terça-feira, 27 de junho de 2017

Opinião: Os Passageiros do Tempo (#1)

Título Original: Passenger (2016)
Autor: Alexandra Bracken
Tradução: Hugo Gonçalves
ISBN: 9789897543166
Editora: Marcador (2017)

Sinopse:

Numa noite devastadora, em Nova Iorque, Etta Spencer, uma violinista prodígio, perde tudo o que conhece e ama. Enganada por uma mulher estranha e misteriosa, Etta vê-se subitamente a viajar, não apenas milhares de quilómetros, mas centenas de anos, descobrindo assim um dom herdado de uma família que ela nem sequer conhecia.
Nicholas Carter, ex-escravo, está feliz com a sua vida no mar, a bordo de um navio pirata, após se livrar da poderosa família Ironwood, nas colónias inglesas da América do Norte. Mas, com a chegada de uma passageira invulgar ao seu navio, o passado volta a agarrá-lo e Nicholas vê-se de novo nas garras da família que o subjugou.
Juntos, Etta, uma miúda nova-iorquina do século XXI, e Nicholas, um marinheiro negro do século XVIII, embarcam numa viagem perigosa através dos séculos e de vários continentes, da Revolução Americana à Segunda Guerra Mundial, das Caraíbas a Paris, seguindo e interpretando pistas deixadas por um viajante do tempo que fez tudo para esconder dos poderosos Ironwood o objeto misterioso

Opinião:

A ideia de viajar no tempo sempre me atraiu. Portanto, assim que soube que Os Passageiro do Tempo ia ser publicado em Portugal, soube que tinha de ler este livro assim que possível. A premissa principal desta obra de Alexandra Bracken é original. Apesar de tratar de um tema que já foi apresentado vezes sem conta, gostei que a autora tivesse abordado com maior ênfase a questão do poder e ainda das diferenças de mentalidades e culturais que foram sendo registadas ao longo das épocas.

Etta é uma jovem reprimida do nosso tempo, que tem muito para dar mas que concentra todas as suas atenções e forças numa atividade. Por isso, quando falha na única coisa em que sempre se concentrou, Etta sente-se devastada e começa a colocar em causa tudo o que perdeu e até mesmo o papel da sua mãe. Ela acaba por se ver numa situação impensável e descobre um segredo que sempre lhe foi escondido. É aqui que a magia acontece e começa uma grande aventura. Gostaria que tivesse existido um choque maior, mas gostei que ela, aos poucos, se acabasse por revelar corajosa e determinada em fazer o melhor por um bem maior.

Nicholas é o outro protagonista. Ele vem de uma época anterior e é aos poucos que percebemos a sua história e em como esta o moldou. A sua angústia e luta não é percebida imediatamente, mas faz todo o sentido. Entendo o motivo pelo qual ele se retrai, mas gostava que, mais à frente na leitura, tivesse mostrado com mais facilidade as sua intenções e verdades. Apesar de se encontrar numa situação dúbia, acaba por ser o guia de Etta nesta aventura, sendo também ele quem acaba por explicar ao leitor as problemáticas das viagens do tempo, assim como as suas possibilidades.

As personagens secundárias estão muito bem conseguidas e dão à história novas camadas e tornam tudo muito mais interessante. Gostei do lado dos Ironwood, pois, apesar de eprovar as suas atitudes, aumentaram o meu interesse sobre a história dos viajantes do tempo. Esta família justifica as aventuras que Etta e Nicholas têm de viver e, assim, dão sentido à trama. Quero saber mais sobre o patriarca deste clã e sobre a forma como consegue dominar várias épocas com a sua influência. O papel da mãe de Etta e da sua guardiã também está muito bem conseguido e fez-me pensar sobre os sacrifícios que outros fazem sem nunca os revelarem.

A componente do romance acabou por ser a parte que menos me agradou. Tal como se percebe logo ao início, as duas personagens principais desenvolvem sentimentos uma pela outra, mas não achei que estes estivessem bem justificados. Era preciso mais do que a atração imediata e a adrenalidade da situação para fazer o leitor acreditar na veracidade dos seus sentimentos. Afinal, as circunstâncias dão motivos para esta forte ligação, mas seria preciso algo mais para me fazer acreditar no amor.

É curioso que, apesar de estudarmos História e sabermos que as mulheres e todas as pessoas que não fossem caucasianas foram, até há bem pouco tempo, vistas como inferiores, é sempre um choque constatar essa realidade. Etta sente revolta quando vê este tipo de discriminação e tem dificuldade em entender o motivo de esta existir, apesar de reconhecer que não está a viver na sua época. Acredito que, mesmo com todo o conhecimento sobre o passado, iria reagir da mesma forma perante as situações que os dois protagonistas encontraram no seu caminho. Saber não é o mesmo que aceitar.

Com personagens fortes, um novo olhar sobre a História, um enredo que cativa e uma aventura original, Os Passageiros do Tempo torna-se uma leitura que marca pela diferença e que nos faz pensar sobre como a humanidade evoluiu. O início de uma saga que promete continuar a surpreender e que espero ter a oportunidade de acompanhar.

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