quarta-feira, 26 de junho de 2013

Opinião: Atlas das Nuvens

Título original: Cloud Atlas (2004)
Autor: David Mitchell
Tradutor: Helena Ramos e Artur Ramos
ISBN: 9789722349161
Editora: Editorial Presença (2012)

Sinopse:

Seis vidas entrecruzadas – uma aventura extraordinária. Numa narrativa que dá a volta ao mundo e se estende desde o século XIX até a um futuro pós-apocalíptico, David Mitchell derruba as fronteiras do tempo, dos géneros literários e da linguagem para nos proporcionar uma visão arrebatadora da perigosa ânsia da humanidade pelo poder e até onde ela nos pode levar.

Opinião:

Atlas das Nuvens é uma obra surpreendente. David Mitchell interligada seis histórias que, apesar de serem passadas em locais e épocas distintas, se encontram intimamente interligadas.

O autor inicia a sua obra através de passagens do diário de Adam Ewing, um homem americano que se viu forçado a navegar pelo Oceano Pacifico em 1850. Seguem-se as cartas de Robert Frobisher, um jovem compositor inglês deserdado, a Rufus Sixsmith, em 1931. Visitamos os Estados Unidos da América na década de 1970 graças à jornalista Luisa Rey. Conhecemos uma história mais atual com Timothy Cavendish, um editor de idade avançada que foge dos seus credores. Sonmi~45, uma servidora geneticamente modificada que habita uma Coreia futurista. Por fim, descobrimos um futuro apocalíptico através de Zachary, um ilhéu do Pacífico que assiste ao fim do mundo civilizado.

As histórias são apresentadas por ordem cronológica ascendente e, chegada à última, apresenta as conclusões de forma descendente. É formidável observar que as seis tramas possuem estilos de escrita bastante distintos, com linguagem adaptada ao tempo em que é narrada e à personagem central. Destaque ainda para o facto de o autor ter optado por utilizar métodos distintos e, assim sendo, o leitor tem acesso a passagens de um diário, cartas, narração na terceira pessoa, narração na primeira pessoa, entrevista e, por fim, uma tentativa interessante de passar a linguagem oral para a escrita, por esta ordem respectivamente. A escolha destes métodos está muito ligada às tramas cujas temáticas variam entre romance, história, a policial e ficção científica, e assentam que nem uma luva a cada uma.

O leitor fica maravilhado pela forma subtil como todas as tramas se juntam, como todas transmitem a mesma mensagem, apesar de utilizarem formas diferentes. O autor mostra como existem certas características que são sempre comuns ao ser humano, por mais que o tempo passe e por mais que a ciência e o conhecimento evoluam. Ganância, ansia de poder, desprezo pelos outros e egoísmo são uma constante, mas também o altruísmo e a vontade de fazer mudança. São estes valores que fazem o mundo avançar, esta necessidade dos mais fortes e poderosos explorarem os mais fracos, independentemente do resultado final que é obtido. O autor chega mesmo a mencionar, em certas ocasiões o mito do eterno retorno.

Existe também a questão de se as diferentes tramas poderão estar relacionadas com a reencarnação. David Mitchell revela algumas pistas neste sentido, mas sem nunca dar certezas sobre se tal realmente é verdade. Contudo, é interessante ver como personagens e diferentes histórias partilham certas características.

No final, o leitor percebe que mais do que um momento de lazer, este livro proporcionou uma profunda reflexão. David Mitchell mostra que todos somos agentes de mudança e que as nossas convicções podem fazer a diferença, tal como aconteceu nestas seis deliciosas tramas. Atlas das Nuvens revela-se uma leitura profunda, rica e dotada de particularidades fantásticas. É sem dúvida um livro que prende a leitura e não sai da mente do leitor.

Ver mais informação sobre este livro aqui.

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