domingo, 18 de fevereiro de 2018

Opinião: A Vida de uma Porquinha-da-Índia no Escritório

Título Original: De Verwarde Cavia (2016)
Autor: Paulien Cornelisse
Tradução: Susana Canhoto
ISBN: 9789897023521
Editora: Guerra e Paz Editores (2018)

Sinopse:

Esta é a vida da Cobaia. E quem é a Cobaia? É uma porquinha-da-índia, especialista em comunicação. Hipocondríaca, também. Afunda-se na rotina, trabalhando sem paixão. Todos os seus colegas são humanos, dá-se bem com eles, mas sente-se sozinha, acompanhada pela sempre leal máquina de café.
Vê a vida a passar, mera observadora. O seu antigo namorado vai casar-se e convida-a para o casamento. O novo chefe é o rufia de serviço: produtividade e inovação – acima de tudo! Stella, a tenebrosa responsável pelos Recursos Humanos, espera pelo mais pequeno deslize. Atormentada pelo trabalho, falhada nos amores, a Cobaia desespera.
A Cobaia é uma porquinha, já o dissemos, mas é também muito humana. Com depressões e tristezas, com dificuldades e falhanços, mas também com alegria e muitas amizades, a Cobaia somos todos nós. Poderá ela ser feliz? Poderemos nós ser felizes?

Opinião:

Um livro com sentido de humor que brinca com as rotinas de qualquer trabalhador e com as dificuldades que encontra em ambiente laboral. Paulien Cornelisse apresenta-nos Cobaia, uma porquinha-da-índia que trabalha num escritório. Esta ideia pode causar alguma estranheza, afinal quem de nós pensou em alguma vez trabalhar lado a lado com uma porquinha-da-índia? Contudo, a autora coloca esta personagem em situações comuns, sem que as pessoas que a rodeiam se mostrem intrigadas ou desagradadas com este facto. Basicamente, Cobaia pode ser vista como uma representação de qualquer trabalhador que, apesar de tudo, não consegue sentir-se totalmente integrado numa equipa e num ambiente.

Cobaia é uma figura que tenta passar à margem enquanto faz o seu trabalho. Não gosta de criar intrigas, sente-se incomodada com os colegas mais agressivos, é amorosa com aqueles que a tratam bem, preocupa-se com os que parecem infelizes e não tem grande vida social para além daquela que acontece com as figuras ligadas ao escritório. Tem uma personalidade calma, ponderada, gosta de passar despercebida e não tem grandes ambições. Está conformada e só quer não causar problemas e não ter desavenças. As circunstâncias em que se encontra em certos momentos e o facto de não ser uma figura humana é que captam a nossa atenção.

Como seria de esperar, o escritório onde Cobaia trabalha tem várias pessoas, cada uma com uma personalidade própria. Existem a fiel companheira, o colega divertido, o estranho e misterioso, a superior hierárquica perigosa e o chefe inconveniente e que causa desconforto. Estas figuras acabam por gerar circunstâncias que podem parecer semelhantes às de qualquer trabalhador, mas marcadas por algum exagero e humor subtil. É divertido ver Cobaia muitas vezes perdida nas suas próprias funções ou a defender propostas que nem ela entende.

A narrativa transmite a todo o momento uma sensação de que algo está a mudar. Não se trata de uma alteração repentina, mas algo lento e que poderá mudar para sempre a vida de Cobaia e dos seus colegas. A protagonista começa por encarar os pequenos indícios com temor, mas depois começa a surgir a ideia de que nada acaba ali. A autora parece que nos quer provar que um emprego, apesar de muito importante, não nos define enquanto pessoas. Trata-se de algo que deve ser tomado como uma parte da vida e não a vida em si. Como tal, o conformismo não é aceitável e é preciso ter uma visão mais ampla do que ainda pode ser feito.

Este é um livro que é lido com rapidez, graças aos capítulos muito pequenos e à curiosidade para descobrir o que vai acontecer a seguir. Contudo, gostaria de ter assistido a uma maior fluidez da narrativa, que muitas vezes pareceu ser apresentada por momentos e não por continuidade. Existem questões que podiam merecer maior desenvolvimento e o final, apesar de ser bastante apropriado, faz desejar mais explicações do que aquelas que são dadas.

Terminada a leitura, ficamos com a sensação que estamos perante um livro divertido que, de forma única, retrata a realidade de muitos de nós. Paulien Cornelisse apresentou o ambiente laboral num escritório de forma única e Cobaia foi uma personagem inesperada mas que nos levou a pensar sobre a nossa própria visão sobre a forma como encaramos e vivemos a nossa vida profissional. Uma história que, apesar de não ser perfeita, é facilmente transportada para a realidade e que nos faz avaliar a própria vida.


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