quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Opinião: Matadouro Cinco

Autor: Kurt Vonnegut
Título Original: Slaughterhouse-Five (1969)
Tradução: Rosa Amorim
ISBN: 9789722523271
Editora: Bertrand Editora (2011)

Kurt Vonnegut, formado em química e antropologia, combateu na Segunda Guerra Mundial – era batedor da infantaria americana. Foi feito prisioneiro de guerra e assistiu ao bombardeamento da cidade alemã Dresden. Quando voltou, ficou com a vontade de escrever um livro anti-guerra com base na sua experiência. Esta tarefa revelou-se mais complicada do que julgava.

"Matadouro Cinco" surge no final da década de 60 do século XX. Ao contrário do que poderia parecer, não apresenta uma narrativa fria e crua, nem é um romance repleto de heróis e vilões. Esta é uma trama, cheio de saltos no tempo, humor negro, ironias e discos voadores. Confusos?



Sinopse:

Billy Pilgrim, um jovem norte-americano, é chamado para combater contra as potências do eixo na Europa. Contudo, Pilgrim possui algumas particularidades: é um homem volúvel no tempo e, quando foi raptado pelos habitantes do planeta Tralfamadore, aprendeu uma percepção de vida diferente da humana. Deste modo, Pilgrim aceita as situações porque passa de forma estóica, uma vez que compreende que estas são inevitáveis e não podem ser alteradas. Ao mesmo tempo, é-lhe possível viajar através do tempo e do espaço.


Opinião:

Com uma linguagem simples repleta de humor negro e ironias, Vonnegut apresente um livro maravilhoso, que tem o bombardeamento de Dresden como pano de fundo. O autor demonstra o horror da guerra de uma forma que tanto choca como provoca gargalhadas, deixando um sentimento misto que faz com que o leitor encontre momentos de diversão que interpelam e incomodam.

As personagens são complexas e profundas, dotadas de personalidades marcantes originadas pelas suas histórias de vida, o que leva o leitor a pensar se não serão baseadas em pessoas que o autor realmente conheceu e que sofreram todos os horrores descritos.

É bastante curioso ver a repetição da frase “e é assim”, sempre que é narrada a morte de alguém (ou algo), o que reforça a ideia de que a morte é algo inevitável e natural. Esta repetição, dá força à morte que ocorreu. Faz com que o leitor tenha uma maior atenção a estas situações e tenha percepção das vidas que se perdem a cada momento. Inicialmente, a repetição pode ser tida como humorística, mas com o decorrer da narrativa, vai ganhando um peso cada vez maior, podendo tornar-se incómoda, pois remete para o fim da vida e para a crueldade humana.

Outra questão que surge nesta obra é a ironia da própria vida. Enquanto, por exemplo, a personagem principal volta para casa com diamantes de grande valor, um outro soldado capaz de actos heróicos, é morto quando apanhado com um bule que não lhe pertence (isto não é nenhum spoiler, o próprio autor fala do assunto logo no início do seu livro).  A narrativa abrange ainda a própria decadência humana e a acomodação das relações.

Tal como o autor promete, "Matadouro Cinco" é uma obra que se apresenta anti-guerra, cujos acontecimentos de batalha são baseados na sua própria experiência, o que tornam a escrita mais poderosa, apesar do estilo de Kurt Vonnegut poder não o sugerir no começo.

Um livro que marca e que faz crescer a vontade de conhecer mais trabalhos do autor.

Sem comentários: