sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Opinião: Histórias de Aventureiros e Patifes

Título Original: Rogues (2014)
Organizado por: George R. R. Martin e Gardner Dozois
Adaptação: Rui Azeredo
ISBN: 9789896378905
Editora: Edições Saída de Emergência (2015)

Sinopse:

Há personagens malandras e sem escrúpulos cujo carisma e presença de espírito nos faz estimá-las mais do que devíamos. São patifes, mercenários e aldrabões com códigos de honra duvidosos mas que fazem de qualquer aventura uma delícia de ler.
George R. R. Martin é um grande admirador desse tipo de personagens – ou não fosse ele o autor de A Guerra dos Tronos. Nesta monumental antologia, não só participa com um prefácio e um conto introduzindo uma das personagens mais canalhas da história de Westeros, como também a organiza com Gardner Dozois. Se é fã de literatura fantástica, vai deliciar-se!

Opinião:

Nas histórias, costumo ficar rendida às personagens de moral duvidosa. Normalmente mostram-se complexas, reais e bastante divertidas. Gosto do que fazem para se safarem de todos os problemas e de saírem a ganhar das situações em que se encontram, regra geral de forma pouco correta e inesperada. George R. R. Martin é um autor capaz de criar estas figuras de uma forma exemplar, por isso mesmo quando sou da publicação de Histórias de Aventureiros e Patifes senti uma grande curiosidade quanto ao livro.

Neste volume, o autor das famosas Crónicas de Gelo e Fogo, em parceria com Gardner Dozois, reúne alguns contos de autores como Neil Gaiman ou Scott Lynch. É verdade que a edição original possui mais histórias do que esta publicada em solo nacional, mas também é verdade que todos os contos apresentados proporcionaram bons momentos de diversão. A obra começa com uma interessante introdução de George R. R. Martin.

Seguem-se 10 contos, cada um com uma nota introdutória. Em "Como o Marquês Recuperou o Seu Casaco", Neil Gaiman recupera as personagens criadas para Neverwhere - Na Terra do Nada. O Marquês é o protagonista deste conto cujo cenário poderá parecer estranho a quem não conhece o livro. Gostei deste patife tão carismático, gostaria de ter ficado a conhecer melhor algumas das outras personagens que surgiram e apreciei a forma como a trama desenvolveu. O desfecho foi muito apropriado e transmitiu uma moral.

"Proveniência", de David W. Ball faz pensar nas histórias dos objetos e ainda na dimensão do mercado do tráfico de arte. Ao início fiquei sem perceber quais seriam as intenções do autor com esta trama, mas acabei por ficar bem surpreendida quando, já perto do fim, percebi como todas as linhas que pareciam não ter ligação se juntaram para uma conclusão muito bem conseguida. Porém, não consegui sentir empatia com qualquer personagem.

Gillian Flynn divertiu-me muito com "Qual É a Sua Profissão?". A autora aborda o tema da ambição e dos enganos efetuados na busca de riqueza de uma forma caricata. As convicções da protagonista são tão fortes e ao mesmo tempo duvidosas que em várias situações me fizeram rir do caricato das situações em que se coloca. Gostei de ter dúvidas sobre o que se estava realmente a passar numa certa casa, e achei interessante o facto de o desfecho me ter feito refletir sobre o que poderá realmente ter acontecido.

Hamilton, o herói de várias histórias de Paul Cornell, é o protagonista de "Uma Forma Melhor de Morrer". O autor faz regressar ao Reino Unido do passado mas concede-lhe tecnologia inexistente para criar este enredo. Foi um dos contos que menos me envolveu, talvez devido ao início lento e com muita informação, mas acabei por gostar da forma como a questão da clonagem foi abordada.

"Um Ano e Um Dia na Velha Theradane", de Scott Lynch, foi um dos contos que mais gostei de ler. Adorei o ambiente, a guerra entre magos e, mais do que tudo, Amarelle e o seu grupo de vigaristas. Uma trama interessante desde o início e com um desenvolvimento cativante. O problema a ser solucionado intriga e a forma para encontrar a solução diverte e faz sorrir. Uma história que faz ter saudades de ler livros do autor.

Phyllis Eisenstein apresenta um conceito interessante em "A Caravana para Nenhures". Gostei da ideia de uma viagem, da loucura e do perigo de uma cidade, mas senti que a narrativa foi perdendo a força mais perto do final. Alaric, o protagonista, é um aventureiro interessante, mas faltou-lhe algo para que me conseguisse agarrar.

Hap, do conto "Galho Vergado", de Joe R. Lansdale, é um herói muito inesperado. Um sacana que até tem bom coração. A história, ao início, provocou-me algum choque, devido à forma direta como alguns assuntos eram abordados, mas depois diverti-me com o desenvolvimento. O final era o esperado, e houve um aparecimento um pouco forçado, mas ainda assim é um conto que cumpre o seu objetivo.

"A Árvore Reluzente", de Patrick Rothfuss, é outro dos contos que destaco desta colectânea. O autor foi buscar Bast da sua série "A Crónica do Regicida" para escrever este conto que tem componentes que divertem e outras que nos fazem refletir sobre o sofrimento que pode existir dentro de quatro paredes. Gostei muito do protagonista e da sua malandrice e também da forma como respondia aos apelos que lhe eram feitos.

Sendo eu alguém que não perde uma oportunidade para ir ao cinema, gostei muito de ler "Em Exibição", de Connie Willis. A autora apresenta um espaço futurista que tanto parece disparatado como ainda nos leva a refletir sobre o aumento do consumismo e da decadência dos meios culturais. Adorei as referências à cultura pop e à forma como fórmulas de sucesso se repetem até à exaustão e não esperava a conclusão que Willis apresentou.

A colectânea termina com chave de ouro com um conto de George R. R. Martin. O autor regressa ao universo que lhe deu popularidade com "O Príncipe de Westeros o O Irmão do Rei". Neste conto, ficamos a conhecer melhor algumas gerações da família Targaryen e, como seria de esperar, conhecemos figuras capazes de tudo para obterem o que desejo. O relato é feito de uma forma documental, fazendo parecer que estamos a ler um livro de história. É verdade que existem momentos que parecem fugir um pouco ao tema principal e a certo ponto existem mais personagens do o esperado, mas no fim senti que fiquei a conhecer a vida de um verdadeiro patife.

Histórias de Aventureiros e Patifes é uma colectânea diversificada e bem conseguida. Passei bons momentos a ler estes contos, apesar de, como ser natural, ter preferido mais uns em detrimento de outros. Fica a esperança de que as histórias que foram excluídas desta edição sejam compiladas para uma outra.

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