sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Opinião: Legado nos Ossos (Trilogia do Baztán #2)

Título Original: Legado en los huesos (2013)
Autor: Dolores Redondo
Tradução: Ana Maria Pinto da Silva
ISBN: 978989657756
Editora: Planeta (2016)

Sinopse:

O julgamento do padrasto da jovem Johana Márquez está prestes a começar. A ele assiste uma grávida Amaia Salazar, a inspectora da Policía Foral que há um ano resolveu os crimes do denominado Basajaun, que semearam de terror o vale do Baztán. Amaia também reuniu as provas incriminadoras contra Jasón Medina, que imitando o modus operandi do Basajaun assassinou, violou e mutilou Johana, a filha adolescente da mulher. De repente, o juiz anuncia que o julgamento será cancelado: o réu acaba de se suicidar na casa de banho do tribunal. Face à expectativa e à irritação que a notícia provoca entre a assistência, Amaia é chamada pela polícia: o réu deixou um bilhete de suicídio dirigido à inspectora, um bilhete que contém uma mensagem concisa e inquietante: Tarttalo. Essa única palavra que remete para a personagem fabulosa do imaginário popular basco desvendará uma trama terrífica que envolve a inspectora até culminar num trepidante desfecho.

Opinião:

Ao pegar no segundo volume da Trilogia do Baztán, já esperava encontrar a junção entre thriller e misticismo que encontrei em O Guardião Invisível. Porém, foi com surpresa que reparei que o crime que move toda esta narrativa não é algo completamente novo, mas sim algo que está relacionado com o livro anterior. Desta forma, percebe-se que Dolores Redondo pensou muito bem nestes livros antes de os escrever, além de que esta ligação entre tramas faz com que tudo parece natural e até real.

Desta vez senti maior empatia por Amaia. A protagonista está a dar os primeiros passos na maternidade e, como tal, foi com interesse que observei a forma como tenta conciliar esta nova vida familiar com uma profissão tão exigente. Compreendi as suas dúvidas, os seus receios, a vontade de querer fazer tudo e a frustração de não conseguir cumprir. Além disso, achei interessante que a autora tivesse ainda explorado a relação de Amaia com James para mostrar como um romance pode tão facilmente perder-se quando não é cultivado.

James voltou a não me deixar encantada, mas já a tia e as irmãs de Amaia sempre me pareceram reais e bem conseguidas. Confesso que tenho alguma dificuldade em distinguir a maior parte dos agentes que trabalham com a protagonista, não sei se por causa do seu número, dos seus nomes ou por não conseguir encontrar algo que realmente os individualize. Gostei do foco que foi dado ao juiz Markina, não tanto por ele mas por aquilo que representa.

Os crimes e a forma como estavam ligados era um grande atrativo e estavam muito bem conseguidos. Durante muito tempo não consegui perceber de que forma tudo poderia estar ligado, e fiquei até assustada com as coincidências que iam acontecendo. Mais para o fim, comecei a entender onde poderia estar a origem de tudo, mas mesmo assim só entendi o que realmente se passava ao mesmo tempo que Amaia. As últimas páginas são de cortar as respiração e conseguem explicar todos os pontos muito bem.

Desta vez, o misticismo sugeria algo maior, mas acabou por estar mais ligado à superstição. Gosto muito desta componente e acredito que foi utilizada na medida certa. Quem é mais cético pode não apreciar muito este lado da trama, mas, a mim, é algo que me atrai e que, a meus olhos, faz com que esta trilogia se destaque. Dentro deste campo, destaco a tia e a mãe de Amaia, sendo que uma representa uma proteção familiar e calorosa e a outra um perigo e uma sensação de terror de fazer arrepiar. Fico, apenas, com algumas dúvidas em relação a um certo conceito de mal que surgiu.

Terminada a leitura, fica uma sensação de satisfação. Estive perante uma boa história, que me conseguiu levar para um ambiente de disparidades e muitos mistérios e que conseguiu aprofundar uma história familiar que pode ainda ter muito para contar. Quero muito ler o último volume desta trilogia, Oferenda à Tempestade, para verificar que novas surpresas Dolores Redondo guarda para os seus leitores.

Outras opiniões a livros de Dolores Redondo:
O Guardião Invisível (Trilogia do Baztán #1)

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