domingo, 24 de setembro de 2017

Opinião: Mulheres Perigosas

Título Original: Dangerous Women (2013)
Organização: George R. R. Martin e Gardner Dozois
Tradução: Rui Azeredo
ISBN: 9789897730740
Editora: Saída de Emergência (2017)

Sinopse:

Atenção: o perigo está à espreita perto destas mulheres!
Se procura um livro em que mulheres infelizes ficam a choramingar de pavor enquanto o herói masculino combate o monstro ou choca espadas com o vilão, este livro não é para si.
Aqui encontrará mulheres guerreiras que brandem espadas, intrépidas pilotos de caças, formidáveis super-heroínas, femmes fatale astutas e sedutoras, feiticeiras, más raparigas duronas, bandidas e rebeldes, sobreviventes endurecidas em futuros pós-apocalípticos, rainhas altivas que governam nações e cujas invejas e ambições enviam milhares para mortes macabras, mulheres que não hesitam em assumir a liderança para defenderem aquilo em que acreditam.

Com organização de George R. R. Martin, que assina igualmente um conto passado no mundo de Westeros, e de Gardner Dozois, esta é uma antologia que cruza géneros literários e mistura todos os tipos de ficção, desde Megan Abbott a Brandon Sanderson.

Opinião:

Aqui está um antologia que me proporcionou grandes momentos de leitura. Em Mulheres Perigosas temos a oportunidade de conhecer várias histórias em que o principal ponto em comum é dar força e protagonismo ao sexo feminino. Assim sendo, ficamos a conhecer mulheres que não têm medo de arriscar e que deixam uma marca em todos os que com elas se encontram, quer seja de uma forma positiva ou não. George R. R. Martin e Gardner Dozois reuniram contos muito diferentes e que se inserem em diferentes géneros da ficção.

Joe Abercrombie dá-nos as boas-vindas a este livro com uma bandida muito engenhosa. Em "Completamente Perdida" somos cativados pelos detalhes da acção enquanto acabamos por torcer por uma criminosa de índole duvidosa que foge pelo Velho Oeste. "Ou o Meu Coração Está Destroçado", de Megan Abbott é um thriller que consegue perturbar graças às atitudes inesperadas e chocantes de uma mãe que perdeu a filha. Melinda M. Snodgrass optou pela ficção científica com "As Mãos Que Não Estão Lá", uma intriga muito interessante que nos faz pensar nas intrigas que existem atrás de posições de maior poder e no que e faz para chegar até lá.

O conto de Carrie Vaughn, "Raisa Stepanova", foi um dos que mais me cativou por abordar o lado russo da Segunda Guerra Mundial sob o ponto de vista de uma mulher que muito lutou para ser piloto. Gostei da intensidade das convicções desta figura e das muitas implicações históricas que desconhecia. "Eu Sei Escolhê-las a Dedo", de Lawrence Block, pode inserir-se no género do terror pela reviravolta inesperada e pelo facto de nos fazer duvidas das verdadeiras intenções dos outros. Adorei voltar a encontrar Brandon Sanderson, nesta vez num conto que faz lembrar a saga "Mistborn" devido às brumas na escuridão e aos elementos fantásticos com "Sombras para Silêncio nas Florestas do Inferno" somos cativados por uma personagem feminina que esconde a sua verdadeira força ao mesmo tempo que aceita a missão de enfrentar horrores indescritíveis.

Devorei o conto de Sharon Kay Penmam, "Uma Rainha no Exílio", tal foi o meu interesse por esta mulher que se entregou por completo à coroa, tanto que, no final, se colocou numa situação verdadeiramente humilhante com o fim de conquistar o apoio popular. "A Rapariga no Espelho" permitiu-me voltar a Brakebills, escola de magia criada por Lex Grossman. Confesso que esperava mais deste conto, mas ainda assim foi bom rever algumas figuras. Sam Sykes não conquista imediatamente com este "Dar Nome à Fera", mas com o decorrer da leitura começa a agarrar e no final transmite uma mensagem forte, apesar de previsível. "As Mentiras que a Minha Mãe Me Contou", de Caroline Spector permitiu-me conhecer de perto, pela primeira vez, o universo "Wild Cards" e fez-me ter vontade de ler mais sobre estes heróis.

A antologia termina com chave de ouro. George R. R. Martin revela-nos a verdadeira história da Dança dos Dragões e "A Princesa e a Rainha ou Os Negros e os Verdes". Este é o conto com mais páginas e também o mais forte. Adoro conhecer histórias que antecederam as "Crónicas de Gelo e Fogo" e esta leva-nos a uma verdadeira luta pelo Trono de Ferro disputada entre dois Targaryen. Mais uma vez, o autor apresenta-nos personagens que tanto nos conseguem cativar a simpatia como logo a seguir causar repulsa, mostrando que uma pessoa nunca é inteiramente boa ou má. As intrigas políticas e estratégias bélicas impressionam e fazem-nos sentir sempre no fio da navalha. Fiquei rendida à forte presença de dragões e de assistir à ligação entre estes seres e humanos.

Mulheres Perigosas é uma antologia que merece ser lida pela originalidade das histórias que apresenta como pela mensagem de que as mulheres não são nem nunca foram um sexo fraco. Através das figuras destas narrativas, somos levados a pensar sobre as dificuldades acrescidas que as mulheres enfrentaram e continuam a enfrentar no nosso mundo e nas formas engenhosas que muitas vezes são encontradas para que a igualdade e liberdade sejam alcançadas. Uma leitura que diverte e que não nos deixa esquecer que a força está na personalidade e não no género.

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