Título Original: Good Me, Bad Me (2017)
Autor: Ali Land
Tradução: Margarida Filipe
ISBN: 9789896652951
Editora: Suma de Letras (2017)
Sinopse:
Quando Annie, 15 anos, entrega a sua mãe à polícia espera um novo começo de vida — mas será que podemos realmente escapar ao nosso passado? A mãe de Annie é uma assassina em série. Annie ama a sua mãe, mas a única maneira que tem de a fazer parar é entregá-la à polícia. Com uma nova família de acolhimento e um novo nome — Milly —, espera um novo começo. Agora pode ser quem quer. Mas, com o julgamento da mãe à porta, os segredos do passado de Milly não vão deixá-la dormir… Quando a tensão sobe, Milly vai ter de decidir: será uma menina boa? Ou uma menina má? Porque a mãe de Milly é uma assassina em série. E ela é sangue do seu sangue.
Opinião:
Este é um daqueles livros que prende desde as primeiras páginas. Daquele que, mesmo quando percebemos o rumo que está a tomar, não queremos largar na ânsia de realmente ver o que vai acontecer. Gostei muito de Menina Boa, Menina Má de Ali Land. É um livro que intriga, faz sentir compaixão e ainda assim choca.
Annie é a protagonista desta trama e a figura que nos desafia do início ao fim. O contexto em que esta jovem de 15 anos nos é apresentada cativa pela morbidez. Afinal, Annie denunciou a mãe, uma serial killer, às autoridades e agora está a viver numa família de acolhimento e a preparar-se para o julgamento, da qual é uma das principais testemunhas. Logo aqui conseguimos sentir empatia desta jovem, mas Annie é mais do que uma vítima, é uma personagem que nos desafia devido às imensas camadas que sugere ter. E tem mesmo.
Conforme a trama se vai desenrolando, vamos percebendo melhor a forma como funciona a mente desta protagonista. Ao início, percebemos que é dona de uma grande coragem por ter tido a capacidade de escapar de uma situação doentia, mas depois vamos questionando o quanto poderá ter ficado afectada por ter sido educado por uma mulher de mente tão perversa. Aqui, Ani Land leva-nos a questionar sobre o quanto a educação nos define, assim como a genética. Somos produto do meio em que nos encontramos e das pessoas que nos rodeiam ou conseguimos ir além disso?
Conforme Annie se vai preparando para o dia em que tiver que testemunhar os crimes na mãe em tribunal, vamos também ficando cada vez mais a par dos contornos diabólicos dos mesmos. A atitude manipuladora desta assassina faz-nos perceber que é muito difícil entender, de verdade, as intenções dos outros, mesmo quando estas nos parecem benéficas. Trata-se de uma ideia incómoda. Além disso, conforme surgem mais informação, vão aparecendo também dúvidas sobre a veracidade de tudo o que nos é relatado. Aqui, a autora faz-nos reflectir sobre os conceitos de "bom" e de "mau", sendo que aquilo que é aceite pelo individuo pode não o ser pela sociedade, e vice versa.
Annie é colocada ao lado de Phoebe, a filha do casal que acolheu a protagonista, e as diferenças entre ambas são evidentes. Contudo, esta distinção consegue ir para além do que cada uma exterioriza. o confronto inevitável coloca ao de cima as piores qualidades de cada uma. A primeira quer ser aceite num meio familiar onde se sente bem, a segunda quer sentir que é amada pelos progenitores, que parecem ter sempre outras prioridades. Contudo, a forma como tentam obter o que desejam faz-nos pensar sobre como muitas vezes vemos os outros como rivais quando, na verdade, podem ser bons parceiros. O culminar desta relação não surpreende, mas impressiona.
A leitura desta obra é viciante e, por isso, avança a um bom ritmo. A trama é narrada na primeira pessoa, o que nos fornece uma noção de maior proximidade com a protagonista, mas ainda assim consegue manter o mistério sobre esta figura. Menina Boa, Menina Má é um livro que deixa a sua marca. Uma história que foi claramente escrita por alguém que percebe o quão desequilibrada uma mente pode ser e, ainda assim, parecer saudável e de confiança. Perturbador e delicioso, como um bom thriller deve ser.
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