sexta-feira, 8 de julho de 2016

Opinião: A Rapariga que Sabia Demais

Título Original: The Girl with All the Gifts (2014)
Autor: M. R. Carey
Tradução: Patrícia Xavier
ISBN: 9789896650988
Editora: Nuvem de Tinta (2016)

Sinopse: 

Melanie é uma menina muito especial. Tem 10 anos e adora ir à escola, aprender coisas novas, falar com a professora Justineau sobre todas as coisas que fará quando crescer...Mas a ida à escola implica aguardar todos os dias na suas cela que homens armados venham buscá-la para a levar, amarrada a uma cadeira de rodas, para a sala de aula. Brinca com eles, diz que não morde. Mas ninguém se ri. Melanie tem um dom, mas nem todos os dons são uma benção. Uma Humanidade moribunda e irrecuperável é o palco de "A Rapariga Que Sabia Demais", um livro ambicioso e apaixonante cuja carga emocional esmagadora o destina a ser um dos romance mais marcantes do ano, que chegará também ao grande ecrã.

Opinião:

Tinha muito curiosidade quanto a este livro e fiquei feliz por saber que ia ser publicado em Portugal. Ao início, senti-me atraída e intrigada com o ambiente da narrativa. M. R. Carey, o autor, não explica imediatamente o que está a acontecer a Melanie, a protagonista, e, como tal, surgem muitas dúvidas. Afinal, a situação em que ela vive está muito distante de ser considerada comum para uma criança. Com o desenrolar da trama vão surgindo pistas, fui colocando várias hipóteses, até que, finalmente, tudo se torna claro.

As personagens secundárias não são muitas, o que se entende devido à situação apresentada. Como tal, é possível conhecer de forma mais profunda algumas delas. Acho que é impossível não gostar de Justineau, que acaba por surgir quase como uma figura materna. Parks é um soldado sobre o qual a minha opinião variou consoante o momento da história. Já Caldwell gerou sempre antipatia, apesar de entender que o seu propósito é representar aqueles que não olham a meios para alcançar o que acreditam ser um bem maior.

A narração é realizada sob o ponto de vista de diferentes personagens, o que permite uma visão mais alargada do que está a acontecer e das motivações de cada um. Esta foi uma boa opção. Assim, foi possível assistir à ingenuidade, devoção, curiosidade e aceitação de Melanie e assistir a algo tão terrível com a esperança de uma criança. Ao mesmo tempo, entende-se a visão dos adultos, que cedem mais facilmente ao desespero e que têm maior dificuldade em aceitar a bondade dos outros.

O meu ritmo de leitura foi alterando conforme os momentos da narrativa. O início decorreu com entusiasmo, mas confesso que, a partir de certo momento, comecei a abrandar. Isso aconteceu porque não concordei em pleno com certas decisões e, por isso, não fiquei completamente agradada com o caminho que se seguiu. Porém, a certa altura surge nova reviravolta e a partir daí continuei a ler de forma ávida até à última página.

A realidade que este livro apresenta é assustadora. Faz pensar sobre a evolução da vida e sobre como tudo está em constante mudança. Ao contrário de muitas outras obras que procuram explorar uma visão negativa do futuro e que usam a ação humana como instrumento para a nossa própria destruição, M. R. Carey inspirou-se num outro conceito e leva-nos a, por momentos, temer a natureza.

O final é inesperado, mas muito apropriado. De certa forma, consegue ser triste, melancólico e esperançoso ao mesmo tempo. Ao concluir a leitura,senti-me satisfeita com as lições e o destino dado às diferentes personagens. A Rapariga que Sabia Demais é um livro que se diferencia dos outros e que deixa a sua marca.

Sem comentários: