sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Opinião: A Seleção (A Seleção #1)

Título Original: The Selection (2012)
Autor: Kiera Cass
Tradução: Alexandra Cardoso
ISBN: 9789897541230
Editora: Marcador (2014)

Sinopse: 

Para trinta e cinco raparigas, A Seleção é a oportunidade de uma vida. É a possibilidade de escaparem de um destino que lhes está traçado desde o nascimento, de se perderem num mundo de vestidos cintilantes e joias de valor inestimável e de viverem num palácio e competirem pelo coração do belo Príncipe Maxon.

No entanto, para America Singer, ser selecionada é um pesadelo. Terá de virar as costas ao seu amor secreto por Aspen, que pertence a uma casta abaixo da sua, deixar a sua família para entrar numa competição feroz por uma coroa que não deseja, e viver num palácio constantemente ameaçado pelos ataques violentos dos rebeldes. Mas é então que America conhece o Príncipe Maxon. Pouco a pouco, começa a questionar todos os planos que definiu para si mesma e percebe que a vida com que sempre sonhou pode não ter comparação com o futuro que nunca imaginou.

Opinião:

Já há muito que andava curiosa com este livro. A Seleção chamou-me a atenção antes de chegar ao mercado nacional pela Marcador, muito devido à capa apelativa (eu sei que não se julga um livro pela capa, mas há coisas que são mais fortes do que nós. Vestidos de princesa aliados a um conceito distópico é algo que me afecta!) como pela reação de leitores além-fronteiras. Quando soube que o livro iria ser publicado em Portugal tive que o ler para perceber se toda a euforia a que assistia tinha fundamento.

Terminada a leitura, posso dizer-vos que este foi um livro que gostei muito de ler. Contudo, não posso dizer-vos que se trata de um livro perfeito e que puxa por nós. Não o é. A Seleção apela aos nossos sonhos de criança, já que surge quase como um conto de fadas. Penso que é uma leitura direcionada para o público feminino, já que muito do que é retratado tem muito a ver com um processo de autodescoberta feminina, sentimentos contraditórios relativamente a dois rapazes e ainda com a relação de amizade ou inimizade com outras raparigas. E como se tal não bastasse, grande parte da narrativa acontece num palácio luxuoso onde não faltam vestidos que só de imaginar queremos usar e eventos que, por alguma razão inconsciente, são deliciosos.

America Singer é a protagonista deste livro (confesso que me custou a habituar ao nome dela). Ela é uma rapariga de um escalão da sociedade mediano. Com a sua família, luta para levar uma vida digna e, felizmente, juntos conseguem ultrapassar grandes dificuldades. Ao conhecer a America do início do livro, ficamos logo com a ideia de que ela é uma rapariga que sabe o que quer e que não se importa com o que os outros pensam sobre isso. Também é possível reparar que ela não se deixa entusiasmar pelo que é supérfluo, uma vez que coloca o seu coração sempre em primeiro lugar.

Gostei desta protagonista. Ao início poderá parecer um pouco igual a tantas outras, mas com o desenvolvimento da narrativa percebemos que ela se destaca. Os momentos em que ela "bate o pé", toma atitudes diferentes daquelas que seriam esperadas ou diz o que realmente pensa sem se importar com as consequências fazem com ela nos consiga cativar. Mas para mim, o momento em que America realmente me impressionou foi mesmo no final, graças a uma atitude que tomou.

Aspen e Maxon formam com America um triângulo amoroso. O primeiro é o primeiro amor da protagonista e eu confesso que não senti qualquer ligação com ele. Parece-me uma personagem demasiado básica e pouco profunda. Com o avançar da narrativa surgem explicações para certos comportamentos que não foram bem aceites da minha parte por serem demasiado simplistas. Já Maxon é mais apelativo. Gostei do facto de ele ser alguém diferente do que seria esperado, da sua ingenuidade quanto à realidade fora do palácio, da sua vontade de fazer a diferença na vida dos mais desfavorecidos e também do facto de ele olhar para a Seleção com receio e um dever.

O desenvolvimento da narrativa é previsível. Desde o início que sabemos o que é mais provável acontecer, portanto esta não é uma história que nos traga grandes surpresas. Contudo, não é uma leitura aborrecida. Temia que ficasse cansada do triângulo amoroso, mas felizmente tal também não aconteceu. Claro que não concordei com todas as escolhas de America, e achei mesmo que alguns acontecimentos foram demasiado convenientes (se não praticamente todos).

