quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Opinião: O Jardim das Borboletas

Título Original: The Butterfly Garden (2016)
Autor: Dot Hutchison
Tradução: Ana Lourenço
ISBN: 9789896652913
Editora: Suma de Letras (2017)

Sinopse:

Perto de uma mansão isolada, encontra-se um jardim com flores exuberantes, árvores frondosas e... uma coleção de preciosas «borboletas». Jovens mulheres sequestradas e tatuadas para se parecerem esses belos insetos. Quem toma conta deste estranho lugar é o aterrador jardineiro, um homem retorcido, obcecado com a captura e a preservação de seus espécimes únicos.

Quando o jardim é descoberto pela Polícia, os agentes do FBI Hanoverian e Eddison têm a tarefa de juntar as peças de um dos quebra-cabeças mais complicados das suas carreiras.

Maya, uma das vítimas, ainda se encontra em choque e o seu relato está cheio fragmentos de episódios arrepiantes, no limite da credibilidade. O que esconderão as suas meias palavras?

Opinião:

O Jardim das Borboletas é um livro que impele para uma leitura ávida, que choca e perturba ao mesmo tempo que cativa e hipnotiza. Trata-se de um thriller um pouco diferente do habitual, uma vez que o crime já foi descoberto no momento em que a trama tem início. Contudo, a forma como a autora vai desvendando o que realmente aconteceu a todas as jovens que foram raptadas pelo Jardineiro não nos afasta da noção de perigo ou dúvida.

Maya é a jovem raptada e resgatada que está a ser interrogada pelos agentes do FBI Hanoverian e Eddison. É através dela que vamos descobrindo os horrores que aconteciam no Jardim. Como os relatos se sucedem a questões que lhe são feitas, não são apresentados por uma ordem cronológica definida, havendo alguns saltos temporais, mas tudo está feito de forma a que as informações que nos chegam nos levem a entender a complexidade das relações estabelecidas entre as próprias borboletas e também seus captores. Além disso, os verdadeiros horrores não são imediatamente apresentados, sendo que só no final recebemos as respostas a todas as questões.

Tornou-se impossível não me sentir intrigada por Maya. A sua história de vida justifica a sua personalidade mais fria e calculista, fácil de ligar a uma pessoa sobrevivente. A forma como ela vai apresentando as regras do Jardim e as rotinas e papéis das borboletas arrepia e surpreende pela loucura e inesperado de certas situações. Além disso, conhecer os seus primeiros anos de vida ajudam a percebê-la melhor, sendo aí mais fácil criar empatia com ela. Contudo, não deixa de ser curioso a forma como a autora por vezes nos leva a duvidar sobre as suas verdadeiras intenções relativamente a diversas circunstâncias.

A construção do raptor, o Jardineiro, faz-nos pensar sobre loucura e sobre como tal tantas vezes é mascarado com uma vida aparentemente bem sucedida. A autora faz ainda pensar sobre as dificuldades que muitas vezes existem em distinguir amor de outros sentimentos ou emoções, tornando-se assustador vê-lo confundido com obsessão, necessidade e luxúria. Acredito que os filhos do raptor foram criados para representar dois espectros extremos do pai, mas ainda assim não é fácil perdoar nem aquele que mostra maior compaixão.

A leitura cativa e faz-se com rapidez, mas também tenho de admitir que existem várias questões que deixam dúvidas. O facto de aquele complexo existir há tanto tempo, e de ter vindo a ser modernizado, sem que ninguém o tenha conseguido descobrir é algo que me custa um pouco aceitar. Existem ainda certas revelações finais que mereciam uma justificação mais detalhada de modo a serem melhor aceites.

Esta é, sem dúvida, uma leitura que marca pela diferença. Em O Jardim das Borboletas, somos levados a pensar sobre como é possível existir tanta crueldade num mundo que aparenta ser idílico. A forma como a trama se desenrola está muito bem conseguida, é simples e cativante de acompanhar. Gostei que a autora tivesse, logo no início, colocado todas as cartas em cima da mesa e ainda assim nos conseguir surpreender com uma série de truques inesperados. Se gostam de mistérios e de thrillers, então não vão querer perder este.

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