segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Opinião: Sob o Céu que Não Existe (#1)

Título Original: Under the Never Sky (2012)
Autor: Veronica Rossi
Tradução: Irene Daun e Lorena e Nuno Daun e Lorena
ISBN: 9789896573447
Editora: Planeta (2013)

Sinopse:

O mundo mantinha-os separados, mas o destino reuniu-os. Aria viveu toda a vida no Casulo protegido de Reverie. Este era o seu mundo e nunca pensou sobre o que estaria para lá das fronteiras. Mas, quando a mãe desaparece, Aria vê-se confrontada a sair para o exterior para a procurar, e a sobrevivência no deserto o tempo suficiente para a encontrar parece impossível. Então Aria encontra um estranho chamado Perry. Ele também está à procura de alguém.Mas é um Externo, um Selvagem, contudo é a única pessoa capaz de a manter viva na travessia do deserto. E se conseguirem sobreviver serão a esperança um do outro para encontrar respostas às perguntas que vão surgindo à medida que se vão conhecendo.

Opinião:

Sou fã de distopias, por isso foi com expectativa que comecei a ler Sob o Céu que Não Existe, o primeiro livro de uma trilogia de Veronica Rossi. Contudo, em nenhum momento me senti agarrada pos esta história ou cativada pelas suas personagens.

A ideia central é boa e cativante. Veronica Rossi construiu um mundo que gera curiosidade, onde a humanidade está dividida em dois grupos distintos. Por um lado, existem os que vivem nos Casulos, chamados Moradores, que habitam em espaços confinados e cercados por tecnologia incrível. Por outro, existem os que estão fora dos Casulos, Externos, que possuem recursos limitados e vivem em pequenas aldeias com sistemas hierarquizados. Todos temem a Aether, uma atmosfera mortífera que parece ter origem nuclear e que funciona como principal inimiga de todos. Porém, apesar de este mundo parecer ter tudo para funcionar bem, acaba por ser explorado a um nível demasiado superficial e, assim, não agradar completamente.

Também as personagens carecem de maior profundidade. Aria é a grande protagonista desta trama, apesar de dividir o foco de atenção com Perry. Ela é uma jovem dos Casulos, ele vem do exterior. Aria não convence em nenhum momento e apresenta uma personalidade indefinida. Sim, percebe-se que é determinada e corajosa, mas de resto parece vazia, deixando transparecer o que é mais conveniente para cada situação. Ela passa por situações de grande sofrimento e mudança que, numa situação mais credível, provocariam um grande choque. Aria, contudo, ultrapassa tudo com facilidade e até alguma passividade, o que não me agradou ou fez criar empatia. Afinal, ela é afastada do que ama e da única realidade que alguma vez conhecer, é largada no meio do que sempre temeu mas acaba por ultrapassar isso e adaptar-se com rapidez. O choque esperado entre o confronto entre duas realidades distintas perdeu-se e, com isso, uma boa oportunidade para criar empatia com as figuras apresentadas e melhor apresentar este mundo.

Perry, por seu lado, já revela ser uma personagem mais agradável de seguir e credível. Desde o início é possível entender a sua revolta, motivação e sentimentos, o que faz com que seja mais fácil simpatizar com ele do que com Aria. Ao longo da narrativa vão sendo desvendadas características únicas desta figura que apresenta um novo lado deste universo e que, juntamente com revelações do seu passado, solidificam a ideia de que Perry é a personagem mais bem conseguida desta livro. Porém, os primeiros capítulos que lhe são dedicados podem causar alguma confusão, uma vez que são usados vários conceitos novos e que não são imediatamente explicados. Isto gera dúvidas e faz com que alguns momentos não sejam inteiramente compreendidos.

Desde o início que se percebe que o foco da trama consite numa relação amorosa. Esta, contudo, é precipitada e não está bem conseguida. Inicialmente, os dois intervenientes sentem um misto de aversão e atração um pelo outro, o que aparentava uma evolução gradual de sentimentos à qual teria sido agradável assistir. Mas tal não aconteceu e existe sim uma evolução brusca. O facto de Aria e Perry terem origens diferentes poderia ter dado origem a um processo de descoberta interessante, mas em vez disso existe uma relação aborrecida e sem fundamento que acentua a ideia de supercialidade de toda a história. Também a relação com algumas personagens secundárias não convenceu, especialmente no caso de Marron. Ele é um homem interessante, que surge num cenário inesperado, mas o seu papel na trama é demasiado conveniente e facilitador, o que não condiz com o que é sugerido.

 A  narrativa tem um encadeamento que sugere um planeamento, mas possui demasiadas falhas. Percebe-se que a autora quis colocar as suas personagens em variadas e diferentes circunstâncias, mas, e mais uma vez, tal foi feito sem qualquer profundidade, o que deu origem a uma série de situações aborrecidas que surgem umas a seguir às outras e não criam qualquer tensão. Não existe grande evolução em qualquer uma destas situações que apenas fornecem laivos dos perigos deste mundo mas sem levarem o leitor a sentir a sua realidade e a temer pelas personagens. As cenas de acção são rápidas e não criam emoção.

Houve ainda uma tentativa de criticar a sociedade atual, mas tais ideias foram atiradas para um plano de fundo. O uso das redes sociais como substituição da vida real está patente nos Reinos, uma ideia interessante mas que acaba por ser mais mencionada do que realmente apresentada. Teria sido bom ter vivenciado os Reinos com Aria e os seus amigos do Casulo, mas tal não acontece. A exploração excessiva dos recursos, a evolução da ciência genética e a utilização da energia nuclear são outros dos concentiso levemente expostos.

O estilo de escrita de Veronica Rossi é directo, sem espaço para grandes descrições ou reflexões. Se por um lado tal propícia uma leitura rápida, já que tornam o livro mais curto, por outro faz desejar entrar melhor neste mundo, o que não acontece. Gostariam por exemplo, que este tal céu que não existe tivesse sido descrito com maior precisão e mais ao início, uma vez que numa primeira fase não percebi a ideiade perigo e invulgaridade que a autora pretendia transmitir.

Sob o Céu que Não Existe revelou-se um livro que não correspondeu às minhas expetativas. Desejava ter visto este mundo melhor explorado e habitado por personagens mais humanas e credíveis. Não senti grande ligação come esta história que em todos os momentos me pareceu amadora mas com potecial para mais e melhor. Espero ver isso no próximo volume.

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