terça-feira, 24 de novembro de 2015

Opinião: Ferals - O Rapaz que Falava com os Corvos (Ferals #1)

Título Original: Ferals (2014)
Autor: Jacob Grey
Tradução: Catarina F. Almada
ISBN: 9789896576820
Editora: Planeta (2015)

Sinopse:

Crau nunca questionou a sua habilidade para falar com os corvos. No entanto, quando a ameaça de um novo Verão Negro começa a desenhar-se no horizonte, descobre o mundo subterrâneo dos Ferals de Blackstone - aqueles que detêm o poder de falar com os animais e de os controlar. Crau é um deles. Para salvar a cidade, terá de aprender a servir-se de dons que não imaginava possuir.

Opinião:

Ferals - O Rapaz que Falava com os Corvos é uma leitura divertida e leve que vai fazer as delícias dos leitores mais jovens que gostam de ação e fantasia. Contudo, confesso que esperava uma trama mais negra e complexa. A trama começa de forma algo lenta, e quando finalmente existem hipóteses de tornar todo mais intenso, Jacob Grey, o autor, optou por não desenvolver tanto certas questões ou momentos de relevância.

É fácil simpatizar com Crau, o protagonista desta aventura. Rapaz órfão que foi criado no meio de corvos, animais com os quais consegue comunicar, Crau é um menino de bom coração que, apesar de ser muito amado pela sua peculiar família, nos faz sentir alguma tristeza por se sentir abandonado pelos pais e pelas condições de pobreza em que tem de viver. É curioso ver que ele, tal como qualquer jovem da sua idade, começa a querer impor-se e encontrar-se, mas sem nunca esquecer os outros.

O estranho dom de Crau chama rapidamente a atenção. Afinal, é esta peculiaridade que faz mover toda a narrativa, para além de que ainda nos permite conhecer três corvos donos de personalidades muito diferentes e que conferem um elemento mais cómico ao enredo e ainda um toque de mistério. Nota-se que Jacob Grey, o autor, é alguém que gosta de animais e que procura aliar algumas das características mais marcantes de cada espécie a traços que são bastante humanos. E se existem algumas ligaçãoes que são evidentes, outras transmitem surpresa e outras ainda poderão parecer limitadoras.

Gostaria que a relação entre Crau e Lydia, uma rapariga com quem travou amizade, tivesse um início mais conturbado. Entendo as dúvidas e receios do protagonista, pois ligam bem com a sua timidez e forma de estar, mas pareceu-me que Lydia confiou nele demasiado cedo. Teria sido mais interessante que ambos tivessem demorado mais tempo a conhecerem-se e, desta forma, teria mais facilidade em ver a amizade que existe entre ambos como algo tão forte como o autor nos quer fazer passar.

O desenrolar da narrativa acontece graças ao aparecimento de uma força negra. Ao início, o grande vilão desta obra parece surgir na forma de um grupo de três malfeitores, mas depressa percebemos que existe uma figura mais perigosa por trás dessas personagens. Gostei que o autor não tivesse apresentado logo o vilão, mas sim ter procurado o leitor a entender que estava a surgir um perigo crescente. Porém, quando este malvado finalmente surge, não transmite toda a força e poder que foram sendo transmitidos ao longo da leitura. Gostaria de que ele tivesse sido um oponente mais inteligente e assustador.

A leitura é feita com rapidez graças à escrita direta e sem floreados e ao rápido desenrolar dos acontecimentos. E se ao início parece que o ator tem muitas repostas para dar, na parte final tudo parece surgir num instante. Gostei de conhecer o passado de Crau, que me pareceu plausível, mas a questão do vilão merecia maior desenvolvimento. Além disso, o surgimento repentino de certas capacidades  não me convenceram. Gosto quanto tal surge como fruto de um trabalho árduo.

Jacob Grey apresenta um conceito interessante com o primeiro livro da série "Ferals". É preciso ter em conta que o autor escreveu a pensar num público mais jovem, e que por isso não se trata de uma obra de grande complexidade. Contudo, é de realçar que é um livro que diverte e tem um conceito original. No geral, senti-me entretida e com vontade de continuar a acompanhar estas aventuras. Acredito que o autor tem capacidade de ultrapassar as suas fraquezas e de enaltecer os seus pontos mais fortes.

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