Opinião: Estação Onze

Título Original: Station Eleven (2014)
Autor: Emily St. John Mandel
Tradução: Rita Figueiredo
ISBN: 9789722356329
Editora: Editorial Presença (2015)

Sinopse: 

Obra Vencedorea do Prémio Arthur C. Clarke 2015 Estação Onze" conta-nos a cativante história de um grupo de pessoas que arriscam tudo em nome da arte e da sociedade humana após um acontecimento que abalou o mundo. Kirsten Raymonde nunca esqueceu a noite em que teve início uma pandemia de gripe que veio a destruir, quase por completo, a humanidade.Vinte anos depois, Kirsten é uma atriz de uma pequena trupe que se desloca por entre as comunidades dispersas de sobreviventes. No entanto, tudo irá mudar quando a trupe chega a St. Deborah by the Water. Um romance repleto de suspense e emoção que nos confronta com os estranhos acasos do destino que ligam os seus personagens.

Opinião:

Ler Estação Onze é sentir diferentes emoções. Emily St. John Mandel criou uma história pós-apocalíptica diferente de todas as outras que até aqui li. Sim, há a destruição da sociedade tal como a conhecemos, há um regresso a uma vivência mais primitiva, há diferentes formas de novas organizações, há a saudade do que ficou para trás, há a esperança de que algo de bom ainda pode acontecer. Porém, todos estes elementos são apresentados de uma forma que nos envolve e nos faz sentir gratos por aquilo que temos. E há muito mais...

A trama começa no momento em que o letal vírus da gripe suína começa a matar sem que seja possível impedi-lo. Somos levados para uma peça de teatro, onde o ator principal cai inanimado durante plena atuação. A partir daí, ficamos a conhecer este drama e a forma como tal foi encarado por diferentes personagens. Porém, a obra não segue uma sequência cronológica nem acompanha apenas uma figura. Existem diversos saltos temporais que achei muito bem conseguidos. Ao intercalar estes diferentes períodos, a autora dá maior profundidade à sua mensagem e consegue envolver-nos. É verdade que no início achei tal um pouco confuso e até frustrante, pois queria saber logo o que tinha acontecido a determinada figura, mas com o desenrolar da narrativa tudo fez sentido.

É curioso que, ao observarmos diferentes períodos de tempo, conseguimos ter acesso aos pensamentos de várias personagens em diferentes circunstâncias. Assim sendo, há momentos em que não percebemos ou gostamos das opções de algumas destas figuras, mas mais tarde ou compreendemos melhor o que se passou ou as vemos em situações de redenção. Além disso, é curioso como todas elas se conseguem cruzar e, apesar de nem sempre se conhecerem, estarem interligadas. Uma forma de a autora nos mostrar que as nossas ações podem ser relevantes para pessoas que nem sequer conhecemos, ou que podem marcar profunda e inesperadamente aqueles que nos são mais próximos..

O título deste livro está relacionado com uma banda-desenhada que surge na trama. No meu ponto de vista, esta é a forma da autora mostrar mais ligações entre as personagens, enaltecer a importância da arte para a alma humana e ainda mostrar que a ficção, a fantasia e ficção científica, apesar de não serem reais podem, muito bem, ser uma outra forma de as pessoas entenderem a sua situação e encontrarem algum conforto. Um louvor a este género que muitas vezes é desprezado.

Existem várias referências a outras obras literárias, séries de televisão ou até mesmo filmes. Mais uma vez, a autora mostra que viver é muito mais do que as necessidades básicas. Quando tal acontece, falamos apenas de sobrevivência. O teatro, a música, a literatura são formas de dar um outro sentido à vivência, de a tornar mais digna e preenchida. Afinal, não basta sobreviver, tal como nos é constantemente recordado ao longo destas páginas.

As referências a atividades ou tecnologia atual são feitas com grande carinho. É nesse momento que nos percebemos que, apesar de tudo, vivemos numa era privilegiada. Neste aspeto, o que achei mais curioso foi a explicação do que é a internet a quem nunca a conheceu, já que, realmente, esta fonte de informação que viaja por todos o lado pode realmente parecer mística.

O final é emocionante e leva-nos a pensar que nunca podemos ter certeza do dia de amanhã. Como tal, não podemos desperdiçar todas as oportunidades que temos para estarmos perto de quem gostamos ou para fazermos o que realmente queremos. Esta mensagem pode ser um pouco mais comum, é verdade, mas é apresentada com bastante emoção.

Estação Onze é um livro que deve ser lido sem pressas. Tem muitos momentos bonitos que merecem ser apreciados, para além que, se não se entenderem as ligações entre diversas situações ou figuras,  não se consegue perceber a verdadeira força desta obra. Gostei e recomendo.