quinta-feira, 7 de maio de 2015

Opinião: Slated - Reiniciada (Slated #1)

Título original: Slated (2012)
Autor: Teri Terry
Tradução: Carla Ribeiro
ISBN: 9789898730237
Editora: Lápis Azul (2015)

Sinopse:

Kyla Davis está prestes a entrar numa nova vida. As suas memórias foram apagadas e, com elas, todo o conhecimento que tinha antes de ter sido Reiniciada. Como pena para um crime que, como tudo o resto, desconhece, tudo o que a identificava foi removido. Agora, Kyla tem à sua espera uma nova família e um novo início de vida, e a responsabilidade de cumprir tudo aquilo que esperam dela – caso contrário, as consequências poderão ser pouco agradáveis.Mas, mesmo enquanto se tenta adaptar à comunidade, Kyla começa a questionar. Há pessoas a desaparecer à sua volta e uma vigilância opressiva em que todos parecem estar apenas à espera que ela cometa o seu primeiro erro. E, algures por dentro, há memórias que lutam para surgir. Talvez ela não seja apenas a boa menina Reiniciada que todos lhe exigem que seja. Mas quem é, então?

Opinião:

Reiniciada é o primeiro livro de uma trilogia distópica que nos leva a pensar sobre as consequências de medidas que procuram uniformizar uma sociedade. Kyla Davis é a protagonista desta obra que é narrada na primeira pessoa. Ela é uma jovem cuja memória e personalidade foi apagada e que volta então a ser inserida numa comunidade. Curiosamente, tinha tudo para ser uma personagem desinteressante, mas acaba por revelar uma consciência crítica que me levou a querer acompanhá-la.

Tal como eu, que estava a começar a entrar neste universo, também Kyla não sabe o que esperar. Por isso mesmo, não existe a sensação de que a protagonista sabe algo que nos está a esconder. Ao início Kyla poderá parecer demasiado básica e superficial, mas conforme a narrativa se vai desenrolando, é possível verificar que há algo muito próprio dela que não desapareceu completamente.A capacidade de criticar e o espírito artístico fazem desta rapariga uma reiniciada diferente.

É verdade que ao início aconteceram algumas situações que me custaram um pouco a aceitar.O facto de ela ser tratada praticamente como um bebé e de nem sequer recordar o perigo que é tocar numa lâmina pressupunha que a sua ignorância fosse ainda mais abrangente. Contudo, de um momento para o outro, ela parece ter obtido a consciência de um adolescente comum e não existe necessariamente explicação para isso.

Gostei da forma como Kyla se relacionou com as outras personagens. Ao início, demonstra um receio e hesitação bastante natural e a criação de laços afectivos surge de forma gradual e convincente. Entre as personagens com as quais ela se relaciona, as que mais me intrigaram foram a mãe, o pai e a doutora Lysander. Não é fácil descodificar estas três figuras pois percebe-se que até agora elas só mostraram uma parte muito pequena de quem são. Fiquei com uma enorme vontade de perceber quais são os seus objectivos e motivações e, apesar de existirem algumas pistas, tal ainda não foi completamente justificado. Um mistério intencional e bem conseguido.

O mundo é muito semelhante ao nosso e está situado num futuro próximo. Existem normas e instituições que são muito semelhantes às actuais, mas existem ainda outras novas e que foram criadas para criar a ideia de vigilância e opressão. Percebe-se que existe um método que altera os seres humanos desde tenra idade de modo a que estes se insiram numa cidade idealizada e harmoniosa, o que faz pensar sobre limites éticos para o controlo e ordem. Gostei da ideia do Levo, um instrumento que só vem a reforçar a ideia de repressão pela omissão de emoções verdadeiras.

O desenrolar da trama cativa e é rápido. É verdade que gostaria de ter visto um desenvolvimento da protagonista mais lento e que existem respostas que surgiram de uma forma demasiado fácil, tendo em conta que esta é uma sociedade de vigilância. Ficou muito por responder, nomeadamente no que toca aos rebeldes, que foram pouco explorados. Porém, sente-se que tal pode ser assunto para o próximo volume.

Quanto à tradução, percebe-se que houve uma preocupação em manter o tom introspectivo da narrativa original e uma linguagem natural nos diálogos. Contudo, existem umas quantas frases que necessitavam de uma revisão mais atenta no que toca a gramática, para além de que me fez alguma confusão ver palavras como "pai" e "mãe" a surgirem como se fossem nomes próprios. Não sei se está assim no original, mas mesmo que tal se confirme, não percebo a intenção.

Um bom início para uma trilogia que tem muito por onde evoluir. Reiniciada é um livro dedicado a um público jovem adulto que trata de assuntos pertinentes e que nos fazem reflectir sobre que futuro queremos para a nossa sociedade. Teri Terry é uma autora que vou querer continuar a acompanhar.

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