terça-feira, 8 de julho de 2014

Opinião: A Voz (Shadowfell #3)

Título original: The Caller (2014)
Autor: Juliet Marillier
Tradução: Catarina F.  Almeida
ISBN: 9789896575212
Editora: Planeta (2014)

Sinopse:

A surpreendente conclusão da trilogia que começou com Shadowfell, cheia de romance, intriga e magia. Há um ano, Neryn nada tinha a não ser um Dom Iluminado que mal compreendia e o sonho vago de que a mítica base rebelde de Shadowfell pudesse ser real. Agora, é a arma secreta dos Rebeldes e a sua grande esperança de fazerem vingar essa revolta secreta contra o rei Keldec, que terá lugar no dia do Solstício de Verão. O destino de Alban está nas suas mãos. Entretanto, Flint, o homem por quem se apaixonou, está no limite das suas forças enquanto espião na corte do rei e acumulam-se as suspeitas da sua traição. Em jogo, está a liberdade do povo de Alban, a possibilidade de os Boa Gente saírem dos esconderijos e a oportunidade de Flint e Neryn se unirem finalmente.

Opinião:

Finalmente o fim da trilogia Shadowfell! Estava muito curiosa quanto à forma como Juliet Marillier iria encerrar esta história encantadora que incluí um rei tirânico, uma terra antiga, um povo reprimido, seres mágicos, um grupo de rebeldes e ainda dons fantásticos. Confesso que também guardava alguns receios. Afinal, após a leitura dos dois volumes anteriores, tinha ficado com a noção de que neste livro haveria muito por explorar antes da conclusão e perguntava-me como a autora o iria fazer mantendo a coerência e a fluidez da trama. Felizmente, os meus receios foram infundados e a conclusão bastante satisfatória.

O início da leitura apresenta um ritmo lento. Isto acontece por as primeiras páginas possuírem muitas reflexões e pouca acção. É um tempo onde é preciso tomar decisões e onde as personagens necessitam reencontrar a motivação e a coragem necessárias para colocar em prática o plano da rebelião. Não foi uma fase que me tivesse entusiasmado, até porque se prolonga por mais tempo do que o que seria esperado. Contudo, a partir do momento em que Neryn encontra novas personagens, o ritmo começa a aumentar gradualmente, assim como o interesse pela história.

O encadeamento dos acontecimentos está bem conseguido, é coerente e não pareceu em momento algum forçado. Juliet Marillier surpreende com algumas escolhas inesperadas mas bem justificadas. Uma escolha mais arriscada de Neryn leva-a a um local muito interessante e fá-la conhecer e aproximar-se de outras personagens que nos fazem pensar no reino de uma forma diferente. É a partir deste momento que a leitura arranca a um ritmo rápido. A história torna-se cativante e fica cada vez mais difícil largar o livro.

Uma das coisas que muito apreciei neste livro foi a aproximação de Neryn ao lado inimigo. Desta forma, a autora demonstrou que numa batalha, os dois lados são compostos por humanos, o que faz com que os conceitos de bem e mal sejam relativos. É interessante perceber que entre soldados temíveis por todo o povo de Alban é possível encontrar homens possuidores de valores nobres e um bom coração. Até mesmo a percepção que temos do rei de Alban não é linear ao longo da leitura, o que faz pensar sobre as circunstâncias que transformam um homem. Uma lição que deve ser transportada para a realidade.

É interessante verificar a evolução das personagens mais relevantes ao longo da trilogia. Neryn, a protagonista, foi inicialmente apresentada como uma menina assustada e insegura. Agora, ela é uma mulher dona de uma grande coragem, com um coração aberto a todos os que demonstrem bondade e preparada para fazer o que for preciso para o bem comum. Já o Flint do primeiro livro era um homem misterioso, ponderado e que sabia esconder as suas fraquezas. Neste derradeiro volume, ela mostra-se fragilizado devido aos conflitos internos que vive, é um homem que desespera, que tenta a todo o custo continuar a lutar e que, apesar de todo o sofrimento, ainda é capaz de encontrar qualidades onde mais ninguém as vê. Ambos tornaram-se diferentes daquilo que eram no primeiro volume, mas mais completos e fortes.

Apesar de não ter encontrado a carga emotiva desejada ou de ter achado que faltava uma maior noção de perigo, a verdade é que fiquei muito satisfeita com este livro e com a conclusão. As histórias de Juliet Marillier fornecem sempre encantamento e uma sensação de esperança, e A Voz não é excepção. No final, fica a crença de que até as situações mais difíceis podem ser ultrapassadas desde que exista boa vontade e fé. A autora, ao confrontar duas personagens com dons idênticos, mostra ainda que a bondade prevalece ao desejo de poder. Para tal, é necessário ser fiel aos valores inciais.

A Voz encerra bem a trilogia Shadowfell. É um livro que remete para conceitos ligados ao druidismo, que fala de esperança, que apela à bondade entre todos os seres e que mostra que os valores mais humildes podem ser os mais poderosos. Acredito que vai agradar aos fãs de Juliet Marillier. Uma leitura que faz acreditar que após dias negros, chegam sempre tempos de sol.

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