terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Opinião: A Menina Silenciosa (Sebastian Bergman #4)

Título Original: Den stumma flickan (2014)
Autor: Hjorth & Rosenfeldt
Tradução: Jorge Pereirinha Pires
ISBN: 9789896653125
Editora: Suma de Letras (2017)

Sinopse:

Suécia. Uma bonita casa branca, de dois andares. Dentro, uma família brutalmente assassinada - mãe, pai e duas crianças pequenas, mortos a tiro, em plena luz do dia. E o assassino escapou. Sebastian Bergman, com o Departamento de Investigação Criminal, tenta deslindar o crime, mas, com o principal suspeito morto, está num beco sem saída. Até que descobre que há uma testemunha do crime.
Uma menina, Nicole, viu tudo e fugiu, assustada. Quando a encontram, descobrem que o trauma do que viu a deixou totalmente muda, comunicando apenas através de caneta e papel. Os seus desenhos revelam um facto convincente e inescapável: ela viu o assassino. Bergman fica obcecado com o desafio de romper a parede de silêncio de Nicole. Enquanto isso, o assassino está apostado em garantir que ela fique calada.

Opinião:

Rendida aos livros anteriores da saga "Sebastian Bergman", estava com grandes expectativas quanto a Menina Silenciosa. E sabem que mais? Elas não foram defraudadas! Ler o quarto volume desta série dos autores Hjorth e Rosenfeldt voltou a ser uma verdadeira adrenalina. O primeiro capítulo leva-nos logo querer entrar na investigação ao lado das personagens que já tão bem conhecemos e acarinhamos. A partir daí, dá-se início a uma aventura com muitos segredos, na qual a perspicácia, profissionalismo e capacidade de análise se tornam fulcrais para a resolução do mistério. Ao mesmo tempo, os dramas pessoais de cada figura também espaço e tornam a leitura ainda mais completa e apelativa.

Sebastian é um protagonista que continua a despertar sentimentos contraditórios. A forma como trata as mulheres, neste caso em especial Ursula, e o seu lado manipulador em todos os aspectos da sua vida causam repúdio e desprezo. Contudo, o facto de o seu trauma familiar estar constantemente a ser recordado também leva o leitor a apiedar-se dele, a desejar que encontre estabilidade através da aceitação e reposição da verdade. Neste livro, Sebastian enfrenta novos desafios que o levam a entrar num caminho desesperado de redenção.

Se nos outros livros era impressionante ver Sebastian a analisar perfis e a descortinar segredos de pessoas que não eram quem aparentavam, desta vez surge-lhe um desafio diferente e que o afecta pessoalmente. Sebastian tem de ajudar uma criança que assistiu a um verdadeira massacre. Perante esta menina, ele acaba por deixar ao de cima o seu lado mais terno e sensível, por voltar a sentir uma enorme culpa pelo que lhe aconteceu, levando o leitor adivinhar que tipo de pai ele foi para Sabine, a filha que perdeu no trágico maremoto da Tailândia. Ver este lado desta personagem fortaleceu a ideia de que se trata de uma figura complexa, desafiante e humana.

As restantes personagens do Departamento de Investigação Criminal também apresentam uma notória evolução. A amargura tomou conta de Vanja, o que a leva a mostrar o seu lado mais negro e amargo neste livro. Algumas das suas atitudes e acções parecem demasiado duras e podem não ser bem aceites. Torkel continua a ser uma imagem de profissionalismo, apesar de ressentido e desconfiado por acções que aconteceram noutro volume. Ursula tem menor destaque, o que faz todo o sentido, e leva a pensar sobre sermos capazes de nos aceitarmos com os nossos defeitos ao conseguirmos minimizá-los como foi possível. Billy foi quem sofreu a maior transformação, apesar de o próprio ainda não ter dado bem por isso. Confesso que ele assusta-me e que estou curiosa para saber o que lhe vai acontecer.

O desenrolar da trama prende até ser impossível parar de ler. É curioso verificar que, apesar de existirem situações de grande violência, em momento algum estas são descritas, o que faz com que a violência não seja totalmente explícita. O foco dos autores não está em apresentar quadros dantescos, mas sim na construção de um enredo forte, credível, surpreendente. Hjorth e Rosenfeldt não seguem uma linha previsível, mas apresentam-nos reviravoltas inesperadas e totalmente justificadas.

A Menina Silenciosa é um thriller impressionante. Com um enredo cativante, os autores levam-nos ainda a observar diferentes personagens a lidarem com os seus próprios demónios e a sofrerem perda em diferentes sentidos. Afinal, não é só a morte que nos afasta um dos outros, sendo que os segredos que guardamos, muitas vezes até de nós próprios, também contribuem para esta separação. Um livro com óptima história policial e com personagens que se destacam. Agora venha o próximo, que estou pronta, e ansiosa, por o ter nas mãos.

Outras opiniões a livros de Hjorth & Rosenfeldt:
Segredos Obscuros (Sebastian Bergman #1)
O Discípulo (Sebastian Bergman #2)
O Homem Ausente (Sebastian Bergman #3)

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