quarta-feira, 22 de março de 2017

Opinião: Em Fuga

Título Original: Runaway (2015)
Autor: Peter May
Tradução: Ana Mendes Lopes
ISBN: 9789897542985
Editora: Marcador (2017)

Sinopse: 

Em 1965, cinco amigos, todos adolescentes, cansados da rotina e temerosos de uma vida previsível, fogem de Glasgow com destino a Londres e o sonho de serem estrelas e de transformar a sua banda de música num sucesso.

No entanto, antes do final do primeiro ano, três deles regressam á sua cidade natal na Escócia - e voltam diferentes, danificados, sem que ninguém perceba a razão para tal.

Cinquenta anos mais tarde, em 2015, um brutal homicídio na capital inglesa obriga esses três homens, agora com quase 70 anos, a regressar a Londres e a confrontar, por fim, a mancha escura do seu passado da qual tentaram fugir durante toda a vida.

Opinião:

Em Fuga foi o primeiro livro que li de Peter May e digo já que fiquei bem impressionada com o autor. A história reúne vários ingredientes que muito me agradaram e prendeu-me desde o primeiro momento. Adorei a forma como os dois tempos foram relatados, sendo cada um deles adequado à idade do protagonista.

Neste livro, acompanhamos Jack em duas aventuras: uma quando tem 17 anos e outra aos 67. Adorei o contraste que existe entre a mesma pessoa em duas épocas tão distintas da sua vida. O Jack mais novo é intrépido, não tem tanta noção dos riscos e nem mede as consequências das suas ações, o que tanto diverte como nos faz ter vontade de o chamar à razão e até puxar uma orelha. Já o Jack mais velho é um homem que conseguiu encontrar uma melhor versão de si mesmo, alguém que queremos ver feliz. É curioso que os capítulos das duas épocas são narrados de forma diferente. Se em 2015 a história é contada na terceira pessoa, em 1965 tal acontece na primeira, se calhar para dar mais evidência ao egocentrismo da juventude.

É curioso que, apesar das épocas distintas, Jack e os seus amigos vivem aventuras muito semelhantes. Têm o mesmo ponto de partida e de chegada, além de que passam por locais semelhantes. É curioso ver como encaram as dificuldades de forma distinta, mas sem nunca perderem o espírito aventureiro. Também é interessante ver a evolução de cada membro deste grupo, sendo que tal nos faz pensar sobre o como as nossas decisões são importantes para o rumo da nossa vida. Destaco ainda a evolução do neto de Jack ao longo da narrativa, assim como da relação entre avô e neto.

Existem elementos de policial neste livro, mas numa quantidade menor da que estava à espera. Afinal, o motor da trama é a concretização de um último desejo, sendo que, no meio disso, um mistério acaba por ser resolvido. Contudo, o leitor só percebe do que está à procura só mais perto do fim, o que faz com que a procura por um culpado e um motivo não aconteça desde o início. Mas existem outros elementos que despertam interesse e nos cativam para a leitura.

O desenrolar da narrativa começa de forma algo lenta, mas assim que os grupos inicia viagem que o ritmo se torna cada vez mais rápido, até ser quase impossível parar de ler. Os obstáculos tanto divertem como demonstram perigo, o que nos leva a pensar nas armadilhas da sociedade. Contudo, a certa altura, existem imensas referências à cultura pop que são uma verdadeira delícia.

Este livro dá uma boa lição aos mais jovens. Mostra que as pessoas de mais idade também já foram novas, mas não o faz com um recordação, mas sim com momentos verdadeiros e com os quais é fácil sentir identificação. Além disso, mostra a quem tem mais idade que nunca é tarde para viver uma aventura, ter novas experiências, arrepender e começar tudo de novo.

Gostei muito da leitura de Em Fuga, apesar de não ser bem aquilo que estava à espera. Este livro não deve ser encarado tanto como um policial, apesar do crime que é resolvido, mas mais como uma aventura que traz auto-descoberta e nos faz pensar tanto no rumo que estamos a tomar como a dar mais importância aos ensinamentos dos que são mais velhos. Afinal, um dia seremos nós no lugar deles, e também teremos, com toda a certeza, muito para contar. E para viver.

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