A componente distópica acaba por ficar em segundo plano e penso que tal acontece devido ao facto de o mundo não estar bem apresentado ou sequer construído. A divisão social não é imediatamente apreendida e só com o avançar da leitura se vai percebendo como a população está organizada. Os perigos são apresentados de uma forma bastante ténue, ficando a dúvida sobre quem é realmente o inimigo e quais são as suas motivações. A mistura entre sociedade monárquica típica de contos de fadas com a tecnologia do futuro não está bem interligada. A crítica social parece incidir sobre o papel submisso das mulheres nas sociedades patriarcais e a manipulação que é feita através dos órgãos de comunicação cada vez mais adeptos dos reality shows.

Li A Seleção em pouco menos de dois dias. Apesar de ser um livro com muitas falhas, a verdade é que, mesmo assim, conseguiu-me agarrar. Gostei das personagens, da construção das relações e confesso que estou curiosa quanto ao destino que lhes está guardado. Contudo, também achei que a autora poderia ter apresentado esta trama de uma forma mais pensada e focada noutros aspectos que não os vestidos que todas as candidatas usam, por exemplo. Espero sinceramente que o próximo volume  apresente desenvolvimentos mais apelativos e que continue a apresentar um desenvolvimento agradável da protagonista.

4 comentários:

Rita Verdial disse...

Ainda bem que vim ler esta tua opinião Cláudia!

Tal como tu há muito tempo que ouço falar desta série e bem. Mas lá está, tinha receio de triângulos amorosos adolescentes, para os quais já não tenho grande paciência, e tinha receio que que não passasse de uma história de menininhas, se é que me entendes :p

Fico contente que tenhas gostado, porque eu tinha vontade de ler por causa das capas hehe e como sei que temos gostos semelhantes vou dar uma oportunidade ao livro :)

Só não sei se invista em PT ou Ing (ultimamente devido à desistência de certas séries que adoro e acompanho por certas editoras, comecei a virar-me para a compra e leitura de hardcovers em Ing e tem sido uma experiência óptima ^^ )

Uma trilogia que deviam publicar cá é a Incarnate de Jodi Meadows! Encontro-me a ler o último livro e para além de ter capas lindas de morrer, a história é muito boa! hehe

Cláudia disse...

Olá Rita! Este é um livro YA que consegue cativar. Tem muitas falhas sim, tem um triângulo amoroso que pode causar divisões e tem muitas referências a coisas de "meninas", mas mesmo gostei e mesmo assim quero continuar a ler a trilogia. Espero mesmo que por cá não existam desistências, mas já estou preparada para esperar pelo próximo.

Quanto ao "Incarnate", só oiço falar bem. Tenho pena de não me conseguir totalmente à vontade com livros em ingês, pois acredita que já teria apostado nesse. Agora deixaste-me ainda mais curiosa!!!

Um beijinho

Rita Verdial disse...

Ainda bem que assim é e por isso devolveste-me a vontade de pegar nesta série :)
Também não me parece que desistam dela, é apelativa para muita gente de certeza.

Eu também tinha receio de ler em inglês e levei muito tempo a "converter-me", apesar de nunca ter tido dificuldades com a língua e de aprender facilmente novas palavras. É a tal história, que por muito bons que sejamos numa língua há sempre várias palavras que desconhecemos...
Mas tenho-te a dizer que depois de experimentar percebi que isso não era assim tão mau, de todo! (então hoje em dia com as aplicações de tradução no tlm). Pela minha (pouca) experiência digo-te que o teu inglês se vai desenvolvendo, ganhas mais vocabulário, sentes cada vez menos necessidade do tradutor (e mesmo que não saibas exactamente o que certa palavra significa consegues perceber tudinho pelo contexto e não perdes pitada! E se pensarmos bem, mesmo em PT volta e meia acontece isso) e quando dás por ti estás a ler em Inglês com uma ligeireza que ninguém te agarra hehe

Bem e se tiveres curiosidade podes dar uma espreitadela na minha opinião ao "Incarnate" no Goodreads (https://www.goodreads.com/review/show/1032825139?book_show_action=false)

Beijinho!

Cláudia disse...

Eu acredito nisso e já fiz mesmo algumas experiências, contudo não me consegui sentir confortável. Percebi sempre a história e tive que ir procurar poucas palavras ao dicionário ou tradutor, mas o facto de ler muito mais devagar aborreceu-me. Sei que com a prática o ritmo aumenta, mas tenho tanta coisa para ler em português que prefiro apostar nessa lista. Um dia irei voltar aos títulos originais :)