quarta-feira, 23 de maio de 2012

Opinião: A Criança Roubada


Autor: Keith Donohue
Título Original: The Stolen Child (2006)
Tradução: Jorge Candeias
ISBN: 99789896370497
Editora: Saída de Emergência (2008)

A Criança Roubada é o primeiro romance de Keith Donohue. Aposta das Edições Saída de Emergência, esta fábula para adultos faz com que o autor norte-americano seja muito elogiado pela crítica.

Sinopse:

Numa noite, Henry Day foge de casa e esconde-se dentro de uma árvore oca. Aquele comportamento tornou-se mais perigoso do que o previsto, já que o pequeno rapaz foi encontrado por trasgos, uma tribo de crianças que não envelhecem e que vivem em segredo nas florestas. Henry é levado por este grupo e o seu nome rapidamente é trocado por Aniday. Destinado a permanecer no corpo de uma criança, Aniday tenta relembrar a sua vida entre os humanos ao mesmo tempo que se esforça por compreender aquela forma de vida a que foi forçado.

Mas a família do jovem não deu pela sua falta. É que quando os trasgos roubam uma criança, trocam-na por um dos seus, que se transforma e adquira o físico do desaparecido. Assim, este trasgo recebe a vida e identidade de Henry Day, mas existe algo que lhe é muito próprio que o pode denunciar: o seu talento extraordinário para o piano, vocação que o original não possuía. A mãe e as irmãs gémeas não desconfiam de nada, mas o pai, desconfiado, sente que algo de muito errado está a acontecer.

O leitor acompanha o crescimento destas duas personagens. Enquanto Aniday enfrente um mundo afastado da modernidade onde o mito impera, Henry Day é assombrado por memórias antigas de um local onde amava pessoas diferentes e falava uma língua que não aquela (afinal, também ele foi uma criança roubada e trocada por um trasgo).

Opinião:

Um dos fatores mais interessantes desta obra é mesmo a permanente insatisfação e busca pela identidade das duas personagens principais. Esta temática remete para um sentimento presente em cada ser humano, já que em certa fase das nossas vidas, todos nos questionamos sobre quem realmente somos e qual o nosso propósito no mundo.

O leitor que aprecia lendas e mitos vai apreciar a visão do autor sobre os trasgos, criaturas muito presentes no folclore do norte de Portugal. Conhecidos por serem criaturas travessas, estas almas de crianças que não foram batizadas gostam de pregar partidas aos humanos, e, por vezes, roubar bebés do seu berço e trocá-los por um dos seus.

Contudo, as constantes reflexões poderão levar a momentos de leituras mais aborrecidos e pouco estimulantes para quem está habituado a enredos compostos por cenas de ação. Para além disso, a temática do livro pode, inicialmente se enganadora, já que este esta longe de ser um livro juvenil. A trama é adulta e as questões que atormentam as personagens são complexas, apesar de se tratarem, numa primeira fase, de crianças.

O ritmo utilizado pelo autor é lento e pausado, a fazer lembrar a passagem do tempo ao longo da vida e à lentidão do crescimento. Não considero que seja uma leitura simples devido ao conteúdo, mas o tipo de linguagem utilizada é acessível.

A Criança Roubada é uma história sobre as dificuldades da vida, onde o realismo e a fantasia estão intimamente ligados. Agradável.

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