sexta-feira, 5 de junho de 2015

Opinião: A Rapariga no Comboio

Autor: Paula Hawkins
Título Original: The Girl on the Train (2015)
Tradução: José João Leiria
ISBN: 9789898800541
Editora: TopSeller (2015)

Sinopse: 

Todos os dias, Rachel apanha o comboio...
No caminho para o trabalho, ela observa sempre as mesmas casas durante a sua viagem. Numa das casas ela observa sempre o mesmo casal, ao qual ela atribui nomes e vidas imaginárias. Aos olhos de Rachel, o casal tem uma vida perfeita, quase igual à que ela perdeu recentemente.
Até que um dia...
Rachel assiste a algo errado com o casal... É uma imagem rápida, mas suficiente para a deixar perturbada. Não querendo guardar segredo do que viu, Rachel fala com a polícia. A partir daqui, ela torna-se parte integrante de uma sucessão vertiginosa de acontecimentos, afetando as vidas de todos os envolvidos.

Opinião:

Foi com grande entusiasmo que iniciei a leitura de A Rapariga do Comboio. Ao aperceber-me do sucesso que este livro está a ter no lá fora e do interesse imediato de um grande estúdio do cinema, fiquei com grandes expetativas quanto à trama e às personagens. E não me enganei.

No início, conhecemos Rachel e a narrativa é feita no seu ponto de vista. Logo se percebe que Rachel está longe de ser uma protagonista comum. É notório que ela tem uma autoestima muito baixa, o que a leva a não conseguir aceitar-se e a tornar-se obcecada por vidas alheias. Numa primeira fase, é impossível não sentir pena desta mulher que parece vaguear na vida. Contudo, com o decorrer da leitura, passei também a sentir repulsa por ela. É curioso verificar que é complicado gostar de alguém não sse valoriza a si própria, mesmo que se trate de uma personagem.

Rachel faz-nos assim pensar sobre o quanto podemos ser autodestrutivos. Ela sonha com uma vida mais feliz, com o regresso de um passado que pensava fazê-la sentir-se realizada, mas pouco ou nada faz para encontrar o seu rumo. Pelo contrário, parece que todas as suas acções apenas servem para entrar a fazer decair ainda mais. Felizmente, as situações relatadas nesta trama também fazem Rachel mudar.

É precisamente a obsessão de Rachel pelas vidas alheias que a leva a envolver-se nas investigações de um crime. E que bem conseguido que tal está. Conforme as páginas vão passando, a autora faz-nos criar diversas teorias, faz-nos duvidar do que as personagens nos tentam transmitir e de quem elas realmente são. Desta forma, percebemos que Paula Hawkins tem a capacidade de criar figuras complexas, que parecem ser desvendadas por camadas. E só no fim as conhecemos tal como realmente são, o que nos pode surpreender.

Com o decorrer da leitura, surgem os pontos de vista de outras personagens, o que faz aumentar as teorias que criamos e nos leva a questionar as informações o que a protagonista já nos tinha passado. Gostei especialmente que a autora mostrasse que aquelas que parecem ser vidas familiares perfeitas escondem muitos segredos. Ciúme, traição e mentira acabam por surgir por trás da máscara da união e da paixão. Algo bastante real e que aqui surge explorado de uma forma bastante negra.

Além disso, a autora acaba também por abordar o tema da violência doméstica. Tomamos conhecimento que, mesmo quando não há agressão física ou morte, a pressão psicológica e as ameaças têm um poder muito forte na submissão. Paralelamente existe o crime que dá o mote a esta narrativa, que nos faz duvidar de todos, que nos impressiona e cujas principais razões acabam por causar revolta. Confesso que não fiquei surpreendida com o desfecho, que a certo ponto se tornou possível de adivinhar, mas nem por isso deixou de ter força.

A Rapariga do Comboio é um thriller que prende, que provoca diferentes emoções, que nos faz pensar sobre o mistério que está a ser apresentado e sobre a sociedade em que vivemos. Um livro bem conseguido e que recomendo a todos os fãs do género.

Sem comentários: