terça-feira, 5 de agosto de 2014

Opinião: Divina (Chamamento da Deusa #4)

Título Original: Goddess of the Rose (2006)
Autor: P. C. Cast
Tradução: Eugénia Antunes
ISBN: 9789892327921
Editora: Asa (2014)

Sinopse:

Não é um talento para a jardinagem que faz as rosas da família Empousai desabrocharem há séculos, mas sim as gotas de sangue que as mulheres derramam em segredo pelos seus jardins. Mikki, porém, prefere esquecer essa peculiaridade e levar uma vida normal. Até ao dia em que, sem querer, realiza um ritual e acaba num reino estranhamente familiar: o Reino das Rosas. De acordo com Hécate, a deusa desse reino, Mikki tem nas veias o sangue de uma suma sacerdotisa, e o Reino das Rosas já esperava por ela. Num acesso de raiva que Hécate teve muito antes, ela amaldiçoou o seu guardião com um sono do qual ele poderá despertar apenas por intermédio de uma das suas sacerdotisas. E a deusa conta com Mikki para colocar as coisas em ordem. A princípio, o guardião-fera deixa Mikki apavorada; porém, em breve a fascina mais do que qualquer outro homem já conseguiu. A única forma de ele e do reino serem salvos, contudo, é se Mikki sacrificar o seu sangue e a sua vida.

Opinião:

O conto "A Bela e o Monstro", cuja primeira versão é atribuída a Gabrielle-Suzanne Barbot de Villeneuve, é uma das minhas histórias de encantar preferidas. Por isso mesmo, quando soube que o livro Divina, de P. C. Cast, era inspirado nesta história, senti uma enorme vontade de pegar neste livro. Apesar de ser o quarto volume da série "Chamamento da Deusa", este é um volume que pode ser lido sozinho uma vez que não é necessário recorrer aos anteriores para perceber a trama e também porque não terá continuação.

Mikki, ou Mikado, é uma mulher do mundo moderno que não consegue ser feliz ao amor. Ao início, fica a sensação de que se trata de uma protagonista com pouca autoestima, sensível, desconfiada e fiel às suas convicções. Estas características tornam Mikki humana e alguém com quem é fácil criar empatia. Contudo, após uma grande mudança, Mikki descobre que é uma sacerdotisa de Hécate e é levada para uma realidade diferente. Aí, Mikki deixa de parecer a mesma personagem, o que pode causar alguma estranheza. Ela passa a ter sentido de humor e vai torna-se mais confiante e carismática. Gostaria de ter visto esta alteração a acontecer de forma gradual, apesar de entender que havia pouco espaço para tal.

Após a nossa "Bela" ter sido apresentada, heis que surge o esperado monstro. Esse papel é atribuído ao Guardião, um personagem que me conquistou e que é um dos pontos fortes desta leitura. O Guardião é um ser atormentado por razões válidas e muito misterioso. Gostei muito da sua personalidade fechada, humilde e fiel à função que lhe é entregue. A união entre características humanas e animais é subtil mas convincente e a forma como ele, aos poucos e poucos, se vai revelando agarra a leitura. Apesar de ter apreciado o passado que lhe foi concedido, gostaria de ter assistido a mais revelações.

A relação ente Mikki e o Guardião é a esperada. Contudo, achei muito carinhosa a forma como os dois se foram aproximando e descobrindo. Não se trata de uma grande história de amor, é verdade, mas é um relacionamento doce e sincero, daqueles que nos faz desejar que tudo lhes corra bem e nos deixa com um sorriso na cara. É curioso ver que o aproximar destas duas personagens nos permite desvendar o Reino das Rosas, um espaço que me encantou e que encerra ideias muito interessantes, nomeadamente no que toca aos sonhos.

O desenrolar da ação não possui grandes surpresas e chega mesmo a apresentar algumas falhas. A sequência de acontecimentos é a esperada, o que faz com que o final se torne pouco memorável. Alguns dos momentos são demasiado convenientes e mesmo quando surge perigo percebe-se que tal só acontece por necessidade de o apresentar, uma vez que a autora não conseguiu transmitir a ideia de medo pelo futuro das personagens, apesar de existência de uma profecia dramática.

A autora mistura mitologia grega com crenças provenientes da cultura celta e ainda com contos tradicionais. Esta junção é interessante apesar de ficar a ideia de que poderia ter sido melhor explorado. A introdução de alguns elementos pode parecer algo forçada e apenas o lado conveniente à trama é exposto. O resultado é uma história agradável, romântica, pouco exigente e que é lida com rapidez. É uma versão de "A Bela e o Monstro" muito diferente das que até agora conheci e teve muitos aspectos que me agradaram.

Divina é um livro que dá a conhecer um romance bonito e apresenta um reino encantador repleto de magia. Uma história que revisita os contos de fadas, faz recordar seres mitológicos, possui momentos sensuais, mostra a força feminina, apela ao poder dos elementos e faz acreditar que o amor é capaz de tudo. Uma trama simples e pouco exigente que proporciona momentos de leitura agradáveis.

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