quarta-feira, 21 de junho de 2017

Opinião: A Química dos Nossos Corações

Título Original: Our Chemical Hearts (2016)
Autor: Krystal Sutherland
Tradução: Paulo M. Morais
ISBN: 9789720048608
Editora: Porto Editora (2017)

Sinopse:

Henry Page não esperava apaixonar-se. Considera-se um romântico, mas nunca viveu aquele momento em que o tempo para, a barriga se enche de borboletas e a música começa a tocar, sabe-se lá onde. Pelo menos, até ao momento.
Então, conhece Grace Town, a esquiva nova colega de escola, que se veste com roupa de rapaz demasiado grande, apoia-se numa bengala, parece tomar banho poucas vezes e esconde segredos desconcertantes. Não é bem a rapariga de sonho que Henry esperava, mas quando os dois são escolhidos para coordenar o jornal da escola, a química acontece. Depois de tantos anos a salvo do amor, Henry está prestes a descobrir como a vida pode seguir um caminho tortuoso e como, por vezes, os desvios são a parte mais interessante desse mesmo caminho.

Opinião:

Krystal Sutherland recorda-nos das emoções e dramas que vivemos com o nosso primeiro amor em A Química dos Nossos Corações. Mas este não é o único tema forte que a autora aborda neste livro, que apesar de ser destinado a um público mais jovem, também proporciona uma boa leitura aos mais maduros. Luto, rejeição, família e amizade são outros dos pontos em destaque nesta obra que é decorada com avidez.

Henry Page, o protagonista, é um jovem de quem é muito fácil gostar. Ele é o típico rapaz que está no último ano do liceu que sempre se destacou por ser um aluno acima da média, responsável, mas que no campo social deixa algo a desejar. É amoroso, divertido, algo trapalhão e dono de um grande coração. Quis vê-lo sempre bem, achei graça à forma como o amor chegou ao seu coração, mas nem sempre concordei com as suas decisões, que muitas vezes pareceram demasiado impulsivas, dignas de um adolescente que não observa as situações tal como elas merecem.

Grace Town, por ser lado, é um mistério a ser desvendado. Tanto para Henry como para o leitor. Trata-se de uma personagem que cativa, apesar e não ser uma aquelas de que se gosta. A estranheza da sua personalidade e das reações que tem em certas situações levam o leitor a querer descobrir o que lhe aconteceu. Afinal, percebe-se perfeitamente que se trata de alguém que está psicologicamente afectado por um evento passado, e a vontade de descobrir o que aconteceu e quem ela era antes de tudo isso leva-nos a querer aproximar dela.

Gostei da forma como a autora abordou a relação de Henry com Grace, passando por diversas fases e dando credibilidade a esta ligação. Faz-nos pensar que estas são relações que, regra geral, se iniciam com um simples encanto, que levam os seus intervenientes e amarem mais a ideia que construíram do outro do que o que o outro realmente é. Como tal, a descoberta do suposto amado traz dor e desilusão, uma vez que não corresponde à ideia criada. Krystal Sutherland mostra-nos, através das muitas relações que apresenta, que o amor tem de ser sempre cultivado e cuidado, que só existe quando os intervenientes estão dispostos a aceitar-se com realmente são.

A questão do luto mostra-nos como a partida de alguém pode afectar os que ficam. Faz-nos pensar na grande dor que se vive, mas também as diferentes formas de lidar com ela. Ao analisar o comportamento destas personagens, conclui-se que cada pessoa deve ter direito ao seu tempo, mas que tal não significa que também deve usar os outros para os eu proveito. É que se por um lado existe a compreensão do que se está a viver, por outro existe a revolta da mágoa que causa a terceiros que podem não entender o que está realmente a acontecer. Achei que, neste livro, algumas questões foram abordadas com demasiado dramatismo e senti necessidade de mais algumas explicações sobre o passado.

A leitura é feita num ritmo rápido, uma vez que a história agarra e nos leva a querer descobrir o que vem a seguir. Apesar de abordar temas fortes, estes acabam por não serem pesados devido à forma como são abordados e à componente de humor que existe em grande parte do livro. Existem momentos muito divertidos, especialmente entre Henry com os seus amigos e família. Mais ainda assim, a autora prova que o humor nem sempre significa que está tudo bem, podendo ser uma máscara para algo mais.

A Química dos Nossos Corações é um livro que nos apresenta questões importantes de uma forma muito agradável. Apesar do dramatismo dos tempos de adolescente, deixa-nos a lição de que amor não só é bom como é importante, mas que também é preciso saber lidar com os lados menos felizes deste sentimento. Um livro que aborda temas reais com sentido de humor e que nos dá esperança, mesmo quando acreditamos que nada de melhor pode surgir. Uma leitura de que gostei muito.

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