Opinião: Desaparecidos

Título Original: De forsvunna (2015)
Autor: Caroline Eriksson
Tradução: Patrícia Xavier
ISBN: 9789896651978
Editora: Suma de Letras (2017)

Sinopse:

Em torno dela, apenas silêncio.
Greta acorda e percebe que Alex e Smilla ainda não voltaram. Saíram do barco para um passeio na ilha no meio do lago Maran, enquanto ela permaneceu a bordo, a descansar. Mas agora o sol está a desaparecer por detrás das árvores, desenhando línguas vermelhas no céu. A água, fria e imóvel como uma pedra. E greta não sente nem a voz reconfortante de Alex nem o riso alegre de Simlla. Vai para terra procurá-los, mas rapidamente percebe que eles não estão na pequena ilha. Desapareceram.

Greta regressa a casa, à beira do lago, onde a família está a desfrutar de alguns dias de férias. Também não estão lá- E as chamadas para o telemóvel de Alex vão sempre parar ao implacável atendedor.
Mas Greta não pode ficar assim, sem fazer nada. Reúne toda a sua coragem e vai à polícia denunciar o desaparecimento do marido e da filha.

Na esquadra da pequena vila mais próxima, Greta encontra um jovem agente. O polícia ouve a sua história e, após fazer algumas verificações no compitador, diz-lhe que greta não é casada e que nunca teve filhos...
Mas quem são então Alex e Smilla? Porque desapareceram? E o que esconde Greta? Qual é a sua história? Está a mentir ou é ela a única a dizer a verdade?

O marido e filha desapareceram. Mas ela não é casada e nunca teve filhos….

Opinião:

Desaparecidos é um livro intrigante e que nos deixa na dúvida sobre o que realmente está a acontecer até ás últimas páginas. A autora, ,Caroline Eriksson, faz-nos pensar em diferentes cenários, pretextos e até mesmo naturezas da protagonista, mas mesmo assim consegue surpreender com as revelações finais.

Greta, a protagonista, é apresentada como uma mulher que, durante uma escapadinha familiar, percebe que o companheiro e a filha desapareceram. Perante tais circunstâncias, somos levados a imaginar o que poderá ter acontecido, mas depressa sentimentos que existem muito pontos que não fazem sentido. A partir daqui duvidamos de tudo.

Não é fácil entender Greta. Trata-se de uma personagem complexa, que se vai revelando ao deixar cair as camadas que a compõe. Através do que está a acontecer e da forma como a narração esta a ser feita, é fácil atribuir-lhe diferentes personalidades. Como tal, tanto a vemos enquanto vítima como enquanto culpado, e só na conclusão da obra conseguimos ter a certeza de quem ele é. Confesso que fiquei bem impressionada com esta figura e, no final, consegui compreender os diferentes pontos de vista que tive acerca dela.

A leitura tem um bom encadeamento, intercalando momentos do presentes com recordações do passado que dão pistas sobre a protagonista e, desta forma, sobre a resolução do mistério. A autora encaminha para diversas teorias, e isso é muito estimulante. É verdade que várias situações descritas acabam por ser ambíguas, mas a autora escreveu-as mesmo com esse propósito. É preciso ter alguma atenção durante a leitura para se perceber em que espaço temporal decorreram certos eventos e quais foram as personagens que realmente executaram as ações descritas. Se isto for tido em conta, surgem ainda mais pistas para a resolução deste mistério.

E se no início tinha ficada a ideia de que este livro iria abordar um crime, no final percebe-se que esta é uma história que pode ser mais comum na vida real do que pode aparentar. Desaparecidos aborda, com originalidade, temas que, a mal ou a bem, fazem parte do quotidiano e dificilmente vão deixar de estar presentes. Uma obra que nos faz pensar sobre a ligação entre mãe e filhos, manipulação nas relações, alienação parental e violência doméstica, tanto a nível físico como psicológico e emocional.

Recomendo a leitura de Desaparecidos. Acreditava estar perante um mistério que me iria entreter, mas, chegada à última página, percebi que esta era uma história forte e que tem uma mensagem pertinente e atual. Não consegui deixar de pensar sobre o que tinha lido, tendo, por várias vezes, revisitado a trama na minha mente, agora que já tinha acesso à verdade. Os elogios que Caroline Eriksson está a receber são merecidos.