domingo, 16 de setembro de 2018

Opinião: Um Estranho Numa Terra Estranha - Vol. 2

Título Original: Stranger in a Strange Land (1961)
Autor: Robert A. Heinlein
Tradução: Jorge Candeias
ISBN: 9789897731143
Editora: Saída de Emergência (2018)

Sinopse:

Valentine Michael Smith encontra na Terra uma realidade muito diferente da que experienciou em Marte. As crenças e os rituais sagrados que aprendeu em Marte em nada se assemelham aos que encontra na Terra. A própria existência de Valentine torna-o alvo de uma intriga política. Neste 2.º volume de Um Estranho numa Terra Estranha, Robert A. Heinlein continua a apresentar-nos a história de Valentine e do seu processo de integração numa cultura marcada pela anarquia, partilha, amor livre e vida comunitária. Este clássico da ficção científica ainda hoje nos leva a questionar as nossas aspirações mais profundas e continua a despertar sentimentos fortes – por vezes contraditórios – nos leitores.

Opinião:

Quando escrevi a minha opinião a Um Estranho Numa Terra Estranha - volume 1 disse que estava ansiosa para ler rapidamente a segunda parte deste livro. Como tal, assim que me foi possível, peguei nele e concluí a leitura desta obra, que foi dividida nesta edição da Saída de Emergência. Felizmente esta publicação aconteceu poucos meses após o lançamento do primeiro livro, o que fez com que tivesse a história fresca na minha mente e, por isso, fosse natural entrar nesta narrativa e reencontrar as suas personagens.

Continuamos a acompanhar a adaptação de Valentine Michael Smith na Terra. Apesar de já estar mais por dentro de alguns assuntos, é ainda fascinante como este homem analisa aspectos da existência humana que todos vemos com normais e sobre os quais não procuramos grandes explicações. Desta forma, somos levados a interrogar situações que sempre tomámos como regra sem perceber o motivo para tal ser assim.

Fico fascinada pela forma como este Homem de Marte e Jubal se completam neste papel de fazer o leitor parar e refletir. É que enquanto o primeiro fornece uma visão ingénua pelo facto de realmente não ter conhecimentos base sobre o que quer que seja, o segundo é um homem que já pensou bem nas diversas vertentes do que está a ser analisado. Desta forma, Michael fornece-nos a frescura de um primeiro impacto, enquanto Jubal dá-nos uma análise que muitas vezes chega a chocar por até tocar em pontos que vão contra o que acreditamos ser correcto.

Os temas abordados nesta parte do livro são ligeiramente diferentes. Existe um grande foco na religião e no que leva à construção de uma Igreja. Não falo do edifício do templo, mas sim na comunidade de fiéis e nas regras que estes seguem para expressarem a sua fé. Achei esta direção pertinente e fiquei intrigada pelos caminhos seguidos pelo autor. Apesar de não concordar com todas as ideias expressas, acredito que este caminho faz sentido, tendo em conta o desenvolvimento de Michael.

É que o Homem de Marte passa por uma grande transformação. A evolução desta personagem desde o momento em que chega à Terra até à derradeira página deste livro está construída de forma consistente, credível e muito apelativa. É fácil acreditar que os estímulos que Michael recebeu desde que aterrou no nosso planeta o tenham levado a tornar-se naquela figura que encontramos na conclusão da obra. A forma como ele afetou quem com ele se cruzou também faz sentido, apesar de ter sentido um certo exagero na devoção quase cega de algumas personagens. Jubal, por seu lado, continuou consistente e a ser uma das minhas figuras preferidas.

A leitura requer alguma lentidão, de forma a ser possível compreender tudo o que está a ser apresentado e também para se refletir bem na forma como certos temas são tratados. Este não é um livro que deve ser apenas absorvido, mas que também tem de levar ao questionamento e fazer o leitor encontrar as suas próprias conclusões e ideias sobre os assuntos que são levantados. Ainda assim, está escrito de forma a conseguir cativar o leitor para a sua leitura, mesmo nos momentos mais parados.

Disse na minha opinião ao primeiro volume que este era um livro que queria ler há muitos anos, tendo ficado feliz por a Saída de Emergência ter apostado numa nova edição em português. Terminada a obra, percebe o motivo para ser considerada uma referência na Ficção Científica. Não se trata apenas de uma história que nos diverte, mas é sobretudo uma aventura que nos leva a colocar em causa tudo o que nos rodeia e o nosso modo de pensamento. Valeu a pena a espera.

 

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