quarta-feira, 23 de maio de 2018

Opinião: O Poder

Título Original: The Power (2016)
Autor: Naomi Alderman
Tradução: Sónia Maia
ISBN: 9789897731044
Editora: Saída de Emergência (2018)

Sinopse:

E se, um dia, as raparigas ganhassem subitamente o estranho poder de infligir dor excruciante e morte? De magoar, torturar e matar? Quando o mundo se depara com esse estranho fenómeno, a sociedade tal como a conhecemos desmorona e os papéis são invertidos. Ser mulher torna-se sinónimo de poder e força, ao passo que os homens passam a ter medo de andar na rua, sozinhos à noite. Ao narrar as histórias de várias protagonistas, de múltiplas origens e estatutos diferentes, Naomi Alderman constrói um romance extraordinário que explora os efeitos devastadores desta reviravolta da natureza, o seu impacto na sociedade e a forma como expõe as desigualdades do mundo contemporâneo.

Opinião:

Em O Poder, Naomi Alderman parte de uma simples premissa: e se as mulheres se fossem mais fortes do que os homens? A partir daqui dá-se uma verdadeira revolução social, com os papéis de ambos os géneros a serem colocados em causa. Afinal, o mundo é governado, regra geral, por sociedades patriarcais, havendo o conceito generalizado de que o homem, mais forte, tem o dever e direito de proteger a sua comunidade, sendo que a mulher, mais fraca, assume um lugar subserviente. Agora imaginem isto ao contrário.

Através dos pontos de vista de diferentes personagens, a autora apresenta-nos uma história de transformação e revolução social. De um momento para o outro, as mulheres começam a ter um estranho poder que lhes confere mais força. É curioso ver como este acontecimento é aceite em redor do globo. Nota-se que a autora foi capaz de se colocar na pele de cada uma destas personagens, pois as suas vivências e personalidades parecem-nos reais.

A história é narrada pelo pontos de vista de diferentes figuras, cada uma de origens e estratos sociais distintos. É interessante verificar que as mudanças são mais lentas nas comunidades em que as mulheres têm mais oportunidades, sendo que na situação inversa tudo acontece num rompante. Tal faz pensar no desespero sentido por se viver em repressão. Ao mesmo tempo, choca obervar a vingança executada por muitas destas mulheres, que fazem aos homens o que sofreram na pele. Quer tenham sido eles os autores de tais agressões quer não. Tal é revoltante e deixa perceber a mensagem de que, na verdade, somos todos iguais e acabamos por cometer os mesmos erros e pecados.

O facto de não existir efectivamente uma personagem principal, mas sim várias figuras que apresentam o seu ponto de vista, faz com que acabemos por simpatizar mais por umas figuras do que por outras. Ainda assim, é fácil compreender o que motiva cada uma destas pessoas, mesmo que custe a aceitar. Gostei ainda que a autora destacasse uma personagem masculina, de forma a dar uma visão mais abrangente deste mundo. As notas inciais e finais do livro são também muito curiosas pelo constraste que apresentam.

A evolução da narrativa está muito bem conseguida. Todas as personagens, apesar de inicialmente distantes e sem conhecimento comum, acabam por ver os seus destinos cruzarem-se. É como se existisse um núcleo que as atrai, mesmo nós sabendo que a fuga deste local seria mais segura. Como desenrolar da história, estas figuras passam por uma verdadeira transformação ao mesmo tempo que nos prendem a atenção por uma aventura que tem ritmo, propósito e nos faz questionar sobre diversos assuntos.

É incrível como um exercício de troca de papéis na sociedade pode causar tanta estranheza e nos fazer ponderar sobre o que é esperado de cada um de nós. Mas Naomi Alderman vai mais longe em O Poder. A autora deste livro incrível não só sensibiliza os leitores para as questões das diferenças dos géneros como ainda apresenta uma história emocionante, interessante e muito bem construída. Uma obra que certamente marca pela diferença e que nos deixa a pensar sobre como o poder pode transformar e até mesmo corromper tudo e todos. Recomendo.

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