domingo, 22 de dezembro de 2013

Opinião: A Estação dos Ossos (A Estação dos Ossos #1)

Título original: The Bone Season (2013)
Autor: Samantha Shannon
Tradução: Fátima Andrade
ISBN: 9789724622040
Editora: Casa das Letras (2013)

Sinopse:

2059. Paige Mahoney tem dezanove anos e trabalha no submundo do crime da Londres de Scion, na zona dos Sete Quadrantes, para Jaxon Hall. O seu trabalho consiste em procurar informações invadindo a mente de outras pessoas. Paige é uma caminhante de sonhos, uma clarividente - e, no seu mundo, no mundo de Scion, comete traição pelo simples facto de respirar. Está a chover no dia em que a sua vida muda para sempre. Atacada, drogada e raptada, Paige é levada para Oxford - uma cidade mantida em segredo há duzentos anos e controlada por uma raça poderosa, vinda de outro mundo, os Refaim. Paige é atribuída ao Guardião, um Refaíta com motivações misteriosas. Ele é o seu mestre. O seu professor. O seu inimigo natural. Mas, para Paige recuperar a sua liberdade, tem de se deixar reabilitar naquela prisão onde tem por destino morrer.

Opinião:

O sucesso que A Estação dos Ossos está a ter a nível internacional fez-me ficar muito curiosa. Assim sendo, adquiri este livro assim que chegou a terras lusas pois queria perceber se as muitas críticas positivas que eram feitas a esta distopia realmente tinham fundamento.

A leitura começou um pouco devagar. Samantha Shannon apresenta um mundo semelhante ao nosso mas ao mesmo tempo com inúmeras diferenças, repleto de elementos desconhecidos que ao início podem causar estranheza devido à elevada carga informativa. O tempo em que a acção se passa não é muito distante da atualidade, mas acontece que o passado apresentou características ligeiramente diferentes, o que deu origem a um mundo alternativo ao nosso, onde a sociedade tem novos tipos de organização, muito baseados na repressão e no medo. Os espaços principais são Londres e Oxford e os clarividentes são o alvo deste receio que conduz a um estado quase ditatorial e de grande discriminação. Assim, os elementos clarividentes que querem sobreviver têm de passar à clandestinidade, sendo-nos diretamente apresentada uma organização repleta de figuras de grande interesse.

Mas afinal o que são os clarividentes? São seres humanos que, de alguma forma, conseguem ter acesso ao mundo dos espíritos, ou seja, o que está para além do que é corpóreo. Ao início este conceito poderá assustar o leitor, até porque logo nas primeiras páginas existe um esquema que apresentas as sete ordens da clarividência com imensas subclasses. Felizmente, ao longo da leitura, a autora introduz apenas aquelas que acha necessárias e explica-as, não sendo necessário decorar todo aquele esquema para compreender a trama. Logo se associam os clarividentes às cartomantes das feiras de diversões, aos oráculos da Grécia Antiga ao aos médiuns das sessões espíritas, por isso perceber este conceito acaba por ser mais fácil do que inicialmente parece.

No meio deste mundo tão diferente do que até agora vi em literatura, é-nos apresentada Paige, a protagonista. Logo se percebe que esta heroína possui capacidades que são raras e que acabam por servir de pretexto para tudo o que irá acontecer. Nota-se que se trata de uma rapariga que aparenta independência, mas que na verdade precisa da aceitação dos seus pares para se sentir útil e satisfeita. Paige trata-se de uma jovem teimosa, destemida, compassiva e de espírito lutador. Existem situações em que esta heroína pode desagradar, nomeadamente no que toca à sua falta de confiança, mas no geral foi muito agradável conhecê-la e acompanhá-la nesta aventura.

As personagens secundárias conseguem ser bastante fortes e possuem um espaço muito específico nesta narrativa. Destaco Arcturus, um refaíta que conquista aos poucos e poucos e que guarda muitos segredos, Nick, um aliado que acaba por representar o lado mais humanos dos Sete Selos, Jaxon, um líder carismático mas cujos métodos usados poderão colocar algumas dúvidas, e o intrigante David, um jovem que apesar de surgir poucas vezes conseguiu sempre prender a minha atenção e sugere que ainda vai ser uma grande revelação. Existem ainda outras figuras que representam diferentes posições neste mundo, tais como a conformismo à nova ordem e a rebelião.

Samantha Shannon conseguiu construir uma história dotada de uma escrita simples de acompanhar, que não tem momentos mortos e que consegue estar sempre a prender a atenção do leitor. Para mim, foi difícil largar o livro pois havia sempre algo de novo a acontecer! Assim que uma situação terminada inicia-se logo uma outra que não só apresenta algo novo como ainda acarreta informações que ajudam a desvendar mais um pouco deste mundo e dos elementos que o compõe. Porém, é interessante verificar que quanto mais se sabe sobre os Refaim, sobre o seu poder no controlo do mundo humano e sobre os Emim, mais se sente necessidade de saber ainda mais.

Fiquei conquistada por este livro, mas confesso que não totalmente, como esperava. Nota-se claramente que a autora tem muitas ideias novas, mas nem sempre as introduziu da melhor forma, acabando por haver momentos de grande carga informativa que pode não ser bem apreendida. A resolução final não me agradou totalmente, pois achei-a demasiado conveniente. Para além do mais, o facto de se saber que este livro é o primeiro de uma série de sete acaba por deixar o leitor um pouco de pé atrás, afinal trata-se de uma aposta que implica investimento monetário mas também um longo período de espera até se conhecer o final da série. Devo acrescentar ainda que não consigo adivinhar o que a autora pretende fazer em mais seis volumes, mas que já deu provas de quem tem imaginação, lá isso deu.

A Estação dos Ossos
foi uma leitura estimulante, muito diferente que dá a conhecer um mundo repleto de possibilidades. Percebo melhor a euforia gerada em torno deste livro, mas espero que o próximo me cative muito mais e que tenha uma maior contenção. Recomendo.

2 comentários:

i.blogger disse...

Fico sempre maravilhada com os seus posts aqui no blog. Sinto que com as suas opiniões sobre os livros que lê posso confiar se devo ou não ler também. Gostei imenso, como gosto sempre, das suas postagens, esta não é excepção. Continue assim, tenho sempre o maior gosto de vir até aqui e ler o que escreve. Parabéns

http://comunidadefantastica.blogspot.pt/

Cláudia disse...

i.blogger, muito obrigada por estas palavras. Terei sempre muito gosto em a receber.
Um grande beijinho e desejos de boas festas!