sexta-feira, 2 de junho de 2017

Opinião: Magia de Papel (#1)

Título Original: The Paper Magician (2014)
Autor: Charlie N. Holmberg
Tradução: Sónia Maia
ISBN: 9789898853011
Editora: Estação Imaginária (2017)

Sinopse:

Ceony Twill chega à casa de campo do Mago Emery Thane de coração partido. Tendo acabado o curso como melhor aluna da turma na Escola Tagis Praff para os Vocacionados para a Magia, foi-lhe atribuída a magia do papel, apesar do seu sonho ser enfeitiçar metal. Coeny não fica satisfeita porque, uma vez ligada ao papel, essa será a sua única magia... para sempre.
Porém, os feitiços que Ceony aprende com o estranho mas afável Thane revelam-se mais espantosos do que poderia ter imaginado - dar vida a criaturas de papel, recriar histórias através de imagens fantasmagóricas, até ler o futuro. Mas, ao mesmo tempo que descobre estas maravilhas, Ceony aprende também os perigos excecionais da magia proibida.
Uma Excisora - uma praticante da magia negra, da carne - invade a casa de campo e arranca o coração de Thane do seu peito. Agora, para salvar a vida do professor, Ceony terá de enfrentar a feiticeira malvada e embarcar numa aventura inacreditável que a levará às câmaras do coração ainda pulsante de Thane - onde conhecerá a própria alma dele.

Opinião:

Assim que vi este livro pela primeira vez, senti que o tinha de ler. Tinha vários aspectos que me agradaram imediatamente. O palavra "magia" no título chamou-me logo a atenção, a capa diferente deixou-me intrigada e a sinopse deu-me a certeza de que tinha de apostar nesta leitura. E ainda bem que o fiz, pois Magia de Papel, de Charlie N. Holmberg revelou-se um verdadeiro mimo.

A ação é muito rápida, o que pode dar a ideia de que a história está a avançar mais depressa do que o esperado. E se por um lado gostaria que certos momentos tivessem maiores reflexões, também é verdade que este ritmo me levou a ler o livro em menos de um dia. Senti-me interessada na aventura e com vontade de descobrir o que ia acontecer a seguir e como tudo iria terminar. Apesar de este ser o primeiro livro de uma trilogia, a verdade é que pode ser lido sozinho, uma vez que se sente que terminou aqui uma fase importante, que poderá ou não ter desenvolvimentos.

Gostei das personagens apresentadas. São poucas, é verdade, mas, apesar de a escrita estar mais focada para a ação, é curioso ver que, mesmo assim, se percebe que as figuras desta narrativa não são superficiais. Coeny, a protagonista, aparenta uma ideia que pode ser um pouco desagradável, mas à medida que a fui conhecendo acabei por admirar a sua frontalidade e coragem. Tive sempre presente que ela é uma jovem, sendo que certos sentimentos que nela despertam acabam por serem justificados devido aos acontecimentos.

Emery Thane é a personagem que acaba por ser melhor explorada nesta obra. Afinal, somos levados por uma viagem ao seu coração e descobrimos as suas várias facetas e ainda as experiências passadas que fazem dele o que é. Gostei da forma como o homem misterioso do início foi desvendado e achei curioso que, mesmo assim, ele não perdeu aquela aura de intriga tão cativante. Gostaria de conhecer o seu ponto de vista sobre certas situações, uma vez que fica a ideia de que ele raramente demonstra o que realmente está a pensar.

A viagem que Ceony faz ao coração de Thane é uma ideia muito curiosa. Por um lado, existe aquele lado cético que sabe que tal não faz sentido, mas por outro existe a imaginação que nos leva a acreditar neste conceito. E foi neste último ponto que me foquei. O coração de Thane funciona como uma metáfora para o que nós realmente somos. Faz-nos pensar para o facto de sermos o resultado das diversas experiências que vivemos, mas também dos nossos desejos, ambições, receios e, principalmente, das decisões que tomamos. Nem sempre é fácil aceitarmos todos os nossos lados, mas precisamos de saber lidar com eles e decidir o que realmente queremos ser.

A narrativa é muito focada na ação, mas  é de salientar que as descrições nos conseguem transportar para um ambiente muito próprio. Existem momentos muito gráficos, que podem chocar, muito devido à magia relacionada com o sangue e a carne e também devido à própria ideia de estar no interior de um coração. Confesso que um certo esqueleto e um cão de papel também me causaram algum desconforto inicial, mas depois percebe-se que tudo faz parte desta história tão diferente. Não entendi, no entanto o papel da mulher nesta sociedade do início do século XX. Sei que acaba por ser uma realidade paralela à nossa, mas faltou uma componente social mais forte e consistente.

Magia de Papel marca pela diferença e faz desejar continuar a descobrir este mundo e a acompanhar Ceony. É uma história que recomendo e cuja continuação, que já está publicada na versão original, chegue rapidamente ao nosso país.

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