quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Opinião: Cinder (Crónicas Lunares #1)



Título Original: Cinder (2012)
Autor: Marissa Meyer
Tradução: Victor Antunes
ISBN: 9789896573270
Editora: Planeta (2012)

Sinopse:

Com dezasseis anos, Cinder é considerada pela sociedade como um erro tecnológico. Para a madrasta, é um fardo. No entanto, ser cyborg também tem algumas vantagens: as suas ligações cerebrais conferem-lhe uma prodigiosa capacidade para reparar aparelhos (autómatos, planadores, as suas partes defeituosas) e fazem dela a melhor especialista em mecânica de Nova Pequim. É esta reputação que leva o príncipe Kai a abordá-la na oficina onde trabalha, para que lhe repare um andróide antes do baile anual.
Em tom de gracejo, o príncipe diz tratar-se de «um caso de segurança nacional», mas Cinder desconfia que o assunto é mais sério do que dá a entender.
Ansiosa por impressionar o príncipe, as intenções de Cinder são transtornadas quando a irmã mais nova, e sua única amiga humana, é contagiada pela peste fatal que há uma década devasta a Terra. A madrasta de Cinder atribui-lhe a culpa da doença da filha e oferece o corpo da enteada como cobaia para as investigações clínicas relacionadas com a praga, uma «honra» à qual ninguém até então sobreviveu. Mas os cientistas não tardam a descobrir que a nova cobaia apresenta características que a tornam única. Uma particularidade pela qual há quem esteja disposto a matar.

Opinião:

Os contos tradicionais servem muitas vezes de base e de inspiração para diferentes autores. É comum reler novas versões destas histórias, mas Marissa Meyer quis ir um pouco mais além. A autora pegou na famosa Cinderela e inseriu-a num futuro distópico. Cinder é o novo nome desta protagonista, e, em vez da magia da fada madrinha para a ajudar, ela usa a mecânica e o seu intelecto para lutar pelos seus direitos. Afinal, para além de especialista em tecnologia também é um cyborg.

Cinder é uma personagem que cativa. É bondosa e trabalhadora, tal como Cinderela sempre foi representada, mas também tem garra, um temperamento forte, muitas vezes confronta a sua tutora (ou madrasta) e guarda segredos perigosos. Características que promovem empatia e que fazem que me fizeram querer vê-la a alcançar a felicidade.

O desenrolar dos acontecimentos é entusiasmante e agarra a leitura. É possível verificar que a base da história está ligada ao conto tradicional, mas isso é algo subtil. Sim, existe o desejo de ir ao baile do príncipe, as discussões com a madrasta sobre esse tema, a proibição de ir à festa e a entrada às escondidas no palácio. É possível perceber que esses momentos são incontornáveis, mas existem inúmeras revelações interessantes e que não permitem a existência do aborrecimento inerente à leitura de algo que é repetido.

É possível observar que a sociedade onde esta história está inserida apresenta uma mistura entre cultura ocidental e oriental. Afinal, a cidade da ação chama-se Nova Pequim, remetendo a narrativa para uma China do futuro. Ao início, isto pode parecer um pouco confuso, afinal Cinderela é um conto tradicional europeu, mas com o avançar da leitura, isso deixa de causar estranheza.

A autora criou ainda a letumosis, uma doença e praga que está a colocar em risco a vida humana. A existência deste mal é também um motor fundamental para a trama. Todos os esforços são direcionados para a descoberta da cura, o que leva Cinder a sofrer e a passar por um processo que proporciona novas e interessantes descobertas que provocam dúvidas na protagonista e que dão uma maior complexidade à trama do que aquela que era esperada.

Tal como Cinderela é uma história romântica, também existe romance em Cinder. O principe encantador é  o sonho de todas as raparigas, e é curioso ver a forma como a protagonista também se sente arrebatada por este jovem mas sem o conseguir admitir a si própria. Isto acontece devido à falta de autoestima, pois para além de pobre, Cinder é ainda um cyborg, o que a leva a ser considerada pelos seus pares como inferior e até repugnante. Ela detesta esse seu lado, mas com o tempo percebe que existem algumas vantagens em ser o que é.

A exploração da protagonista enquanto cyborg está bem conseguida, uma vez que existem inúmeras dúvidas sobre os limites da sua humanidade. O seu corpo enquanto máquina revela-se uma surpresa em diversos momentos e a autora conseguiu adequar este facto com os elementos tradicionais do conto popular, o que é bastante agradável.

Cinder é um livro que é lido rapidamente. Leve e de linguagem acessível, faz as delícias dos fãs de distopias destinadas a um público jovem-adulto e de histórias de encantar, apesar da forte previsibilidade. Primeiro volume das Crónicas Lunares, faz ansiar por continuação. Recomendo.

2 comentários:

Anónimo disse...

Ainda bem que fizeste esta crítica! Já estive várias vezes para pegar no livro e acabei por nunca fazê-lo, porque me parecia desinteressante. Todavia, a tua opinião trouxe-me curiosidade. Qualquer dia, leio :)
Boa leituras! Beijinhos*

Cláudia disse...

Eu também estava hesitante mas acabei por gostar imenso. Sente-se a história da Cinderela mas de uma forma completamente diferente e aliciante. Espero que quando pegares nele sintas o mesmo que eu D.*