terça-feira, 24 de junho de 2014

Opinião: As Luzes de Setembro (Trilogia da Neblina #3)

Título Original: Las Luces de Septiembre (1995)
Autor: Carlos Ruiz Záfon
Tradução: Maria do Carmo Abreu
ISBN: 9789896575205
Editora: Planeta (2014)

Sinopse:

Um livro fascinante de intriga, fantasia, mistério e amor com uma tensão e um suspense que aumenta à medida que avançamos na história. E sempre envoltos numa atmosfera ameaçadora. Um misterioso fabricante de brinquedos que vive em reclusão numa gigantesca mansão povoada de seres mecânicos e sombras do passado...Um enigma em torno de estranhas luzes que brilham entre a neblina que rodeia a ilhota do farol. Um ser de pesadelo que se oculta nas profundezas do bosque...Estes e outros elementos tecem a trama do mistério que unirá Irene e Ismael para sempre durante um mágico Verão em Baía Azul. Um enigma que os levará a viver a mais emocionante das aventuras num labiríntico mundo povoado de luzes.

Opinião:

As Luzes de Setembro encerra a Trilogia da Neblina. Este continua a ser um volume que pode ser lido como stand-alone, sendo que a ligação com os dois anteriores está em detalhes, nos elementos de terror e no facto de ser destinado a um público mais jovem.Também é curioso verificar que o cenário onde se desenrola a ação tem semelhanças ao do primeiro livro, enquanto o aspecto de terror está mais próximo do segundo. Penso que o autor tirou o que de melhor encontrou nas duas obras anteriores para obter a conclusão desta trilogia.

No início existe uma carta que nos deixa adivinhar que algo de perturbador vai acontecer. Algo que mudará e marcará a vida das personagens.Quando o relato começa, é simples adivinhar o que aí vem. Afinal, o autor vai dando diversas pistas sobre o mal que assombra Baía Azul, o que, ligado ao desenrolar dos acontecimentos, nos deixa descobrir a origem daquele tormento.

Mas a previsibilidade não quebra a leitura. Afinal, os diversos momentos de terror estão tão bem conseguidos que acabam por agarrar. O medo é explorado através do clima de tensão e do desconhecido. Confesso que logo de início me senti incomodada com a descrição do interior da mansão Cravenmoore, muito devido ao silencioso, escuridão e grandiosidade da mesma, mas principalmente pelo facto de conter inúmeros brinquedos cuja descrição arrepiava. A utilização do brinquedo de aspecto comum mas macabro foi uma boa escolha para perturbar o leitor.

As personagens desempenham os papéis que lhes são esperados, mas acabam por parecer, de certa forma, distantes. Apreciei a forma como Simone cuidou da sua família após a morte do marido, percebi a sua solidão e as suas dúvidas quanto ao futuro. Julgo que de todas as figuras, esta mãe foi quem mais me cativou. Irene é uma rapariga que está a transitar para a idade adulta, e por isso não consegui entender bem quem ela era, talvez por ser algo que ela está a construir. Contudo, apreciei a construção da relação de Irene com Ismael, o jovem pescador solitário. O que os unia parecia natural e a aproximação dos dois foi bem conseguida. Dorian é uma criança curiosa e intelectual, que não me conseguiu convencer. Já Lazarus foi a figura que mais me agradou. Um homem complexo e atormentado por escolhas que fez e que não compreendeu, alguém que procura redenção mas sem saber como a obter.

Com o desvendar do mistério que está por trás dos acontecimentos macabros, o leitor é levado a interrogar-se sobre as consequências das escolhas e das acções. Mesmo aquelas que não são logo compreendidas e que parecem inocentes. As Luzes de Setembro fala sobre perda da inocência, mas também sobre o poder do amor nas suas mais diferentes formas e na capacidade deste sentimento atormentar mas também ser salvação.

O fim desta trilogia é negro. Contudo, também existe uma luz de esperança nas derradeiras páginas que contrasta com a obscuridade do terror e da estagnação que se observa ao longo de toda a leitura. É de realçar a a evidente evolução de Carlos Ruiz Zafón neste volume quando em comparação com a restante trilogia, nomeadamente quanto a construção de um enredo que encerra mistério e nas motivações das personagens. Os leitores que ficaram rendidos ao ambiente dos dois volumes anteriores vão, com toda a certeza, apreciar As Luzes de Setembro.

Outras opiniões a livros de Carlos Ruiz Záfon:
O Príncipe da Neblina (Trilogia da Neblina #1)
O Palácio da Meia-Noite (Trilogia da Neblina #2)

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