sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Opinião: A Rapariga Que Roubava Livros

Título Original: The Book Thief (2005)
Autor: Markus Zusak
Tradução: Manuela Madureira
ISBN: 9789722339070
Editora: Editorial Presença (2008)

Sinopse:

Molching, um pequeno subúrbio de Munique, durante a Segunda Guerra Mundial. Na Rua Himmel as pessoas vivem sob o peso da suástica e dos bombardeamentos cada vez mais frequentes, mas não deixaram de sonhar.

A Morte é a narradora omnipresente e omnisciente, cansada de recolher almas, observa com compaixão e fascínio a estranha natureza dos humanos. Através do seu olhar intemporal, é-nos contada a história da pequena Liesel e dos seus pais adoptivos, Hans, o pintor acordeonista de olhos de prata, e Rosa, a mulher com cara de cartão amarrotado, do pequeno Rudy, cujo herói era o atleta negro Jesse Owen, e de Max, o pugilista judeu, que um dia veio esconder-se na cave da família Hubermann e que escreveu e ilustrou livros, sobre páginas de Mein Kampf recuperadas com tinta branca, ou ainda da mulher que convidou Liesel a frequentar a sua biblioteca, enquanto os nazis queimavam livros proibidos em grandes fogueiras.

Um livro sobre uma época em que as palavras eram desmedidamente importantes no seu poder de destruir ou de salvar. Um livro luminoso e leve como um poema, que se lê com deslumbramento e emoção.

Opinião:

Poucos livros me emocionaram como este. A Rapariga Que Roubava Livros, de Markus Zusak, é uma obra incrível. Fantástica.

Entrei um pouco a medo nesta história. Afinal era narrada pela Morte. A ideia que se tem desta entidade está ligado ao negativo, mas a Morte acaba por se revelar uma companheira sempre presente, uma figura com uma missão trágica mas necessária. Por isso mesmo, a Morte acompanha toda a narrativa e as suas observações tão drásticas, directas e dotadas de compaixão acabam por arrebatar.

Só depois de existir uma ligação com a Morte é que se conhece Liesel, a menina que também é conhecida como "a rapariga que roubava livros".Criança vítima da pobreza e intolerância, perde a família e vai morar com um casal alemão cujos filhos já são adultos e saíram de casa. A forma como esta menina vai conquistando e sendo conquistada é gradual e verdadeira e as peculariedades dos novos pais são uma delícia.

É impossível não gostar logo de Hans. O homem de coração puro e "olhos de prata", começa a revelar-se uma das personagens mais queridas da trama. É impressionante como os seus actos, palavras e intenções me tocaram. A cada página, este homem revela-se uma surpresa e o exemplo do poder da compaixão, tolerância e bondade. Já Rosa demora mais tempo a conquistar. Mulher de modos rudes, deixa uma primeira impressão desagradável, mas acaba por se mostrar dona de um coração de ouro. Ela é o motor daquela família.

Com o desenrolar da trama, a vida de Liesel recebe mais dois homens de grande importância. O primeiro é Rudy, típico menino que quer ser sempre o vencedor de todos os jogos. Ele é a imagem do amigo fiel e dedicado que está sempre presente e nada exige em troca. Depois surge Max, o judeu fugitivo que coloca a família de Liesel em perigo e que se torna no autor de histórias que funcionam como alegorias da situação que estão a atravessar.

E Liesel? Preciso de falar mais de Liesel. Ela é uma rapariga curiosa, observadora, difícil de ser conquistada. Não tem medo de se meter numa luta e não é considerada grande aluna. Conhece bem o que é compaixão, mas transgride muitas regras, sendo algumas delas em proveito próprio. Tem dificuldade em perdoar e arrepende-se de muito do que não fez. É humana, jovem e credível. Uma personagem que dificilmente me vai deixar.

O cenário da acção principal é a Rua Himmel, em Munique, na Alemanha. O período decorre entre 1939 e 1943, o que coincide com um conflito militar mundial. Quando se pensa na tragédia da Segunda Guerra Mundial, o pensamento depressa vai para os campos de batalha da Europa e para os campos de concentração e extermínios. Esses dois cenários estão presentes na obra de forma indirecta, sendo o foco escolhido o do povo alemão mais carenciado.

Ao acompanhar a vida de Liesel, é possível ver de que forma o nazismo e a guerra afectaram o povo alemão. Com o passar das páginas assiste-se a um empobrecimento rápido e sente-se o crescer do clima de medo e tensão. Também é possível observar a dor de seguir leis que não são entendidas e o desespero de ir contra valores e princípios.

Os livros que Liesel roubava ou adquiria funcionaram como escape da realidade e como fontes de alento, força e esperança. Markus Zusak faz reflectir sobre o poder dúbio das palavras, que consoante o usuário podem funcionar como armas de destruição ou mensageiros de paz e felicidade.

O estilo e linguagem de Markus Zusak são muito peculiares. A história forte é contada de uma forma bela e quase poética. Fiquei rapidamente rendida. Destaco as notas da Morte que vão surgindo ao logo da leitura e enaltecem situações ou palavras mais marcantes.

A Rapariga Que Roubava Livros é um dos melhores livros que li nos últimos tempos. Podia continuar a escrever sobre tudo o que adorei, pois acreditem que muito não foi falado, mas não sei quando iria parar e o quanto iria revelar. Quem leu de certo que vai compreender esta sensação e para quem não teve ainda a oportunidade de ler este livro, aqui fica um conselho: leiam. É marcante, é forte, é brilhante.

Ver mais sobre este livro aqui.

6 comentários:

Jacqueline' disse...

O livro é, de facto, brilhante e agora está para sair o filme !
É interessante, porque depois deste li As intermitências da morte de saramago e,curiosamente, aquela simpatia pela morte enquanto narradora manteve-se :)

Cláudia disse...

Assim que terminei o livro fui ver o trailer e voltei a ficar emocionada ao recordar alguns dos episódios. Já li "As Intermitências da Morte" há algum tempo, mas lembro que também gostei dessa personagem e narradora, especialmente na primeira parte do livro.

Universo dos Leitores disse...

Um livro brilhante, triste, encantador, mágico! Um dos meus preferidos! Ótima resenha...

Abraços, Isabela.

www.universodosleitores.com

Cláudia disse...

Obrigada Isabela*

Carla disse...

Olá Lia,
Tenho lido muito sobre este livro e todas as opiniões são muito apelativas e positivas. Logo que possa vou adquirir, mas não tão cedo pois a crise está a apertar.
Beijinhos e boas leituras;)

Cláudia disse...

Eu aproveitei para comprar este livro durante a hora H última Feira do Livro de Lisboa. Ficou muito em conta ;)