quarta-feira, 15 de julho de 2015

Opinião: Segredos Obscuros

Título original: Det Fördolda (2010)
Autor: Hjorth & Rosenfeldt
Tradução: Jorge Pereirinha Pires
ISBN: 9789898775535
Editora: Suma de Letras (2015)

Sinopse:

Sebastian Bergman é um homem à deriva. Psicólogo de formação, trabalhava como profiler para a polícia e era um dos grandes especialistas do país em serial killers. Perdeu tudo quando o tsunami no continente indiano lhe levou a mulher e a filha. Tudo muda com uma chamada para a polícia. Um rapaz de dezasseis anos, Roger Eriksson, desapareceu na cidade de Västerås. Organiza-se uma busca e um grupo de jovens escuteiros faz uma descoberta macabra no meio de um pântano: Roger está morto e falta-lhe o coração. É o momento de Sebastian se confrontar com um mundo que conhece demasiado bem. O Departamento de Investigação Criminal pede ajuda a Sebastian. Os modos bruscos e revoltados de Sebastian não impedem a investigação de avançar. E as descobertas sobre a escola que Roger frequentava são aterradoras.

Opinião:

Foi com grandes expetativas que iniciei a leitura de Segredos Obscuros, da dupla Hjorth e Rosenfeldt. A campanha da Suma de Letras que, entre outras ações, enviou cartas enigmáticas, tal como partilhei com vocês na página de Facebook do blogue, despertou a curiosidade e a sinopse ainda aguçou mais este desejo. Felizmente senti que a trama corresponde ao que estava à espera: é intensa, misteriosa, tem muitas reviravoltas e personagens complexas, dotadas de qualidades e defeitos.

Quando estou a ler um policial ou qualquer outro mistério, gosto sempre de tentar ligar os vários pontos que são apresentados para adivinhar o desfecho. Como tal, foi isso mesmo que tentei fazer com este livro. Os autores dão pistas através de diferentes pontos de vista, o que nos permite ter uma visão mais ampla do que poderá ter acontecido, mas a verdade é que também o fazem de forma a levar-nos a pensar em várias hipóteses. Por isso mesmo, tal como acontece com a equipa de investigação, também nós temos uma ideia de quem será o criminoso e de quais serão as suas motivações, mas a certeza só chega mesmo no fim. Tudo isto torna a leitura muito emocionante.

O crime em si foi feito de uma forma inesperada. Percebe-se que os autores queriam transmitir a ideia de que nem tudo o que parece é. Assim sendo, e tal como na vida real, todas as personagens que surgem transmitem uma postura e personalidade quando, na verdade, se revelam pessoas completamente diferentes. Desta forma, Hjorth e Rosenfeldt procuram mostrar também que podemos ser muito próximos de alguém sem nunca o conhecermos realmente. E como se tal não bastasse, fica também a noção de que todo o ser humano é capaz de grandes atrocidades e de arranjar justificações para tal.

As personagens apresentadas não são convencionais. Sebastian Bergman, o homem que dá o nome à série que foi iniciada com este livro, é um psicológo que possui comportamentos controversos. Não é fácil gostar da sua personalidade logo ao início, afinal, enquanto mulher, achei-o desrespeitador. Mas com o decorrer da leitura tive que admitir que ele consegue ser bastante cativante, quer seja pela sua inteligência e perspicácia, quer seja pelo sentido de humor peculiar.

Foi bom ir descobrindo a figura de Roger, o jovem assassino, ao longo da leitura. Desta forma, ele deixou de ser um corpo para ser uma figura com esperanças, sonhos, frustrações e medos. É a patir do momento em que se passa a considerar esta personagem não presente que a intriga a avança e passamos a receber uma visão mais realista do que poderá ter acontecido. Além disso, foi uma ideia arriscada e muito bem conseguida colocar uns poucos capítulos onde a visão do assassino é explorada. Percebem-se algumas caraterísticas desta figura, mas nunca a sua identidade.

Quando à equipa de especialista que estão encarregues do caso, confesso que preferi Vanja, pelo seu empenho e empatia, e Haraldson, um homem pateta que proporciona momentos muito divertidos devido à sua vida familiar e à forma como bloqueia a investigação. enfim, É alguém a quem nada corre bem. Vorkel, por seu lado, transmitia uma sabedoria conquistada pela experiência, o que fazia dele um verdadeiro líder.

A narrativa tem um encadeamento bem conseguido, com muitas reviravoltas, e a leitura é estimulante. Contudo, achei que alguns capítulos eram demasiado extensos. Segredos Obscuros revelou-se um livro muito bom e o início de uma série que ainda promete grandes emoções, pois muitas questões foram levantadas e há ainda situações a resolver. Recomendo.

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