foi duro ver uma criança de três anos a sofrer queimaduras, ir para um hospital e ver os pais a desdenharem do trabalho dos profissionais de saúde. Foi duro perceber que passavam dias a comer apenas o que encontravam no lixo enquanto o pai gastava tudo em álcool. Foi duro assistir aos actos egoístas de uma mãe que nunca conseguiu colocar os filhos à sua frente. Foi duro vê-los a sofrer, física, sexual e psicologicamente, sem terem ninguém adulto para os salvar e resgatar. E no meio disto tudo, de toda esta desgraça, foi de partir o coração perceber que o amor pode existir mesmo quando não é merecido e que o espírito livre destes pais também levou os seus filhos a viverem experiências positivas.

É que nesta família disfuncional existem sentimentos fortes. Não sei se todos sabiam o que era o amor, sendo este, talvez, mais visível entre os irmãos e na forma como Jeannette encarava os pais. Contudo, não sei se era isso que os seus progenitores sentiam pela sua prole ou até um pelo outro. Acho que existia ali uma forte dependência, orgulho e ilusão, mas ainda assim surgiram alguns momentos que conseguiram desarmar e levar a acreditar que tudo poderia melhorar. Mas percebe-se que, apesar de tudo, as quatro crianças tinham muito respeito pelos seus pais, mesmo quando estes lhes falharam tantas vezes.

Gostaria que o final tivesse apresentado mais informações, que tivesse sido mais extenso de modo a levar o leitor a perceber melhor como cada um dos filhos entrou na idade adulta. Mas talvez esse nunca tenha sido o intuito da autora, que poderá ter preferido dar maior destaque aos primeiros anos da sua vida. Desta forma, Jeannette Walls dá-nos esperança e prova que os obstáculos podem ser ultrapassados com vontade, trabalho e dedicação. Ainda bem que O Castelo de Vidro me chegou às mãos, mesmo eu não nunca tendo ouvido falar deste livro. É, sem dúvida, uma obra que toca e que dificilmente será esquecida.

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