quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Opinião: O Guardião Invisível (Trilogia do Baztán #1)

Título Original: El Guardián Invisible (2012)
Autor: Dolores Redondo
Tradução: Pedro Oliveira
ISBN: 978989657756
Editora: Planeta (2016)

Sinopse:

Nas margens do rio Baztán, no vale de Navarra, é encontrado o cadáver seminu de uma adolescente em circunstâncias que posteriormente é relacionado com um homicídio ocorrido na região meses antes. Amaia Salazar, inspectora de homicídios da Policía Foral, é encarregue de dirigir uma investigação que a levará a Elizondo, uma pequena localidade onde nasceu e de que tentou fugir toda a vida. Forçada a enfrentar os desenvolvimentos cada vez mais complicados do caso e com fantasmas familiares que a perseguem, a investigação de Amaia é uma corrida contra o tempo para encontrar um assassino capaz de mostrar a face mais aterradora de uma realidade brutal, evocando ao mesmo tempo as criaturas mais inquietantes das lendas e do esotérico do Norte de Espanha.

Opinião:

Gostam de misticismo e de histórias de crimes? Então incluam O Guardião Invisível entre as próximas leituras a fazer. Dolores Redondo apresenta uma trama que, inicialmente, sugere ser um policial que será resolvido com métodos comuns, tal como é habitual, mas à medida que a narrativa vai evoluindo, vai sendo possível detetar elementos de tradição mitológica do País Basco, até se chegar a um ponto em que ciência e tradição se misturam.

Amaia é a protagonista desta trama. A autora tenta mostrar que esta mulher tem diferentes posturas relativamente à vida profissional e pessoal. Como inspectora líder de uma investigação, é uma mulher forte, que sabe como marcar a sua posição num mundo tão masculino. Como mulher, revela as suas fraquezas e inseguranças e refugia-se no amor do marido. Pode não ter o tipo de personalidade que encanta desde o início, mas não deixa de ser uma personagem que cativa e faz sentir admiração.

O marido de Amaia parece ser o homem perfeito, e talvez por isso mesmo não consegui perceber bem se gostei ou não dele. Gostava que ela tivesse um apoio tão sólido, mas por outro lado, estava sempre à espera de perceber qual seria a falha dele e isso fez-me desconfiar. Gostei das irmãs e da tia de Amaia. Têm personalidades muito diferentes e cada uma delas marca bem a sua posição da história.

A descrição dos crimes faz sentir revolta e a investigação dá-nos algumas pistas na busca pelo assassino. Porém, só numa fase mais final, é que consegui perceber para onde todas as pistas apontavam e isso deixou-me muito satisfeita. Sinto-me orgulhosa quando percebo logo quem é o criminoso, é verdade, mas gosto ainda mais quando uma história me leva a levantar várias hipóteses, sem nunca ter a certeza do quem é o autor dos crimes e de quais são as suas motivações.Dolores Redondo conseguiu fazer isso e dou-lhe os parabéns.

A história agarra desde o início, tem um bom ritmo, mas os diálogos não me agradaram. Isto porque, em certas ocasiões, as personagens dão, de forma pouco natural, demasiada informação histórica ou geográgica. Quando isso acontecia, quase que esquecia que estava a ler o discurso de uma das figuras da trama, parecendo mais que se tratava de uma enciclopédia. Além de que parecia retirar a personalidade da personagem. De resto, a narração e as descrições estão bem conseguidas.

Quanto ao lado místico, estava com receio de que não tivesse uma ligação consistente com a restante narrativa. E se existem elementos que ainda me custam um pouco a aceitar, houve outros que, sem dúvida, tornaram este livro mais negro e intenso. O passado de Amaia, a sua experiência familiar, e as tradições e superstições da região onde nasceu são um grande atrativo desta leitura. Confesso que certas descrições causaram-me arrepios e justificaram a personalidade e relação da protagonista com a família.

Assim que terminei a leitura de O Guardião invisível, fiquei com vontade de ler o segundo volume desta trilogia, O Legado dos Ossos. Quero muito voltar a encontrar-me com Amaia e com as pessoas que a rodeiam. Estou curiosa quanto à forma como a autora vai misturar policial com misticismo numa outra trama e quero muito voltar a explorar a relação da protagonista com um certo familiar. Sendo assim , e apesar dos altos e baixos registados, Dolores Redondo conseguiu fazer-me ter interesse em concluir esta trilogia.

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