domingo, 20 de julho de 2014

Opinião: Puros (Puros #1)

Autor: Julianna Baggott
Título Original: Pure (2012)
Tradução: Fátima Andrade
ISBN: 9789722352789
Editora: Editorial Presença (2014)

Sinopse:

Depois de uma série de detonações atómicas destinadas a exterminar grande parte da Humanidade, apenas uma pequena elite de puros deveria ter sobrevivido, protegida dentro da Cúpula até que a Terra se regenerasse por completo. Mas não foi isso que aconteceu... Muitos foram os que sobreviveram às explosões, deformados, com mutações terríveis, refugiados entre as ruínas da cidade, num clima de opressão por parte da milícia entretanto formada, que os aterroriza e explora.
Pressia Belze é uma jovem de dezasseis anos, uma mutante que tenta fugir à milícia; Partridge é um rapaz da elite, um Puro atormentado pela suspeita de que um plano secreto está a ser desenvolvido pela elite científica da Cúpula.
Numa terra devastada, os caminhos destes dois jovens acabam por se cruzar, dois sobreviventes em busca de um futuro menos sombrio, que nem desconfiam do laço secreto que os une…

Opinião:

Quando a Editorial Presença anunciou a publicação de Puros, fiquei automaticamente curiosa. Achei a sinopse prometedora e adorei a capa (eu não devia julgar um livro pela capa, mas...). Como tal, assim que o tive nas mãos tive que começar a ler. Desde já vos aviso de que este é um livro muito diferente do que li até ao momento. Se é verdade que aborda um cenário futuro de destruição, premissa explorada em tantos outros títulos, também é verdade que marca a diferença graças ao enredo e às personagens.

A história de autoria de Julianna Baggott é apresentada por diferentes pontos de vista. Desta forma, fica a sensação de que se está a ter uma visão mais completa deste mundo, para além de que torna possível um conhecimento mais profundo de algumas das personagens mais relevantes. Pressia e Partridge são as duas figuras com maior relevância. Ela vive no mundo fora da cúpula, ele é da realidade de dentro. Contudo, eles não representam os outros humanos que habitam no mesmo espaço, uma vez que representam a diferença. Pressia desafia as autoridades ao fugir às regras e sente compaixão pelos seus semelhantes, enquanto Partridge não se consegue enquadrar no modelo que a cúpula procura incutir.

É interessante verificar que apesar do sofrimento e da luta por manterem-se fiéis à sua natureza, Pressia e Partridge são apresentados como dotados de algum ingenuidade. Só com o desenrolar da trama é que eles chocam com a realidade e ganham dureza, sendo por isso possível assistir a uma evolução natural. São duas personagens que fazem o que os leitores esperam deles, mas as provações que superam aumentam o interesse que sentimos por eles e fazem-nos desejar que saiam sempre vitoriosos.

Também é possível assistir aos pontos de vista de Lyda e de El Capitan. Gostei de Lyda por dar uma outra visão da cúpula e por ser alguém fiel aos seus princípios. Já El Capitan foi alterando a minha opinião ao longo da leitura. É uma figura muito interessante, que faz questionar as noções de mal e de bem, e de quem nunca se sabe o que esperar. Apesar de o ponto de vista de Bradwell não estar contemplado, é impossível não ficar rendido a este rapaz revolucionário, que representa todos aqueles que são capazes de questionar e ver para além do que lhes é apresentado. Todas as personagens juntas formam um grupo diversificado que prende a atenção e cativa.

Os cenários por onde esta narrativa se desenrola são capazes de chocar. Essa foi a minha primeira impressão desta leitura. Ao início tive alguma dificuldade em imaginar um espaço completamente devastado, onde o que conhecemos está arrasado, fundido, derretido, e povoado por seres com aparência tão irregular. Estou a habituada a que a minha imaginação seja estimulada com beleza, mas aqui é ao contrário. Contudo, é também interessante ver que, a certo ponto, estes humanos tão profundamente marcados se tornam mais fáceis de aceitar e quando aparecia um novo desejava saber quais eram as suas cicatrizes. A autora mostra de uma forma extrema que estas marcas do corpo contam histórias, histórias de sobrevivência e resistência, mas também deixam adivinhar um passado melhor.

O enredo está bem construído. A trama cresce de capítulo para capítulo e envolve cada vez mais. Desta forma, é possível ver que esta é uma história muito bem pensada, onde todos os pontos ligam e são justificados. Afinal, ao início tudo parece muito disperso e alguns acontecimentos parecem acontecer por coincidência. Com o passar das páginas, é possível constatar que tudo tem uma razão de ser, o que revela as boas capacidades da autora enquanto contadora de histórias. Os momentos de reflexão e dúvida não são aborrecidos e os de ação não são excessivos. Tudo tem um equilíbrio que leva a proceder a uma leitura aliciante e sem esforço.

Adorei o facto de todas as personagens acreditarem estarem a fazer o melhor pelo planeta. Desta forma, o mal não é mal por si só, mas é justificado por crenças  que podem ir contra aos nossos ideais mas que são compreendidas. Afinal, a autora pega nas teses de sobrepovoamento e de esgotamento de recursos naturais, o que provoca a tomada de medidas drásticas. Também gostei de assistir ao choque de ideias de génios e às consequências de experimentos humanos tendo em vista a melhoria da raça.

A autora é inspirada nos ataques nucleares dos Estados Unidos da América contra o Japão no final da Segunda Guerra Mundial e que devastaram as cidades de Hiroshima e Nagasaki. A destruição material e as consequências desta ação para a vida em geral serviram de base para o desenvolvimento da premissa da trilogia Puros. Desta forma, Julianna Baggott apela à recordação deste momento trágico e também faz um aviso: estas armas poderosas continuam a existir, podem ser utilizadas e podem causar uma tragédia maior.

Puros é o início de uma trilogia que promete conquistar e marcar a diferença. Assim que acabei de ler a última página, desejei ter o segundo volume em mãos para o agarrar e devorar. Quero muito continuar a acompanhar estas personagens e quero muito desvendar os mistérios deste mundo. Recomendo!

2 comentários:

Beatriz Sousa disse...

Quero tanto.
Ainda por cima a capa é LINDA!

Cláudia disse...

Eu também adorei a capa. Só é pena que na impressão algumas cores e pormenores se tenham perdido, mas mesmo assim ficou bonita. =)