terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Opinião: Reino de Feras

Título Original: Fierce Kingdom (2016)
Autor: Gin Phillips
Tradução: Ester Cortegano
ISBN: 9789896655259
Editora: Suma de Letras (2018)

Sinopse:

Lincoln é um bom menino. Aos quatro anos, é curioso, inteligente e bem-comportado. Lincoln faz o que a mãe diz e sabe quais são as regras.
«As regras hoje são diferentes. As regras são que temos de nos esconder e não deixar que o homem da pistola nos encontre.»
Quando um dia comum no Jardim Zoológico se transfoma num pesadelo, Joan fica presa com o seu querido filho. tem de reunir todas as suas forças, encontrar a coragem oculta e proteger Lincoln a todo o custo - mesmo que isso signifique cruzar a linha entre o certo e o errado, entre a humanidade e o instinto animal.
É uma linha que nenhum de nós jamais sonharia cruzar.
Mas, por vezes, as regras são diferentes.
Um passeio de emoção magistral e uma exploração da maternidade em si - desde os ternos momentos de graça até ao poder selvagem. Reino de Feras questiona onde se encontra o limite entre o instinto animal para sobreviver e o dever humano de proteger os outros. Por quem deve uma mãe arriscar a sua vida?

Opinião:

Aqui está um livro que dificilmente deixa o leitor indiferente. Reino de Feras é um thriller intenso, repleto de adrenalina e que nos leva a questionar o que é próprio da humidade e até onde vão os nosso instintos mais básicos. Tendo como base um atentado a um Jardim Zoológico, vemos como em pouco mais de três horas uma pessoa pode colocar de parte todos os seus dogmas e valores para lutar pela sobrevivência... própria e de quem mais se ama.

Joan é a protagonista desta história. Trata-se de uma jovem mulher que surge, numa primeira fase, no papel de mãe. Joan consegue criar empatia imediata graças à forma como apresenta Lincoln, o filho, e como tenta entender e entrar no seu mundo. É enternecedor perceber as dinâmicas desta relação, que tem tantas peculiaridades próprias das ligações mais profundas entre dois seres que partilha um quotidiano. Joan conhece tão bem o seu filho que é capaz, através de truques, travar uma simples birra e até mesmo distraí-lo de um perigo mortal. Tudo para que o seu menino continue saudável, forte e feliz.

A história vai crescendo em intensidade, mas é curioso verificar que se sente uma certa tensão logo nas primeiras páginas. Gin Phillips consegue, através das descrições do ambiente, deixar perceber que algo não está bem. Quando finalmente Joan percebe que há pelo menos um homem a matar os visitantes do parque, o ritmo da narrativa começa a acelerar de tal forma que, as derradeiras páginas são lidas num ápice, quase como se também nós estivéssemos a correr e a lutar pela nossa vida.

Mas não é apenas a percepção de Joan que nos é fornecida. A autora optou por criar alguns capítulos com o ponto de vista de outras personagens: duas mulheres que também fogem dos assassinos e um dos criminosos. Estas adições foram um risco, pois acabam por quebrar com a história principal e a alterar um pouco o ritmo da própria acção. Contudo, acho que foi uma aposta ganha. Gostei muito que o lado do assassino fosse explorado, de forma a percebermos o que o levou ali, o que o motivou. Quando às outras mulheres, acabaram por ser uma lufada de ar fresco, levando-nos a pensar sobre as diferentes formas de lidar com situações limite e no facto de só descobrirmos as nossas reacções quando estamos a vivê-las.

Afinal, para além de uma história intensa, este livro leva-nos a pensar sobre o que faz de nós humanos. É curioso que isto aconteça num Jardim Zoológico, onde tantos animais selvagens e perigosos podem ser vistos. A autora faz deste espaço palco para situações que não são moralmente próprias dos humanos. Não estou apenas a falar das acções dos assassinos, que despoletam tudo isto, mas também das pessoas que lutam pela sobrevivência. A própria Joan vê-se em situações que a levam a tomar atitudes inesperadas para aumentar as hipóteses de sobrevivência do filho. Várias personagens fazem relatos de situações passadas que nos levam a questionar se a compaixão pelo outros e pelo mundo é realmente algo que está intrínseco ao ser humano.

No meio de tudo este terror, felizmente existe sacrifício e amor. Só isto nos faz acreditar que há esperança na bondade. Reino das Feras é uma obra intensa, muito intensa mesmo, que é muito mais do que uma simples aventura. Um livro que aplaude a maternidade nas suas mais variadas vertentes e que faz reflectir sobre moralidade e instinto animal. Gin Phillips dá-nos uma boa dose de adrenalina através de uma história que dificilmente será esquecida.


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