domingo, 13 de novembro de 2016

Opinião: A Célula Adormecida

Autor: Nuno Nepomuceno
ISBN: 9789897060502
Editora: TopBooks (2016)

Sinopse:

Em plena noite eleitoral, o novo primeiro-ministro português é encontrado morto. Ao mesmo tempo, em Istambul, na Turquia, uma jornalista vive uma experiência transcendente. E em Lisboa, o pânico instala-se quando um autocarro é feito refém no centro da cidade. O autoproclamado Estado Islâmico reivindica o ataque e mostra toda a sua força com uma mensagem arrepiante.
O país desperta para o terror e o medo cresce na sociedade. Um grande evento de dimensão mundial aproxima-se e há claros indícios de que uma célula terrorista se encontra entre nós. Todas as pistas são importantes para o SIS, sobretudo quando Afonso Catalão, um reputado especialista em Ciência Política e Estudos Orientais, é implicado. De antecedentes obscuros, o professor vê-se subitamente envolvido numa estranha sucessão de acontecimentos. E eis que uma modesta família muçulmana refugiada em Portugal surge em cena. A luta contra o tempo começa e a Afonso só é dada uma hipótese para se ilibar: confrontar o passado e reviver o amor por uma mulher que já antes o conduziu ao limiar da própria destruição.

Opinião:

Quando A Célula Adormecida chegou às minhas mãos, senti que devia começar a ler imediatamente. Afinal, gostei bastante da trilogia "Freelancer" e estava muito curiosa para saber que mais teria Nuno Nepomuceno a oferecer aos leitores. Além disso, fiquei satisfeita por ver que a editora continuava a apostar neste autor português. Confesso que cheguei a ter algum receio de que a história deste livro não conseguisse superar as aventuras de André Marques-Smith, mas cedo percebi que tal medo não tinha qualquer fundamento. É que este livro não pára de surpreender pela positiva.

O tema central desta obra é bastante atual. Hoje em dia, existem inúmeras notícias relativas a terrorismo, refugiados, Médio Oriente e suas guerras, mas, muitas vezes, estas realidades parecem tão distantes que quase que existe um dificuldade em aceitar que tal é real. Nuno Nepomuceno pega em tudo isto e imagina o que seria se Portugal lidasse com estas questões com maior proximidade. Ao mesmo tempo, pega em algumas questões muitas vezes esquecidas, tais como a intolerância e o choque de culturas, para nos recordar que essas questões existem na nossa sociedade e que nós podemos ter os meios necessários para atenuar certas dificuldades.

Afonso Catalão é o protagonista da trama. Gostei do facto de se tratar de uma personagem que consegue cativar desde o início, mas que vai revelando diferentes facetas ao longo da narrativa. Percebemos logo que se trata de um homem integro, de grandes conhecimentos e com uma vontade enorme de dar a mão aos incompreendidos pela maioria da sociedade. Contudo, ao mesmo tempo, ele é uma figura misteriosa, que tem dificuldade em revelar-se e que esconde certas atividades presentes e passadas.

Mas existem outras personagens de relevo. Diana, de quem tive dificuldade em simpatizar ao início, acaba por mostrar ser mais do que aparenta e acaba por ser um exemplo de força e independência feminina. Sami, um pai devoto, conseguiu ter sempre a minha compaixão, mesmo quando não conseguia aceitar as suas decisões. Existem muitas outras figuras que mostram a capacidade do autor de criar personalidades distintas e que representam papéis significativos para dar força e realismo à história. Isto mesmo quando não somos capazes de entender os seus atos ou a crueldade de que são alvo.

Nesta trama, são apresentadas organizações reais e pouco exploradas ou conhecidas da maioria da população. Gostei muito de conhecer melhor esse lado. Além disso, o autor mostra que está atento à atualidade e além de revelar ser sensível à forma como pessoas de diferentes valores e pensamentos reagem aos mesmos acontecimentos. Mas mais importante é o facto de, de forma direta e fácil de compreender, serem apresentadas informações verdadeiras, atuais e muito relevantes. Deste modo, a leitura torna-se não só um bom entretenimento, apresentando uma trama que, felizmente, é fictícia, mas que tem conteúdos para melhor entendermos o mundo em que vivemos. E, quem sabe, para nos levar a melhor agir pelo bem comum.

Além de ter gostado de toda a aventura, que está bem construída e estimula a leitura, fiquei bem impressionada com a quantidade de informação relevante que existem nestas páginas. Sinto que passei a compreender melhor algumas questões e que terminei este livro com mais conhecimentos relativos ao Médio Oriente. Nuno Nepomuceno consegue dar informações com clareza, mas sem fazer com que o leitor sinta que está a ler um ensaio. Todos os tópicos foram bem colocados e expostos, e deve realçar uma certa entrevista que o professor Catalão dá e na qual aborda muitos assuntos com naturalidade e de forma interessante. Isto só é possível graças ao talento do autor.

A Célula Adormecida é um livro que recomendo, em sombra de dúvida. Apresenta uma história que está bem escrita, é atual, próxima e que faz pensar sobre a sociedade em que vivemos, sobre quem realmente nos governa e sobre o medo enquanto instrumento de repressão e ódio. No final, surge uma mensagem importante, relativa a tolerância, compreensão e aceitação da diferença. Acabar de vez com o terrorismo pode não estar nas nossas mãos, mas construir uma comunidade pacífica só depende da forma como aceitamos e respeitamos o outro.

Outras opiniões a livros de Nuno Nepomuceno:
O Espião Português (Freelancer #1)
A Espia do Oriente (Freelancer #2)
A Hora Solene (Freelancer #3)

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