domingo, 9 de setembro de 2018

Opinião: Mentes Poderosas

Título Original: The Darkest Minds (2012)
Autor: Alexandra Bracken
Tradução: Ana Mendes Lopes
ISBN: 9789897543675
Editora: Marcador (2018)

Sinopse:

Quando Ruby acorda no seu décimo aniversário, algo nela mudou. Algo suficientemente alarmante para os pais a trancarem na garagem e chamarem de imediato a polícia.

Um fenómeno inexplicável arrancou-a à vida que sempre conheceu e mandou-a para Thurmond, o assustador campo de reabilitação do governo destinado aos sobreviventes.

Ruby não sucumbiu à doença misteriosa que aniquilou a maioria das crianças nos Estados Unidos, mas ela e os outros prisioneiros tornaram-se algo muito pior, porque desenvolveram habilidades mentais poderosas que não conseguem controlar.

Opinião:

Quando ouvi falar pela primeira vez de Mentes Poderosas, fiquei logo interessada em ler o livro. A obra foi lançada em Portugal quase ao mesmo tempo que a adaptação cinematográfica chegou aos grandes ecrãs, mas eu tinha a certeza que queria ler antes de ver o filme. Fiquei com a certeza de ter ali uma visão mais completa sobre este novo mundo marcado por uma evolução inesperada e pelo medo, quer do desconhecido quer do castigo por se ser quem é.

O que mais gostei deste livro foi o conceito geral da história e a forma como a autora construiu este mundo. A ideia de haver uma geração que surge com uma evolução inesperada está bem conseguida pelo facto de Alexandra Bracken ter explorado o receio que isso provoca nos outros. Temos um evidente distanciamento entre adultos e jovens, sendo que os primeiros não compreendem e temem os mais novos, enquanto estes são reprimidos e não entendem o que lhes está a acontecer.

A criação de campos de controlo faz sentido, tendo em conta que estes nem sempre são apresentados por aquilo que são realmente. A forma como o tratamento nestes espaços afecta os jovens faz sentido e deixa adivinhar a necessidade de rebelião. Afinal, estamos a falar de um grupo de pessoas que está numa faixa etária definida pela busca de autoconhecimento e procura do seu lugar no mundo, sendo que a repressão intensifica estas problemáticas. Também foi curioso que a autora tivesse explorado as diferentes reações dos pais à nova condição dos seus filhos, percebendo-se que o amor e compreensão promovem ligações mais saudáveis e jovens mentalmente mais estáveis.

As diferentes capacidades destes jovens são muito curiosas, e a divisão que lhes é feita faz sentido. Achei curiosa a forma como Ruby conseguiu esconder durante tanto tempo os seus verdadeiros poderes. Contudo, o que aqui mais apreciei foi a resolução da autora para os casos mais poderosos por parte das figuras de poder. Trata-se de algo que faz sentido num mundo em que dinheiro e poder parecem governar tudo e todos, mesmo quando tal tenta ser disfarçado com altruísmo.

O desenrolar dos acontecimento é algo lento. Esperava uma leitura mais rápida, mas, ainda assim, senti que o meu interesse foi aumentando com o passar das páginas. O encadeamento da ação faz sentido e está bem conseguido, mas senti falta de personagens mais apelativas, profundas ou reais. À exceção de Chubs, a minha figura preferida, todos os outros pareceram algo insípidos. Ruby, a protagonista precisava de outras características para se tornar marcante.

Confesso que não fiquei totalmente agradada com a tradução. Não que note grandes falhas em termos de português, mas algumas referências bem conhecidas não passaram bem para a nossa língua. A certa altura existe uma referência ao conto do "João e Maria", o que me causou estranheza. Sei que este é o nome que no Brasil dão ao conto que em Portugal é conhecido por "Hansel e Gretel" e só percebi que era a esse que se referia na obra pela comparação de elementos. Este não foi caso único, sendo que nota-se que o trabalho de pesquisa não foi feito com referências do nosso país.

Mentes Poderosas é o início de uma série que nos faz pensar sobre crescimento, o medo do desconhecido, a coragem que é preciso ter para confiar nos outros, sentido de pertença e a dor do afastamento e/ou rejeição da família. Um livro que que vai agradar aos fãs de distopias e que, apesar dos pontos mais fracos, mantém a curiosidade sobre o que virá num volume a seguir.

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