Autor: Juliet Marillier
Tradução: Catarina F. Almeida
ISBN: 9789896574505
Editora: Planeta (2013)
Sinopse:
Depois de concluir a sua longa e árdua viagem até à base dos Rebeldes em Shadowfell, Neryn tornou-se uma parte vital da rebelião contra o tirânico rei Keldec. Cada passo que dá no sentido de aperfeiçoar os seus dons e afirmar-se como uma Voz poderosa e única na sua geração leva-os mais perto da meta pretendida. Mas, primeiro, Neryn terá de procurar os Guardiães das quatro Vigias para completar o seu treino e o tempo escasseia. Entretanto, Flint, o espião rebelde por quem se apaixonou, foi de novo chamado à corte de Keldec. O laço que os une é tão forte que, mesmo à distância, se procuram em sonhos, partilhando momentos preciosos - ainda que inquietantes - da vida um do outro.
Os Rebeldes vêem com desconfiança este novo amor. Permitir que a emoção se sobreponha à lógica fria do movimento pode pôr tudo em risco. No fim, o amor poderá revelar-se a força motriz da esperança ou a brecha traiçoeira na armadura da rebelião.
Opinião:
O Voo do Corvo segue a jornada de Neryn que pretende
aperfeiçoar o dom de Voz e assim ser uma peça de grande relevância na luta
contra um regime absoluto e tirânico que rege este reino de inspirações
medievais, encantado e misterioso.
Neryn continua a provar que é muito mais do que uma jovem
perdida e agraciada com um poder incomum. Ao longo da narrativa, é possível
verificar que os dons da protagonista são constantemente colocados à prova.
Juliet Marillier criou situações que fazem o leitor questionar-se sobre o que
faria se estivesse naquele lugar, e surpreende ao mostrar como Neryn ultrapassa
cada obstáculo. Muitas das resoluções não são aquelas que inicialmente poderiam
ser esperadas e isso é agradável de constatar.
Com o início de trama, é possível ficar a conhecer melhor as
personagens que compõe o grupo de Rebeldes assim como a sua forma de organização.
O primeiro aspecto que salta à vista é a união que existe entre todos, apesar
de sugerirem passados distintos mas sempre marcados pelo sofrimento da
opressão. É ainda interessante observar que todos os membros possuem um papel
fulcral para o bom funcionamento deste grupo, não havendo grandes
diferenciações entre géneros. Talli é um bom exemplo de uma mulher que desafia
as convenções esperadas para uma sociedade da época e acaba por ser também uma
das personagens secundárias mais interessantes. Afinal, ela revela diversas dimensões, tornando-se bastante
humana e cativando de forma lenta mas gradual.
Apesar de Neryn e Flint não estarem tão próximos fisicamente
como no volume anterior, assiste-se a um desenvolvimento nesta relação. A força
do sentimento que os une não deixa margens para dúvidas e, cada vez mais, se
percebe que a atracão inicial transformou-se em amor. As formas de demonstração
deste sentimento são diferentes, afinal, o casal principal continua a ter como
prioridade a missão Rebelde.
É com curiosidade que se assistem aos momentos
dedicados directamente a Flint, que nos levam a conhecer melhor a corte e o
temível rei Keldec. Observar o comportamento deste agente infiltrado na corte e a forma como
ele garante a confiança do monarca podem incomodar mas também propiciam
momentos de grandes revelações. Nota-se claramente que este rebelde não se
sente inteiramente confortável na sua missão, no entanto, está disposto, até
mesmo a manchar o seu nome, para que os seus amigos tenham sucesso. Ainda sobre
o rei Keldec, fica a ideia de que nem sempre é ele o responsável pelo regime
tirânico, o que, sem dúvida, traz uma nova visão sobre tudo e faz pensar sobre
o poder de vozes conselheiras.
O desenrolar dos acontecimentos deste livro acaba, no entanto,
por ser o esperado desde o início. A nova jornada de Neryn tem objectivos muito
concretos e é estimulante, mas o leitor desde cedo percebe até onde ela vai
chegar ao longo destas páginas, para além de que o seu sucesso é
inquestionável. Tudo isto faz com que a história não perca a ideia de que com
esforço e dedicação tudo é possível, mas faz também perder a sensação de
imprevisto e de quebrar um pouco a emoção da leitura. Contudo, mais perto do
final, revelo que existe uma reviravolta que muito me agradou.
Com o decorrer da narrativa, é inevitável constatar que
Juliet Marillier foi inspirada na tradição druida. A ligação de Neryn com a
natureza, o respeito por todos os seres, desde os mais fortes aos mais frágeis
e as atitudes que demonstra perante cada provação remetem para o druidismo de
uma forma mais realista do que fantástica e fazem transparecer os valores da
autora.
O estilo de escrita utilizado pela autora continua
a ser muito característico da autora. As palavras possuem uma beleza e mistério
particular, o leitor é embalado para uma história que faz lembrar os contos
tradicionais mais belos. É fácil entrar neste mundo e mais ainda de perceber as
motivações e sentimentos das personagens. A autora, que gosta de se apresentar como contadora de histórias, continua a dar provas de que
este género é a sua casa, e nós, leitores, somos sempre bem acolhidos neste
espaço tão familiar e, curiosamente, irresistível.
A trilogia Shadowfell continua a dar provas do talento de
Juliet Marillier. História mais simples do que aquelas que são constantemente
exaltadas como as mais bem conseguidas da autora, é, no entanto, eficaz em
transportar o leitor para um mundo de onde não apetece sair. Leitura muito
agradável, com muitas revelações, momentos de encantar e perigos, que faz
ansiar pela conclusão desta saga.
Outras opiniões a livros de Juliet Marillier:
A Filha da Floresta (Sevenwaters #1)
O Filho das Sombras (Sevenwaters #2)
A Filha da Profecia (Sevenwaters #3)
A Vidente de Sevenwaters (Sevenwaters #5)
A Chama de Sevenwaters (Sevenwaters #6)
Sangue-do-Coração
Shadowfell (Shadowfell #1)
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