terça-feira, 4 de setembro de 2012

Opinião: O Retrato de Dorian Gray

Título original: The Picture of Dorian Gray (1891)
Autor: Oscar Wilde
Tradutor: Margarida Vale de Gato
ISBN:  9789727083916
Editora: Relógio D’Água Editores (1998)
Sinopse:


Dorian Gray é um jovem de extrema beleza e que a todos encanta com a sua juventude. A sua imagem é muito admirada por Basil Hallward, um pintor que convence o jovem a posar para ele, de forma a conceber o seu retrato. Enquanto pousa no atelier do pintor, Dorian conhece Lord Henry Wotton, um bon-vivant cínico e irónico, que seduz o jovem com a sua visão do mundo, onde segundo o próprio, o único propósito da vida consiste na procura da beleza e do prazer.

Influenciado por Lord Henry, ao contemplar o resultado final do seu retrato, Dorian, tal Narciso, apaixona-se por si mesmo, e percebe que a beleza e juventude são efémeras, e deseja, mais do que tudo, trocar a sua imagem fugaz com a do retrato duradouro.

“Que tristeza! Eu serei velho, horrível e disforme, mas este retrato permanecerá sempre jovem…Mas se pudesse ser ao contrário! Se fosse eu que ficasse sempre jovem e o retrato envelhecesse! Era capaz…era capaz de tudo por isso! Sim, não há nada no mundo que não desse! Até a alma!”

Dorian Gray deixa de ser um jovem puro e ingénuo para passar a ser um homem hedonista, amoral, caótico, percebendo, com o tempo, que terá de acarretar as consequências dos seus actos.


Opinião:

O Retrato de Dorian Gray 
é um romance de natureza estética, inserido na sociedade aristocrática de Inglaterra do século XIX. Trata-se de uma obra literária que revela a natureza desta sociedade inerte, ociosa, supérflua e, consequentemente, a degradação dos valores humanos. O mito da eterna juventude é claramente evidenciado: o que é belo é bom e imortal, e o conhecimento, proveniente da experiência de vida, é desvalorizado, pois o que é velho não tem qualidades, provoca sofrimento e traz consigo a morte.

“Agora, onde quer que vá, o senhor deslumbra o mundo…quando a sua juventude o abandonar, também a sua beleza o abandonará, e então tomará a súbita consciência de que mais nenhuns trunfos lhe restam, ou terá de se contentar com esses mesquinhos triunfos que a memória do seu passado tornará mais amargos que derrotas.”

Existe pouca acção e muitos diálogos, o que, juntamente com o aspecto estético, a contemplação e os diálogos filosóficos enaltecidos, dá a entender a crítica a uma sociedade inerte, decadente e superficial, que procura os seus ideais na imagem e na contemplação da arte, em vez de proceder à acção.

Com personagens muito marcantes, O Retrato de Dorian Gray é uma obra deliciosa. Com um forte carácter reflexivo, é possível fazer um paralelo com a sociedade actual onde a busca do sentido da vida resume-se à procura de satisfação pessoal através do consumo, do prazer e do belo, como fuga ao envelhecimento e morte.


Esta pode não ser uma leitura leve, mas é, sem dúvida, imperdível.

2 comentários:

Marcos* disse...

Li esse livro pela primeira vez na faculdade, e o reli no ano passado, por ocasião do lançamento do mais recente filme inspirado nele - queria ter uma perspectiva mais embasada, em vez de comentar apenas a partir do filme. O Retrato de Dorian Gray é uma obra magnífica por inúmeras razões, desde a crítica de costumes até o uso eficiente que faz do elemento sobrenatural característico da literatura gótica. Você encontrará minha resenha do livro nos arquivos do meu blog, em maio de 2011, e asseguro que visitas e comentários serão altamente apreciados. Parabéns por este belo blog!

Cláudia disse...

Obrigada pela mensagem Marcos =)